Na revista Veja desta semana (23/11/05) há uma matéria intitulada “A natureza fez primeiro”. Nela, a jornalista Thereza Venturoli mostra como o ser humano vem imitando a natureza ao reproduzir “milagres tecnológicos” que facilitam a vida dos seres vivos.
Venturoli afirma que “a natureza sempre foi fonte de inspiração para os inventores. Não é para menos: em 3,5 bilhões de anos de evolução na Terra, os animais e as plantas desenvolveram sistemas vitais que desafiam a imaginação dos cientistas”.
Parece contraditório que seres vivos tenham desenvolvido sistemas “que desafiam a imaginação dos cientistas”, sem que tenha havido um projeto prévio...
Como exemplos desses sistemas, a jornalista menciona os mexilhões, a proteína resilina, o sistema de navegação do gafanhoto, o design do peixe-cofre e os micropelos das patas da lagartixa.
Os mexilhões grudam-se às rochas com um adesivo superforte, capaz de resistir às ondas violentas e às correntes marítimas. Nunca se conseguiu criar em laboratório uma cola tão eficiente, embora os pesquisadores estejam trabalhando arduamente nessa direção. “Assim”, continua Venturoli, “cada vez mais a ciência utiliza lições da natureza para encontrar soluções tecnológicas”.
A resilina é a proteína mais elástica que se conhece e é graças a ela que as pulgas, que medem menos de 2 milímetros, conseguem dar saltos de até 30 centímetros (proporcionalmente, você seria capaz de saltar sobre a Torre Eiffel). É a resilina que também permite que os insetos batam as asas a grande velocidade mais de 500 milhões de vezes ao longo da vida sem que suas articulações apresentem desgaste ou fadiga. Imagine as aplicações de uma substância como essa! Por isso mesmo, muito se tem investido em sua sintetização, por meio da engenharia genética. Mas Venturoli diz que “não é só por meio da genética que a sabedoria da natureza [!] é aproveitada na tecnologia. A indústria sueca Volvo está construindo um novo protótipo de automóvel com sistema de navegação que se baseia na habilidade dos gafanhotos de voar em grandes enxames sem esbarrar uns nos outros. Os gafanhotos são dotados de um neurônio especial que os alerta sobre os obstáculos e os faz empreender manobras no ar em apenas 45 milésimos de segundo”.
Finalmente, depois de comentar que a imitação do design do peixe-cofre possibilitou a economia de até 20 por cento de combustível num carro da Mercedez-Benz, a matéria informa que os micropelos existentes nas patas da lagartixa podem ajudar na exploração de outros planetas, já que as lagartixas conseguem ficar grudadas nas paredes e no teto por uma atração entre as moléculas chamada força de Van der Waals. Esse tipo de tecnologia possibilitaria às sondas escalar rampas íngremes ou entrar em crateras de vulcões.
A matéria é interessante e instrutiva. Mas por que insistir na “sabedoria da natureza”, uma vez que se sabe que essa proposta darwinista parte do pressuposto de que não houve planejamento e intencionalidade na criação dos seres vivos? Os cientistas, para copiar a natureza, têm que gastar horas e muito dinheiro em projetos, mas a natureza pode criar a tecnologia original simplesmente por mutações casuais e seleção natural? É difícil de acreditar nisso, ainda que se dê “de lambuja” bilhões de anos para essa suposta evolução. Creio que, ainda que se concedessem bilhões de anos, uma proteína como a resilina não surgiria casualmente num laboratório, sem a interferência de um agente inteligente. E mais, como esses seres vivos poderiam ter sobrevivido num mundo extremamente competitivo sem poderem contar, desde o início, com a existência dos sistemas complexos que lhes garantem a vida? Ou esses sistemas (os mencionados na matéria de Veja e inúmeros outros) existiram desde o início, ou jamais haveria tempo para que se desenvolvessem.
Por que essa resistência em se aceitar o “design inteligente” na natureza? Seria miopia?
Michelson Borges
** MILAGRE PRODIGIOSO
“Quem contemplar o olho de uma mosca comum, a mecânica dos movimentos de um dedo humano, a camuflagem da traça, ou a formação de qualquer tipo de matéria, de acordo com as variações no arranjo dos prótons e elétrons, e afirmar então que tudo isso aconteceu por acaso, ou simples acidente, sem um planejador – acredita num milagre muito mais prodigioso do que aqueles que são relatados na Bíblia. Considerar o homem, com sua perícia e aspirações, com seus conceitos de si mesmo e do Universo, com suas emoções e moral, com sua capacidade para conceber uma idéia tão grandiosa como a de Deus, considerar essa criatura meramente uma forma de vida um pouco mais elevada do que as outras na escala evolutiva, é suscitar questões mais profundas do que aquilo que foi respondido.”
(D. R. Klein. “Há um Substituto para Deus ?”, Reader’s Digest, março de 1970, pág. 55.)
** O PIANISTA CÓSMICO
“Imagine uma família de camundongos que tenha vivido toda sua vida em um grande piano. A eles, no mundo de seu piano, vinha a música do instrumento, enchendo todos os lugares escuros com som e harmonia. Primeiramente os camundongos ficaram impressionados. Eles extraíam conforto e admiração do pensamento de que havia Alguém que produzia tal música – embora invisível a eles – acima, contudo, perto deles. Eles gostavam de pensar no Grande Pianista que eles não podiam ver.
“Então, um dia, um destemido camundongo resolveu subir na parte superior do piano e retornou cheio de idéias. Ele tinha descoberto como a música era produzida. As cordas eram o segredo – cordas firmemente esticadas com tamanhos graduados, as quais tremiam e vibravam. Eles deviam agora fazer uma revisão de suas velhas crenças; ninguém, a não ser os mais conservadores, poderia crer mais no Pianista Invisível.
“Mais tarde, outro explorador conduziu a explicação mais adiante. Martelos eram agora o segredo, um número de martelos dançando e saltando sobre as cordas. Esta era uma teoria um pouco mais complicada, mas tudo demonstrava que eles viviam em um mundo puramente mecânico e matemático. O Pianista Invisível passou a ser considerado um mito.
“Mas o Pianista continuou a tocar.”
(Extraído da revista Diálogo Universitário, publicação internacional para universitários adventistas do sétimo dia, edição 5:1/1993, pág. 25.)