A descoberta de um exemplar de 1.700 anos de idade do "Evangelho de Judas", um texto gnóstico antigo que pretende conter um diálogo entre Jesus de Nazaré e Judas Iscariotes, não é nem um evangelho autêntico, nem boas-novas, disseram eruditos da Igreja Adventista do Sétimo Dia. "Era heresia então, e é heresia agora", foi a pronta avaliação do Dr. Gerhard Pfandl, diretor-associado do Instituto de Pesquisa Bíblica que considera a Arqueologia do Oriente Médio como um campo de estudo de seu particular interesse.
Segundo uma organização privada dos EUA, a National Geographic Society, o manuscrito recém-divulgado do Evangelho de Judas representa um avanço nos estudos especializados do cristianismo primitivo.
"O Evangelho de Judas oferece uma visão diferente do relacionamento entre Jesus e Judas, trazendo-nos novos lampejos quanto ao discípulo que traiu a Jesus. Diferentemente dos relatos dos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, nos quais Judas é retratado como um grande traidor, esse evangelho recém-descoberto descreve Judas como agindo a pedido de Jesus ao entregá-Lo às autoridades", declarou a entidade da National Geographic numa notícia em que o projeto de sua pesquisa era anunciado e que é o tema de capa da edição de maio de 2006 da revista National Geographic.
Segundo a Sociedade, o enfoque do livro é radicalmente diferente do dos evangelhos encontrados no Novo Testamento: "O texto do Evangelho de Judas começa assim: 'O relato secreto da revelação do que Jesus falou em conversa com Judas Iscariote durante uma semana, três dias antes que Ele celebrou a Páscoa.' Reflete temas que os eruditos consideram como sendo coerentes com tradições [gnósticas]. Na primeira cena Jesus ri de Seus discípulos por orarem 'o teu Deus', significando o Deus 'menor' do Antigo Testamento que criou o mundo. Ele desafia os discípulos a olharem para Ele e entender quem Ele realmente é, mas eles recusam.
"A passagem-chave ocorre quando Jesus diz a Judas: "'...tu excederás eles todos. Pois tu sacrificarás o homem que Me veste'. Por ajudar Jesus a libertar-Se de Sua carne física, Judas ajudará a libertar o verdadeiro eu espiritual ou ser divino dentro Dele", declara a nota noticiosa da Sociedade.
Esse pensamento pode ser interessante, diz o Dr. W. Larry Richards, diretor do Centro de Pesquisa de Manuscritos Gregos do Seminário Teológico da Universidade Andrews, uma instituição adventista do sétimo dia, mas não é o evangelho.
Falando por telefone de seu escritório em Berrien Springs, Michigan, Richards declarou que a filosofia subjacente dos gnósticos, de que o corpo físico é "mau" e deve ser destruído para o homem ser salvo, é um "ataque muito forte ao cerne de nossa mensagem" que ressalta a saúde espiritual, mental e física, ele disse.
"Eu desejaria fazer algo que informasse nosso povo sobre o ponto de vista básico no gnosticismo e como se está manifestando no século 21 para que as pessoas fiquem alerta", disse Richards ao discutir o manuscrito "Judas". Ele disse que outras obras populares, como a novela de Dan Brown, O Código Da Vinci, que vendeu 40 milhões de exemplares e será lançado como filme, inclui idéias gnósticas. Ademais, declarou Richards, a Igreja cristã há muito decidiu que livros tais como o "Evangelho de Judas" não faziam parte do cânon do Novo Testamento.
"Temos uma história, uma tradição de que o cânon foi fechado no quarto século e como uma parte do movimento cristão nos apegaremos ao mesmo. Isso se tem estabelecido por um registro de séculos e cremos que Deus teve Sua mão nisso; e para nós, abrir as portas para livros adicionais criaria o caos", ele explicou. E, Richards disse, os cristãos devem rejeitar o pensamento gnóstico porque subverte o caminho da salvação. O gnosticismo, com o seu conceito de esforço humano para alcançar o que chamavam de "essência espiritual", muda o enfoque da salvação de um dom de Deus para o esforço humano. "O cristianismo é a única religião em que a salvação é fora de nós", disse Richards.
Segundo o Dr. Greg King, professor de religião da Universidade Adventista do Sul, em Collegedale, Tennessee, os cristãos que crêem na Bíblia deviam ter interesse no manuscrito de "Judas", mas não por razões de promover as suas reivindicações. "Ele mostra o cumprimento do verso bíblico em que Paulo, considerando os anciãos de Éfeso, advertiu: "Eu sei que depois da minha partida, lobos devoradores se manifestarão entre vós, e não pouparão o rebanho; e que dentre vós mesmos se levantarão homens falando coisas pervertidas", lembrou King, citando Atos 20:29 e 30.
"Um segundo ponto que merece ser levado em conta é que deveríamos nos interessar nisso porque demonstra as heresias, os falsos ensinos que já se haviam multiplicado naquele tempo", ele acrescentou. "Acho irônico que muito do mundo da erudição parece tão agitado quanto a essa descoberta quando temos tantas verdades a descobrir na revelação canônica de Deus nas Escrituras, que tantas vezes são ignoradas."
E o Dr. Warren Trenchard, autoridade da Universidade La Sierra, uma instituição educacional adventista de Riverside, California, acrescenta: "Creio que o valor de um documento como esse é simplesmente ajudar-nos a expandir nosso quadro das variedades de cristianismos que existiam na primeira experiência da Igreja. O que estamos considerando, realmente, é uma característica da expansão e desenvolvimento do cristianismo".
(Da Rede Adventista de Notícias)
Para saber mais: leia o texto esclarecedor da escritora Norma Braga, clicando aqui.