sexta-feira, maio 02, 2008

A fé no século 21

A revista Seleções deste mês traz como matéria de capa a reportagem “Como o brasileiro vê Deus”. Típica pauta natalina, a reportagem traz os dados de interessante pesquisa sobre religião feita em vários países, além do Brasil. Segundo o professor Lísias Nogueira Negrão, coordenador do Centro de Estudos da Religião Duglas Teixeira Monteiro, da USP, “há uma tendência de individualização da espiritualidade no mundo ocidental. As pessoas vivem suas crenças na intimidade, sem vínculos com instituições”. No Brasil, isso é mais acentuado, afirma o pesquisador: “O brasileiro constrói o próprio cardápio religioso, combinando elementos de diversas religiões.”

“Dos 16 países pesquisados, a porcentagem dos brasileiros crentes em Deus só é menor do que a registrada na Polônia (97%). A média dos europeus que crêem em Deus é de 71%. (O índice mais baixo é o da República Checa – com apenas 37% - e Portugal é o segundo mais fervoroso – 90% acreditam em Deus -, seguido surpreendentemente pela Rússia, que tem 87% de fiéis, 15 anos após o desmantelamento do regime comunista.) ... Apenas 1,3% dos brasileiros pesquisados foram enfáticos ao responder ‘não’ à pergunta sobre a existência de um ser supremo.”

A matéria informa ainda que “a maioria dos consultados (65,7%) acha que Deus é amor e, para 59,9%, Ele está presente na natureza. ... A maioria também exalta Deus como um ser justo (59,7%); que dá livre-arbítrio (55,7%); que existe em nosso interior (46%); e é uma força impessoal (32,5%).”

Outro dado curioso: num país 74% católico, somente 58,2% acreditam na vida após a morte. Por outro lado, a sondagem mostrou também que mais da metade dos pesquisados crê na força do destino e em mau olhado. “A fé dos brasileiros não está num Deus transcendental que protege e cobra um comportamento ético. Há uma expectativa mágica em relação a Deus, daí podermos coagi-Lo com promessas, oferendas ou gestos como bater na madeira”, explica o professor Eurico Gonzalez dos Santos, do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília.

O depoimento da artesã Verônica Quintana, 21 anos, de Foz do Iguaçu, PR, é típico do brasileiro: “Eu acredito em tudo: espíritos, feitiçaria, horóscopo e até em simpatias, que já fiz em funcionaram. Às vezes também acendo uma vela para meu anjo da guarda.”

Esses dados mostram que o desejo de crer resiste ao avanço tecnológico e científico de nossos dias, mas que a fé mal orientada leva o ser humano a crer em qualquer coisa.

Para encerrar, deixo com você este pensamento: “O ateísmo otimista do século 19 pensou que desalojando a Deus, o Homem teria um lugar para ser um homem; o ateísmo pessimista do século 20 descobriu que ao ter desalojado a Deus, o Homem perdeu todo o lugar para ser um homem.”