segunda-feira, maio 05, 2008

Deus está no sofrimento?

Era o ano de 1986, e a vida sorria para mim. Tudo ia bem. Meu casamento feliz, minha vida financeira em ascenção, mas, de repente, tudo mudou. O que era para ser uma simples gripe, virou um pesadelo de morte. Após uma maratona de quase um ano de idas e vindas a consultórios, laboratórios, tumografias e inumeros exames, além de várias internações, uma junta médica deu-me o veredicto: no máximo mais seis meses de vida.

Minha defesa imunológica havia chegado ao mínimo, e o organismo não conseguia defender-se de uma simples virose gripal. Meus pulmões estavam infeccionados, tomados de secreções purulentas que não me deixavam respirar direito. Tive várias paradas respiratórias (felizmente, todas dentro do hospital).

Minha esposa, um anjo que Deus colocou em minha vida, não desistia de lutar e cuidar de mim. Trabalhava o dia todo e cuidava de mim à noite. Um dia ela chegou com a notícia de que um amigo estudante de medicina (hoje um grande médico) havia conversado com sua professora de medicina na universidade federal. Ela era especialista em pneumologia e alergista, e se interessou pelo meu caso, porém, eu deveria enfrentar uma fila de espera.

Após uma noite no relento de baixo da marquize do ambulatório do hospital das clínicas, chegou a minha vez de ser atendido. Eu pesava 36 quilos, apesar de ter 28 anos e 1,70 m de alura. Parecia uma caveira ambulante. A médica, Dra. Maria Auxiliadora, assustou-se ao me ver naquele estado. Movida de compaixão, porém, deu-me atenção durante mais de uma hora, enquanto dezenas de pessoas esperavam lá fora para serem atendidas.

Ela fez um levantamento completo de minha vida. Não tive dúvidas de que aquela médica era médica por vocação, e não por profissão. Seguiu-se uma bateria de exames e testes de tumografias. Algumas angustiosas semanas depois, com muita expectativa e esperança de cura, veio o diagnóstico: “Você tem menos de 1% de chance de ser curado”, disse a médica, “isso se você seguir todas as minhas orientações rigorosamente.”

Eu deveria deixar minha profissão como enfermeiro (fui acometido de infecção hospitalar por três vezes), deveria mudar-me para uma área rural e mudar totalmente o meu estilo de vida.

Com a ajuda de meus familiares, minha esposa colocou em um pequeno caminhão da prefeitura os poucos pertences que nos sobraram, após tantos gastos com consultas, exames, internações e medicações. Fui para um lugar bem longe da agitação e poluição da cidade.

Era um pequeno sítio, com uma pequenina casa à beira do córrego. A água potável vinha das montanhas a uns mil metros de distância montanha acima. Não havia energia elétrica, assim como outras coisas que incluiam um salário mensal. Os meses se passaram. A adaptação não foi fácil à nova moradia e estilo de vida. Minha esposa aprendeu a dirigir e me levava de fusca às consultas e exames no hospital das clínicas, na cidade de Vitória, ES, cerca de 300 quilometros do sitio. Cheguei a fazer uso de 22 tipos de medicamentos. Minha saúde, porém, não melhorou em nada. Pelo contrário, piorou terrivelmente.

Parecia que até Deus havia desistido de mim. Faltava uma semana para findar o tempo de vida que os médicos haviam me dado, e meu quadro clinico era cada vez pior. Eu expelia uma média de dois litros de secreção purulenta dos pulmões a cada 24 horas. Não levantava mais da cama e não tinha forças nem para falar. Senti que o meu fim chegara de verdade. Era apenas questão de dias, possivelmente.

Em uma madrugada, após muitas interrupções respiratórias pelo exesso de secressão e espasmos bronquicos, em um momento de lucidez, comecei a orar: “Senhor Deus, que o Senhor existe eu já sei. O Senhor já me provou isso várias vezes, inclusive já ressucitaste mortos. Eu também sei que somos mortais, mas por que, após ajudar tantas pessoas, noites e mais noites acordado em hospitais e residências particulares, com doentes, por que devo morrer com apenas 28 anos? Eu quero viver, Senhor. Mas eu não quero mais estar às custas de tantas drogas. Por favor, Senhor, ou cura-me de vez ou me deixa descansar desta fadiga e angústia constante.”

Reuni a quase inexistente força que ainda me restara e levantei da cama. Minha esposa rapidamente veio me acudir. Caminhei até onde estavam os remédios (uma verdadeira farmácia), peguei uma sacola plástica para lixo e coloquei todos os medicamentos nela (minha esposa me observava totalmente confusa). Eram 4 horas da madrugada. Caminhei até a cozinha, abri a porta e dirigi-me até onde passava o riacho. Com muito esforço, cavei um buraco na terra à beira do riacho e enterrei os remédios. Minha esposa continuava a assistir estasiada. Convidei-a a ajoelhar-se comigo ali mesmo em cima dos remédios, e orei novamente: “Senhor Deus, não quero viver nesse sofrimento, e muito menos à base de tantas drogas. Ou me dá a cura, e então Te servirei para sempre, ou então me deixa morrer. Perdoa os meus pecados, amém.”

Levantei e fui lavar as mãos e o rosto na pia do lado de fora da casa. Não havia água na torneira (fato muito comum, pois a encanação precária vinda das montanhas, vez ou outra se arrebentava ou saia da nascente). Fiquei bravo com a falta de água e me propus a ir consertar a encanação. Subi e desci a montanha, passando debaixo de cercas e pulando arames farpados, barrancos, tocando o gado, ainda no escuro, no sair do dia.

Quando retornei, com minha missão completada, encontrei minha esposa chorando próximo à nossa casinha emprestada pelo “tio Zeca”. Seu choro, porém, era de alegria. Eu estava curado. Ali, na oração de joelhos, ao lado do riacho, naquela madrugada no interior de Minas Gerais. As idas aos médicos cessaram de vez.

São passados hoje 21 anos desde aquela madrugada. Minha saúde não é perfeita, preciso estar sempre me cuidando, mas para quem tinha apenas mais seis meses de vida... Entreguei minha vida aos cuidados de Deus. Fiz faculdade de teologia, tornei-me um pastor e vivo hoje em tempo integral para Deus e o cuidado de Seus filhos.

Em minha vida e ministério, pude presenciar outros inúmeros milagres, que com certeza Deus tem feito por amor de seus filhos. Sou grato a Ele, pois eu era um pecador arrogante e sem fé, mas fui usado para benefício de sua obra de resgate do ser humano.

Satanás tem acusado Deus do sofrimento e outros males que assolam o ser humano e o planeta, porém, ele mesmo é o causador de tudo isso. Felizes são os que enchergam o conflito cósmico que está acontecendo e crêem nas promessas de Deus nosso Pai, de que em breve tudo chegará ao fim. Muitas pessoas não crêem em Deus. Outras, não O conhecem de verdade. Conhecer a Deus e deixar que Ele dirija nossas vidas faz toda a diferença.

Espero que você não passe por experiências de dor e aflição para reconhecer a existência de Deus. Não seja arrogante. Deixe Deus ser Deus. Deixe sua vida nas mãos dEle. Quanto a mim, louvo-O todos os dias pelos cuidados dEle para comigo, minha esposa e meus quatro lindos filhos.

Argeu Lopes Freitas

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