sexta-feira, maio 02, 2008

Dawkins (aquele do "gene egoísta") caiu do cavalo

O texto abaixo foi publicado na seção "News Feature" da revista Nature de 25 de maio de 2006. Os comentários de Enézio de Almeida Filho, coordenador do Núcleo Brasileiro de Design Inteligente, estão entre colchetes.

Genética: O que é um gene?

A idéia de genes como contas num colar de DNA está desaparecendo rapidamente.

[Atenção autores de livros-texto de Biologia, favor corrigir este aspecto científico fundamental na próxima edição em 2007. Que se dane o lucro das editoras! O que conta é o ensino objetivo da ciência.]

As seqüências de codificação de proteínas não têm um início nem fim nítidos e o RNA é uma parte importante do pacote de informação, relata Helen Pearson.

O "gene" não é um típico palavrão. Não ofende. Nunca é censurado nos programas de TV. E enquanto o significado da maioria dos palavrões seja bem claro, o significado do gene não é. Quanto mais os cientistas se especializam em genética molecular, menos fácil é ter certeza do que verdadeiramente, se qualquer coisa, é um gene.

[Dawkins, como é que fica aquela estória reducionista de "gene egoísta"?]

Rick Young, geneticista no Whitehead Institute em Cambridge, Massachusetts, disse que quando começou a lecionar como jovem professor de faculdade, duas décadas atrás, levou cerca de duas horas para ensinar aos alunos novatos o que era um gene e os aspectos simples de como funcionava.

Hoje, ele e seus colegas precisam de três meses de palestras para comunicar o conceito do gene, e isso não é porque os estudantes sejam menos brilhantes. "Leva todo um semestre para ensinar essa matéria para talentosos alunos de pós-graduação", disse Young. "Costumava ser que nós podíamos dar uma só definição e agora é muito mais complicado."

[Dawkins, e eu pensei que você tivesse dado a palavra científica final em O Gene Egoísta...]

Em genética clássica, um gene era um conceito abstrato – uma unidade de herança que transportava uma característica de pais para filhos. Quando a bioquímica se tornou ciência em seus termos, aquelas características foram associadas com enzimas ou proteínas, uma para cada gene. E com o advento da biologia molecular, os genes se tornaram coisas reais e físicas – seqüências de DNA que, quando convertidos em filamentos do tão-chamado RNA mensageiro, podem ser usadas como base para a fabricação passo a passo de sua proteína associada. As grande moléculas tipo mola helicoidal de DNA dos cromossomos eram consideradas como longos colares nos quais as seqüências gênicas ajustavam-se como discretas contas.

Esse quadro ainda é o modelo funcional para muitos cientistas. Mas os cientistas na pesquisa de ponta de genética o consideram como cada vez mais desatualizado – uma aproximação grosseira que, na melhor das hipóteses, esconde novas complexidades fascinantes e, na pior das hipóteses, cega seus usuários para novos caminhos de pesquisa úteis.

[Design Inteligente, por exemplo... Aproveito para chamar atenção dos autores de livros-texto de Biologia para acolherem isso em novas edições. Afinal de contas, a ciência não é dogmática, não é mesmo? E revisa sempre os seus erros...]

A informação, parece, é distribuída ao longo dos cromossomos de uma maneira muito mais complexa do que se supunha antes. As moléculas de RNA não são apenas conduítes passivos através dos quais a mensagem do gene flui para o mundo, mas são reguladores ativos de processos celulares. Em alguns casos, o RNA pode até passar informação por gerações – normalmente a preservação exclusiva do DNA.

Uma pesquisa surpreendente do ano passado levantou a possibilidade de que algumas plantas reescrevem o seu DNA na base de mensagens de RNA herdadas de gerações passadas [1]. Uma pesquisa na página 469 desta edição sugere que um fenômeno comparável pode ocorrer em ratos, e por implicação em outros mamíferos [2]. Se esse tipo de fenômeno for, na verdade amplo, "teria grandes implicações", disse o geneticista evolucionista Laurence Hurst na University of Bath, Grã-Bretanha.

[As grandes implicações não seriam uma iminente mudança paradigmática em biologia evolutiva???]

"Toda aquela informação desafia seriamente a nossa definição convencional de um gene", disse o biólogo molecular Bing Ren na Universidade da Califórnia, em San Diego. E o desafio da informação vai ficar ainda mais forte. Mais tarde, neste ano, uma pletora de dados serão liberados do projeto internacional Enciclopédia dos Elementos do DNA (ENCODE). A fase piloto do ENCODE envolve escrutinar aproximadamente 1% do genoma humano em detalhe inédito; o objetivo é descobrir todas as seqüências que servem a um propósito útil e explicar o que é aquele propósito [Teleologia ou vulgarmente Design Inteligente – eu não pude me conter...]. "Quando começamos o projeto ENCODE, eu tinha uma visão diferente do que era um gene", disse o pesquisador que participou do projeto, Roderic Guigo, no Centro de Regulação Genômica em Barcelona. "O grau de complexidade que nós vimos não era antecipado."

[Roderic, bastava ler A Caixa Preta de Darwin, de Michael Behe, para saber que até em "simples bactérias", que Darwin não consegue explicar pela sua teoria, existe "complexidade irredutível"...]

Sob fogo [cruzado!]

A primeira das complexidades a desafiar o paradigma da biologia molecular de uma única seqüência de DNA codificando uma única proteína foi o splicing alternativo, descoberto em vírus em 1977. Vide o artigo "Hard to track".

A maioria das seqüências de DNA descrevendo as proteínas em humanos tem um arranjo modular no qual os exons, que transportam as instruções para fabricar [Argh, isso é quase como cometer um assassinato, mas é uma linguagem teleológica – característica de design inteligente], são intercalados com introns não codificantes. No splicing alternativo, a célula "corta" os introns e "liga" os exons em diferentes ordens, criando mensagens que podem codificar diferentes proteínas. Ao longo dos anos, os geneticistas também têm documentado os chamados overlapping genes, genes dentro de genes e incontáveis arranjos estranhos [ou "A-lacuna-da-ignorância-científica"]

[vide "Muddling over genes"].

O splicing alternativo, contudo, por si mesmo não exigiu uma drástica reavaliação da noção de um gene; ele apenas demonstrou que algumas seqüências de DNA podem descrever mais do que uma proteína. O ataque atual ao conceito de gene tem muito mais alcance, impelido largamente pelas pesquisas que mostram o escopo previamente inimaginável do RNA.

[Em ciência, nada como um dia atrás do outro. Eu queria ver a cara do Dawkins e dos discípulos reducionistas... Caiu do cavalo!]

* Helen Pearson é repórter trabalhando para a revista Nature em Nova York.

(Publicado originalmente no blog Desafiando a Nomenklatura Científica. Reproduzido com autorização)