quinta-feira, maio 01, 2008

Jesus: um revolucionário?

A figura de Jesus Cristo é uma das mais intrigantes, questionadas e controvertidas de todos os tempos. Mesmo outros nomes da história universal como Sócrates, Platão, Maomé ou Buda dificilmente conseguiram produzir o mesmo nível de comentários que gira em torno de Jesus Cristo. No mundo ocidental, certamente trata-se da personalidade mais comentada e que é objeto de milhares de trabalhos, pesquisas, teses, estudos, sermões e dissertações produzidos.

Sem dúvida alguma, a maior parte dos registros sobre Jesus Cristo está na Bíblia Sagrada, mas há menções feitas por historiadores e estudiosos judeus e não-judeus. A Bíblia, como se sabe, foi escrita em um período de aproximadamente 1.600 anos por cerca de 40 autores em períodos completamente diferentes. Um dos textos mais conhecidos e citados sobre a existência de Jesus, fora da Bíblia, no entanto, está no livro História dos Hebreus, Antiguidades Judaicas, escrito pelo historiador Flávio Josefo que viveu no primeiro século da era cristã. Ele afirmou, conforme tradução mais aceita e extraída do árabe, o seguinte: “Por esse tempo surgiu Jesus, homem sábio (se é que na realidade se pode chamar homem). Pois ele era obrador de feitos extraordinários e mestre dos homens que aceitam alegremente a verdade, que arrastou após si muitos judeus e muitos gregos. Ele era considerado o Messias.”[1]

Essa visão de Josefo sobre Jesus, como um revolucionário de sua época e subversivo, é compartilhada de certa forma por outros historiadores e pessoas que contaram a história daquela época. Os próprios cristãos eram considerados, especialmente pelos dominadores romanos, como meros seguidores de mais uma seita inventada nas províncias. Ou seja, para os defensores dessa idéia, Jesus Cristo existiu, mas não passou de um revolucionário e agitador social que acabou sendo crucificado por insubordinação ao poder romano e por incomodar a liderança judaica.

Mas será que podemos crer nisso, considerando a principal fonte de informações sobre Cristo, a Bíblia Sagrada? Jesus não foi um “Che Guevara” de seu tempo e quem nos diz isso são os evangelistas.

Em primeiro lugar, conforme Mateus escreveu, no capítulo 22 e versículos 15 até 22, Jesus foi um cumpridor da legislação vigente que tratava do pagamento dos tributos. Não foi um sonegador de impostos nem um defensor da desobediência civil como alguns sugerem. Porque o princípio da desobediência civil, segundo um de seus idealizadores o teórico Henry Thoreau, está na máxima de que “o melhor governo é o que absolutamente não governa”.[2] Jesus certamente não compartilhava dessa ideologia, pois não se colocou em oposição ao governo romano ou à liderança do Sinédrio que reunia as principais autoridades judaicas.

Tampouco podemos deduzir que Jesus tenha incentivado qualquer golpe contra Roma visto sua posição firme em declarar a espiritualidade de Sua atuação. Conforme relato de Lucas, capítulo 17 e versículo 20, Ele mesmo afirmou: “O reino de Deus não vem com aparência visível.” E perante Pilatos, de acordo com o registro de João no capítulo 18 e versículo 36, reafirma: “O Meu reino não é deste mundo. Se fosse, os Meus súditos combateriam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas agora o Meu reino não é daqui”.

Por fim, Jesus não motivou seus discípulos a lutarem de maneira carnal contra os inimigos, pois pregou a paz (João 14:27), o amor (Mateus 5:44), o perdão (Marcos 2:7, Lucas 23:34) e a humildade (Mateus 18:4, Lucas 18:14). Em vez de estimular a batalha campal com armas, incentivou a oração, o jejum e o estudo da Palavra de Deus.

Respondendo à indagação inicial do título, Jesus não foi um revolucionário a seu tempo no sentido como conhecemos hoje. Sua revolução, podemos assim dizer, foi relacionada à transformação das vidas mediante a ação divina. Realmente Cristo levou liberdade aos cativos, mas no aspecto espiritual e fundamentada na verdade revelada por Deus.

“E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8:32

[1] Citado em SILVA, Rodrigo. A Arqueologia e Jesus, p. 98.

[2] THOREAU, Henry. Desobediência Civil, p. 05.

Felipe Lemos, jornalista em Florianópolis e colaborador da Revista Adventista (texto publicado com autorização).