sexta-feira, maio 09, 2008

Festival de besteiras na Galileu

Estou no Unasp fazendo estudos em teologia (motivo pelo qual desativei temporariamente o recurso de comentários aqui no blog). Na matéria de Hermenêutica, com o Dr. Reinaldo Siqueira, aprendi que a palavra "hermenêutica" é definida como: (1) interpretação do sentido das palavras; (2) a arte e ciência de interpretar textos sagrados; e (3) a arte e ciência de interpretar leis. Essa palavra vem do grego hermeneo e significa "explicar, interpretar, traduzir". O termo está ligado à mitologia grega: o deus Hermes era o mensageiro dos deuses, mas ele não somente transmitia mensagens, as interpretava também. Daí surgiu a palavra “hermenêutica”. A hermenêutica bíblica, obviamente, se limita à interpretação do texto bíblico. E se vale de regras para fazer isso.

Pois bem, anteontem, antes de vir para o colégio, comprei a revista Galileu de janeiro. Hoje, no intervalo entre as aulas, li o artigo de capa "Dá para viver segundo a Bíblia hoje?" Fiquei estarrecido.

Geralmente evito o tom jocoso em minhas postagens, mas não consegui pensar em outro título para esta. O que li, descontando uma ou outra coisa, foi pura besteira. Num só artigo, Galileu consegue subverter, desrespeitar e quebrar todas as regras básicas de hermenêutica.

O autor é o jornalista Cláudio Julio Tognolli, assumidamente devoto do ateu e devoto de Darwin, Richard Dawkins. Logo de início, Tognolli se sai com esta: "Começa aqui uma contradição que contrapunha à minha vida dois salmos. Afinal, Jeremias 13:23 sugere que o leopardo não pode mudar as suas manchas. Bem, costumo ir à academia de ginástica todos os dias, tentando perder a barriguinha. Pior: vi que a sunga utilizada para a empreitada tinha 3 tipos de fibra. Larguei a academia e fui buscar cuecas de algodão. Mas a única que tinha em casa era uma importada que foi deixada por uma ex-namorada que adorava usar peças íntimas masculinas. Não me julgue mal (não julgueis para não serdes julgado, diz Mateus 7:1). A solução foi comprar cuecas novas. Torrei mais de R$ 150. E meus membros doíam com a falta da academia."

Tognolli podia ter-nos poupado de conhecer os hábitos esquisitos de sua ex-namorada... Mas deixa pra lá. O pior mesmo é demonstrar logo de cara que não está preocupado em saber o que os textos dizem de verdade. Afinal, o que tem a ver Jeremias 13:23 (passagem que mostra a impossibilidade de o homem mudar o coração por si mesmo) com ir ou não à academia?

Depois, o repórter que se propôs viver biblicamente mas pagou para uma cigana ler sua mão e rezou o terço bizantino dando a entender que essa prática é bíblica, escreveu: "Não consegui seguir a Bíblia em muita coisa. Por exemplo, Efésios 5:4 proíbe obscenidades, falar bobagens [escrever também...]. Bem, no dia 2 de dezembro, um domingo, meu time do coração, o Corinthians, caiu para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro. Mesmo barbado [aliás, Tognolli parece pensar que usar barba é a maior expressão de religião bíblica, pois vive falando disso no texto] tendo rezado o Terço Bizantino [não disse?] que padre Marcelo em pessoa me deu há quatro anos, estou aturdido pelos estupores da derrota: blasfemo, blasfeno piamente. Como é dito em João 8:32, só a verdade me libertará. A verdade da derrota não me libertou: sucumbi e xinguei quatro palmeirenses do edifício em que moro."

Deixando a piada sem graça pra lá, se Tognolli tivesse mesmo lido a Bíblia, descobriria que o mesmo João diz que a verdade é uma pessoa, Jesus. É o conhecimento dEle (e é bom que se diga que no pensamento hebraico conhecer é experimentar, se relacionar) que liberta, não o mero conhecimento de coisas e fatos.

Numa conversa com um pastor batista (uma das poucas partes boas e que fazem sentido na matéria, diga-se de passagem), o repórter pergunta: "Pastor, sou professor e corrijo provas. Como então seguir Mateus 7:1, 'não julgueis para não serdes julgado'?" Que é isso? Nem parece o mesmo Claudio Tognolli que escreveu livros como A Sociedade dos Chavões, do qual gostei bastante. Aliás, nesse livro, ele afirma que "o espírito independente... perde sua desenvoltura e liberdade, sobretudo numa sociedade que cada vez tem menos tempo de ler e se serve cada vez mais da imprensa como alimento de sua formação de consciência e juízo". Como, então, sabendo disso, Tognolli presta esse desserviço aos leitores que não lêem a Bíblia mas vão pensar que o que ele escreveu é a verdade?

Um jornalista que escreve sobre chavões não é capaz sequer de entender um texto tão simples quanto Gênesis 2:18. Ele escreveu: "Confesso ao obreiro [da Assembléia de Deus] que fiquei sozinho horas e horas lendo as escrituras [nem parece...]. E que, portanto, fui contra Gênesis 2:18, para o qual não é bom ao homem ficar sozinho." Se Tognolli lesse o texto em seu contexto e com um pouco mais de atenção, notaria que ele se refere ao casamento e, quem sabe, resolveria reatar com a namorada que usava suas cuecas.

E ele encerra o texto com esta pérola: "O que levo disso? Talvez a certeza de que posso montar o meu Deus pessoal como um prato de restaurante a quilo." Não sei, não, mas acho que ele já tinha pensado em concluir a matéria desse jeito, quando encarou a pauta. Fazer o quê?

Quer conhecer alguém que viveu coerentemente os princípios bíblicos? Tenho o prazer de lhe apresentar Jesus.

Michelson Borges

Leia também: "Como viver biblicamente de verdade?"