sábado, maio 03, 2008

Abiogênese: uma teoria em crise (parte 3)

Quando se calcula exatamente quantas moléculas poderiam ser formadas sob condições ideais, desaparecem as probabilidades de que o tal "oceano primitivo" tenha existido. H. E. Hull (1960), L. G. Sillen (1965) e R. Shapiro (1986) concluíram que o termo “diluída” é um enorme exagero, e que a quantidade de aminoácidos presentes não poderia ultrapassar 0,0001 grama/litro. Essa concentração seria muito baixa para a ocorrência das reações poliméricas necessárias para produzir proteínas. H. R. Hullet (1969) considerou que a concentração de glicina, o aminoácido mais abundante, seria ainda mais baixa: 0,000001 g/l e K. Dose sugeriu que essa concentração seria 0,00001 g/l. As concentrações atuais na parte central do Oceano Atlântico variam entre 0,00001 e 0,0001 g/l. Se a síntese de pequenas moléculas a partir da atmosfera realmente ocorreu na “Terra primitiva”, então, deveriam ter sido produzidas grandes quantidades de resíduos de alcatrão, pois ele surgiu nos recipientes experimentais. Assim, na “Terra primitiva” devem ter sido produzidas grandes quantidades de material não-biológico nitrogenado denominado alcatrão, que teria sido incorporado aos sedimentos do pré-cambriano. Não se conhece tal material no registro geológico. Desse modo, novamente podemos concluir que não temos evidência de que a “sopa orgânica diluída” tenha existido. O que permite que essa idéia ainda persista é, sem dúvida, o grande desejo de alguns.

Sagan e M. J. Newman foram tão longe a ponto de declarar: “A ausência de evidência não é evidência de ausência.” Para quem crê que a vida não poderia ter-se originado de uma “sopa orgânica diluída”, tais afirmações bastante irracionais, feitas por Sagan e Newman, reforçam a convicção de que, neste ponto, eles estavam errados.

Mesmo assim demos aos defensores da abiogênese outra chance. Admitamos a existência de um oceano cheio de pequenas moléculas e vejamos o que podemos fazer com ele.

** O SURGIMENTO DE BIOPOLÍMEROS

A síntese de proteínas e ácidos nucleicos a partir de pequenas moléculas precursoras representa um dos desafios mais difíceis ao modelo da evolução pré-biológica. Os evolucionistas mesmos admitem: “O grande mistério está em como, no início da vida, as moléculas de ácidos nucleicos teriam tomado o controle da síntese de proteínas específicas, que fossem significativas para a sobrevivência da célula. Este é um verdadeiro ‘buraco negro’ nessa discussão, já que não há sequer hipóteses razoáveis a respeito desse problema.” – Cesar e Sezar. Biologia, vol.1, pág.250, Ed. Saraiva.

Na verdade, todas as propostas existentes apresentam muitos problemas. A polimerização é uma reação na qual a água é um dos produtos (ou subproduto). Ela só será então favorecida na ausência de água. A presença de precursores em um oceano de água favorece a despolimerização de quaisquer moléculas que possam ser formadas. Experimentos cuidadosos, feitos em solução aquosa com altas concentrações de aminoácidos, demonstram a impossibilidade da ocorrência de polimerização significativa nesse ambiente. A análise termodinâmica de uma mistura de proteína e aminoácidos em um oceano contendo uma solução 1 molar de cada aminoácido (concentração esta 100 milhões de vezes superior à que se supõe ter existido no oceano pré-biológico), indica que a concentração de proteínas contendo apenas 100 ligações peptídicas (101 aminoácidos) no equilíbrio seria 10 elevado a -338 molar.

Apenas para tornar esse número compreensível, nosso Universo deve ter um volume próximo a 10 elevado a 85 litros. A 10 elavado a -338 molar, precisaríamos de um oceano com volume igual a 10 elevado a 229 universos, só para encontrar uma única molécula de qualquer proteína com 100 ligações peptídicas! Assim, precisamos procurar outro mecanismo para produzir polímeros. Este não acontecerá no oceano.

“Mas” – alguns perguntariam – “as experiências feitas em laboratório não comprovam essa teoria?” Muitos desses estudos foram planejados para se obter um resultado desejado e não para testar as condições que os próprios pesquisadores acreditavam estar presentes na “Terra pré-biológica”. Porém, os resultados são usados para reforçar a validade da “Terra abiótica” que eles não testaram. Mesmo os que procuraram trabalhar com condições abióticas não conseguem impedir a influência do pesquisador. Após uma revisão cuidadosa do cenário da pesquisa abiogênica, J. Brooks e G. Shaw (1973) concluíram: “Estes experimentos ... reivindicam síntese abiótica para o que de fato foi produzido e planejado por homens muito inteligentes e bastante bióticos.”

Esse tipo de franqueza é agradável e honesta, embora bastante atrasada. (Continua)