quinta-feira, maio 01, 2008

Esperanças espirituais

Na Alemanha dos anos 30, após a 1ª Guerra Mundial e a Crise da Bolsa de Nova York, imperava um sentimento de baixa auto-estima entre o povo alemão, visto os problemas sócio-econômicos enfrentados. O chamado Tratado de Versalhes impôs severas e humilhantes punições à Alemanha que, além de perdas territoriais, viu seu exército desarmado e reduzido, ficou proibida de fabricar armamentos e passou a ser obrigada ao pagamento de pesadas indenizações de guerra à Grã-Bretanha e à França. Tudo isso favoreceu o fortalecimento do Partido Nacionalista Socialista (Nazi) e, conseqüentemente, de seu maior porta-voz e posteriormente líder, o militar Adolf Hitler. Em um período de grande desemprego e de sentimento de derrotismo entre as pessoas, Hitler aproveitou para se erguer e se consolidar como uma liderança oportuna e bem vista inicialmente. Só mais tarde seu plano de conquistar o mundo por meio da força de guerra foi claramente identificado e combatido pela maioria.

Há outros exemplos na história de lideranças que inconscientemente eram esperadas pela população de seu tempo. Algumas delas decepcionaram de modo geral, como Hitler, mas outras foram bem recebidas. Na antiga Judéia, dominada pelo Império Romano desde 63 a.C, o clima entre o povo judeu se caracterizava pela insatisfação e insubordinação. Vários grupos rebeldes se revezavam em protestos contra a autoridade romana e cabia aos governantes da Judéia, homologados evidentemente por Roma, sufocar essas insurreições. Além de não contar com o apoio de seus reis, que de certa forma eram corruptos e subordinados às ordens romanas, os judeus ainda amargavam o pagamento de pesados impostos aos dominadores e nutriam um desejo incontido de reconquistar a "terra prometida". Aguardavam finalmente o Messias, o Ungido, aquele que haveria de libertar o povo judeu.

O problema é que a esperança judaica consistia em uma expectativa sustentada por argumentação política e social e não espiritual. Trechos bíblicos como os do profeta Isaías, no capítulo 61 e versículo 1 de seu livro, quem sabe soavam estranhos aos intérpretes da lei: "o Espírito do Senhor Deus está sobre Mim, porque o Senhor Me ungiu para pregar as boas-novas aos pobres. Enviou-Me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e abertura de prisão aos presos..." Mas o que isso significava? Seria Jesus Cristo, identificado mais tarde como o Messias, um libertador meramente político? Alguém que organizaria o povo judeu como exército para lutar contra os romanos?

Tudo depende do tipo de esperança que temos. Jesus frustrou as expectativas do povo judeu ao pregar o amor aos inimigos, a necessidade de oração sincera e não de vãs repetições, o fim da tradição como um fim em si mesmo e a importância de estudar as escrituras com o intuito de conhecer a vontade de Deus. Mas muitos não quiseram entender a mensagem divina manifestada através de Jesus. Preferiram condená-Lo, puni-Lo e entrega-Lo à decisão de um procurador romano.

Hoje muitos que se consideram cristãos também esperam um Jesus que atenda as suas necessidades materiais, que aprove uma vida de vícios contrária aos princípios divinos e que não se intrometa em seus pensamentos e desejos. Querem algo temporal, passageiro, assim como os judeus almejavam a libertação do jugo romano. Como se fosse o mais importante, o maior objetivo de suas vidas. Mas Jesus Cristo veio cumprir um propósito espiritual e instalar, como Ele mesmo afirmou, "um reino que não é daqui". Se hoje estamos buscando um Jesus para nos dar mais dinheiro, fama, uma falsa sensação de paz e muitas amizades interesseiras, estamos no caminho errado. Jesus demonstrou que Sua vida consistia em servir e não ser servido, e Sua missão era salvar a humanidade do pecado por meio de um relacionamento espiritual com Ele.

"...sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata e ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, a qual por tradição recebestes de vossos pais, mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem defeito e sem mancha" (I Pedro 1:18 e 19).

Felipe Lemos é jornalista em Florianópolis (texto publicado com permissão).