domingo, maio 04, 2008

Darwin no Masp: distorção historiográfica

Quinze de julho foi o último dia da hágio-exposição “Darwin”, no Masp, em São Paulo, patrocinada pela Folha de S. Paulo, Instituto Sangari e o MEC, através da lei Rouanet. O convite da peça publicitária foi: “Tudo sobre o homem que descobriu tudo sobre o homem. Darwin: Descubra o homem e a teoria que revolucionou o mundo.”

Sem dúvida, foi uma belíssima exposição, mas eivada de distorções históricas sobre o homem que, segundo a peça publicitária, descobriu tudo sobre o homem. Nada mais falso. A exposição “Darwin” no MASP foi mais aula de catecismo secularista, de inexatidões históricas, e pouca ciência.

No dia 4 de julho eu fui à exposição. Uma amostra que exibiu 400 objetos e manuscritos de Charles Darwin: artefatos, réplicas de esqueletos e fósseis, documentos (cerca de cem manuscritos), e murais infográficos. O visitante também pôde assistir a filmes e vídeos interativos (destaque para tartarugas, iguanas e orquídeas). Foi tarefa para, pelo menos, quatro horas.

A amostra foi a mesma exposta no Museu Americano de História Natural de Nova York, em novembro de 2005, cujo curador foi ninguém menos do que Niles Eldredge (junto com Stephen Jay Gould, ele elaborou teoria evolucionista contrária ao gradualismo de Darwin: o equilíbrio pontuado). Seguirá para o Chile e, depois, pelo mundo até chegar ao Museu de História Natural de Londres, em 2009. Mostraram uma remontagem do estúdio na Down House, a 25 km de Londres, onde Darwin se refugiou em 1842 para escrever A Origem das Espécies.

A impressão que tive foi: tendo em vista quase duas décadas de críticas à teoria geral da evolução, especialmente pela turma do Design Inteligente, a exposição foi direcionada especialmente para os estudantes do ensino fundamental e médio, e o público não especializado, para convencê-los do fato, Fato, FATO da evolução.

A presença de monitores “doutrinando” a galera infanto-juvenil sobre Darwin deixou bem evidente esse objetivo “doutrinário”, epa, “educacional” [obrigado Diogo Mainardi, Veja, eu também sou da turma do EPA, e não do ÔBA!]. Além do fato que, hagiograficamente falando, Darwin em 2009 vai ter a maior romaria em termos de celebrações: culto à personalidade. É, Huxley, já não se faz mais materialista como antigamente...

Mas o que foi exposto ali no Masp? Foi uma história intelectual bem interessante ou uma escancarada hagiografia secularista sanitizada? Eu fico com a última, e passarei a explicar aqui neste espaço [blog Desafiando a Nomenklatura Científica], destacando alguns erros históricos gritantes em textos subseqüentes.

Interessante, estudiosos da área ainda não se manifestaram. A Nomenklatura científica e a Grande Mídia tupiniquins, então — silêncio pétreo. Não é para menos, quem ousaria “tocar” num ídolo da ciência?

Os ídolos, ora, os ídolos foram feitos para a destruição. Quem será o Finéias de Darwin-ídolo em Pindorama?

(Enézio de Almeida Filho, no blog Desafiando a Nomenklatura Científica)