sexta-feira, maio 02, 2008

Darwinismo: religião?

O blog Flor de Obsessão, de Norma Braga, é um daqueles endereços que mostram que a internet ainda tem coisas que valem a pena ser lidas. Norma é formada em Letras e está terminando o segundo ano do doutorado em Literatura Francesa. Conforme ela mesma diz no blog, “há alguns anos detectei não só nas Letras, mas nas áreas de humanas em geral, um interesse ativo na destruição dos valores judaico-cristãos através de ataques à razão – um processo que se inicia com a demonização da filosofia clássica e opõe ao racionalismo de Descartes um subjetivismo não menos esquizofrênico, que a longo prazo torna seus partidários alheios à realidade e ao conhecimento do mundo”.

No dia 18 de setembro, Norma postou um relatório sobre o 2º Congresso Internacional de Ética e Cidadania, promovido pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pesquisadores e acadêmicos discutiram temas relacionados com religião e ciência, e uma das palestrantes convidadas foi Nancy Pearcey (foto acima), co-autora do ótimo livro A Alma da Ciência (Cultura Cristã). Os comentários a seguir são de Norma:

“Pearcey explicou como a rivalidade entre ciência e cristianismo é fundamentalmente um mito, evidenciando o impulso que o cristianismo deu ao pensamento científico com seus pressupostos – do qual o mais importante é a crença em uma inteligência divina por trás dos mecanismos e das estruturas existentes no mundo, o que deu a certeza ao pesquisador de que há inteligibilidade sistêmica por trás dos fenômenos. Ficamos sabendo, por exemplo, que a hostilidade da Igreja Católica à pesquisa científica foi, em grande parte, forjada por historiadores materialistas comprometidos em derrubar o cristianismo, e que a distorção que praticaram tem sido amplamente reconhecida por pesquisadores sérios. Pearcey recomendou o filósofo Alvin Plantinga, que, além de confirmar a matriz cristã para a ciência, adverte que o evolucionismo não garante as crenças mais verdadeiras e/ou verossímeis (Warrant and Proper Function) e condena o que chama de ‘liberal duplipensar’ (Darwin, Mind and Meaning). A autora mostrou ainda na tela uma impressionante lista dos grandes cientistas de todos os tempos: ao contrário do que poderíamos imaginar, a esmagadora maioria se confessa cristã ou simpatizante ao cristianismo, com um ou dois ateus ou agnósticos.

“Pearcey ressaltou sobretudo as conseqüências nefastas do darwinismo para as ciências humanas, doutrina que trata o homem como produto aleatório da evolução e exalta, por isso, o pragmatismo das decisões da natureza, que elege ‘aquilo que funciona’. Foi especialmente chocante e triste ter conferido até onde esse pensamento pode nos levar: John Gray, filósofo britânico, fala com desdém na ‘idéia de dignidade humana que vem com o cristianismo’, e o infanticídio é defendido por Peter Singer como uma extensão lógica do aborto (viram no que dá apoiar esse negócio?!). Ainda há um livro importante que correlaciona darwinismo e fascismo: Modern Fascism: the Liquidation of the Judeo-Christian Worldview, por Gene Edward Veith, autor cristão. [...]

“Por fim, acompanhamos com Pearcey a fraude do darwinismo, cujas principais ‘provas’ – como o aumento do bico do tentilhão, as mariposas de Manchester ou os embriões de Haeckel – foram evidentes manipulações desonestas, já conhecidas em sua época, porém até hoje divulgadas e utilizadas em livros didáticos. De fato, tal tipo de coisa não difere muito daquilo que os conservadores já vêm observado há um bom tempo: a existência de uma ampla tentativa de substituir as bases judaico-cristãs da cultura ocidental por bases seculares, tal como exposto na obra The Secular Revolution, por Christian Smith, citada por ela.

“O evolucionismo parece ter se valido do mesmo impulso de Freud com relação à psicanálise: conquistar ampla aceitação por meio do carimbo da ‘cientificidade’. No entanto, Pearcey destaca que felizmente não se pode fugir da honestidade de alguns autores: um filósofo evolucionista, Michael Ruse, chocou a comunidade científica ao declarar que o Darwinismo precisa de pressupostos autofundantes – dogmas – para se afirmar, e que nesse sentido a doutrina evolucionista seria tal e qual uma religião. Conclui desta forma sua série de palestras, afirmando ousadamente que tudo aponta para o fato de que o evolucionismo não é uma ‘teoria científica’, mas apenas uma filosofia, uma explicação dos fundamentos da existência para a qual não há evidência propriamente factual ou científica. Nesse sentido, o cristianismo e o evolucionismo competiriam, segundo ela, nas mesmas bases – sendo o evolucionismo também pertencente à esfera da crença religiosa.”

Mas o que mais me impressionou foi um comentário anônimo ao texto de Norma, que reproduzo a seguir:

“Desculpem eu voltar ao Darwinismo, mas considero de suma importância para que os pais possam combater os absurdos a que seus filhos são submetidos nas escolas; que eles, pais, se mantenham atualizados com os argumentos do lado que Chesterton chamava do bom senso, ou seja, do uso da razão. Aliás, já Mark Twain advertia: ‘Não deixe que a escola interfira com a sua educação’. Quero recomendar a leitura de Darwinian Fairytales: Selfish Genes, Errors of Heredity, and Other Fables of Evolution, por David Stove (Editora Encounter, 2006, 345 págs.) [Contos darwinianos da carochinha: genes egoístas, erros de hereditariedade e outras fábulas da evolução]. Duvido que alguma editora brasileira venha a verter essa obra para a língua que Eça de Queiroz chamava ‘tumulo do pensamento humano’, pois ele considerava que aquilo que é publicado na língua portuguesa está enterrado para o resto da humanidade. David Stove (1927-1994) foi um filósofo australiano, e nessa obra ele inicia atacando a idéia Malthusiana sobre a qual Darwin edificou sua teoria da seleção natural. A seguir, ataca o conceito de Hobbes (do qual a teoria de Darwin também depende), de que a vida humana é uma guerra pela sobrevivência, de cada um contra todos os demais. Descartadas essas idéias, ou se abandona o evolucionismo darwiniano, ou se aplicam os ‘remendos’ que os darwinistas dos últimos tempos propõem. Mas esses remendos estão ainda mais divorciados da realidade que os argumentos originais de Darwin... Esses remendos são as fábulas do titulo: genes egoístas, etc. Se alguém acredita nessas fábulas, então pode acreditar no evolucionismo darwiniano e dormir tranquilamente.

“P.S.: Continuo no anonimato porque sou professor de universidade pública e tenho família para sustentar; e criticar o darwinismo em publico é suicídio acadêmico.”

Nota: Para ler mais sobre as idéias de A Alma da Ciência, clique aqui.