sexta-feira, maio 02, 2008

A big incerteza

A revista Galileu deste mês (novembro) traz matéria de capa que apresenta idéias alternativas à famosa teoria do Big Bang, segundo a qual o Universo teria surgido de uma explosão ocorrida há 13,7 bilhões de anos e estaria em expansão desde então. O programa Fantástico, em seu quadro Poeira das Estrelas (cujo último episódio foi ao ar no domingo passado), deu a entender que o Big Bang é unanimidade no meio científico. Galileu mostra que as coisas não são bem assim. E aí a gente vê como a mídia muitas vezes se contradiz e desinforma, quando o assunto é ciência.

Em 1988, descobriu-se que a tal expansão do Universo “esteve se tornando mais rápida nos últimos bilhões de anos”. Segundo a reportagem de Galileu, essa descoberta pegou todos com a guarda baixa. Sem nenhuma hipótese pronta, os cosmólogos atribuíram o efeito à ação de um elemento desconhecido que batizaram de energia escura. “A inflação foi algo que acrescentamos ao Big Bang para solucionar problemas que ele não explicava”, diz o professor Paul Steinhardt, da Universidade de Princeton. “Ter de acrescentar ao quadro a energia escura, que não tínhamos razão para imaginar que existia, foi muito surpreendente. Fez-me pensar que talvez estivéssemos numa rota totalmente errada.”

Essa inclusão de elementos imaginários para explicar anomalias numa teoria me fez lembrar do lendário éter luminífero, que o meu xará Albert Michelson provou ser pura lenda científica, mas que, a despeito de não existirem evidências de sua - do éter - existência, foi aceito por cientistas por algum tempo. As palavras de Steinhardt também me fazem pensar em como grandes cientistas colocam fé em suposições, uma vez que essas se ajustem às suas teorias previamente formuladas.

Uma das teorias alternativas ao Big Bang é a do universo multidimensional. Segundo essa concepção, o cosmos seria uma estrutura dentro de um espaço maior, com pelo menos dez dimensões (também sem qualquer evidência real). E tem mais: o norte-americano Burt Ovrut sugeriu a hipótese de que duas dessas estruturas teriam colidido. A hipótese elaborada por ele e outros pesquisadores deu origem ao modelo ekpirótico, que significa “nascido do fogo”. Apesar do “fogo”, esse modelo nada tem que ver com a grande explosão. “No Big Bang você tem um universo que é criado do nada. Isso é algo que eu nunca entendi”, afirma Ovrut. “No modelo ekpirótico temos um universo que pré-existe ao nosso. Nele, periodicamente há colisões, mas o tempo e o espaço sempre existiram. É mais simples”, diz.

Mais simples? Só porque Ovrut não consegue entender a criação a partir do nada? Como mais simples? E qual seria a resposta para a pergunta: “De onde surgiu a primeira matéria ou mesmo as primeiras partículas (ou primeira qualquer coisa)?” Se espaço, tempo e matéria são eternos, o que fazer com a primeira e a segunda leis da Termodinâmica? Que milagre é esse que faz com que a energia se torne sempre e sempre disponível? Não existe entropia nesse universo?

Galileu explica que esse “universo cíclico” (como ficou conhecido depois o modelo ekpirótico) é eterno e se compõe de estruturas chamadas branas, que seriam subespaços de três dimensões. Nós estaríamos vivendo em uma dessas branas. As outras seriam invisíveis. Segundo essa versão aparentemente saída de um filme de ficção científica, em algum momento no passado, duas dessas tais branas teriam colidido e liberado gigantescas quantidades de energia, o que teria originado nosso Universo. É muita viagem? Também acho. Mas há gente graúda no meio científico que gasta tempo com isso (o próprio físico Stephen Hawking dedica bom espaço em seu livro O Universo Numa Casca de Noz para descrever essa idéia).

Outra teoria alternativa é a “cosmologia do plasma”, segunda a qual o espaço e o tempo também sempre teriam existido. A descrição começa com um plasma – isto é, um gás eletricamente carregado – que possuía quantidades iguais de matéria e antimatéria.

Notou que essas teorias sempre começam de algo sem explicar de onde veio esse algo?

Mas por que essas teorias alternativas não têm a força do Big Bang? A resposta, segundo alguns pesquisadores, é a perseguição política. Segundo Galileu, em 2004, o físico Eric Lerner publicou um manifesto, com 33 nomes, queixando-se de que a totalidade dos fundos de pesquisa na área vai para pesquisadores que queiram trabalhar com o modelo do Big Bang. Os adeptos de visões alternativas seriam boicotados.

Foi inevitável não pensar em outro boicote, quando li a respeito dessa queixa. Por que só existem verbas para a pesquisa no campo da biologia se o paradigma adotado for o darwinismo? Por que a teoria do design inteligente, por mais científicos que sejam os argumentos apresentados, sempre é boicotada pela maioria dos pesquisadores, mesmo não tendo eles respostas conclusivas para a origem da vida?

O criador da teoria alternativa “cosmologia do plasma”, o sueco Hannes Alfvén (prêmio Nobel de física em 1970), é contrário à idéia de tentar imaginar cenários teóricos sobre o passado do Universo, argumentando que isso é anticientífico. Nisso, estou com ele e não abro. Só não sei por que experiências já desacreditadas, como a de Urey-Miller (veja detalhes aqui), ainda permanecem nos livros-texto de biologia. É o típico caso de cenário teórico imaginário que tenta validar uma teoria também imaginária...

Galileu informa ainda que o mais tradicional opositor do Big Bang no Brasil é o cosmólogo Mário Novello, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Em seu mais recente livro, O Que É Cosmologia?, ele chega a afirmar que “o Big Bang é mais uma ideologia do que uma teoria científica”, invocando – mais uma vez – a questão da política acadêmica como explicação para o alto prestígio de que a teoria desfruta.

Qualquer semelhança com o que ocorre no mundo darwinista não é mera coincidência.

Michelson Borges