sexta-feira, maio 02, 2008

Grandes erros da ciência

A edição especial "Os Grandes Erros da Ciência", da revista Scientific American - Brasil, me fez lembrar o livro Grandes Debates da Ciência, de Hall Hellman (Unesp). Nele, o autor afirma que “ao contrário dos erros tecnológicos, erros em ciência raramente são notícia. Em conseqüência, o público poucas vezes toma conhecimento dos caminhos equivocados pelos quais os cientistas muitas vezes enveredam. Mesmo no caso em que se divulga uma idéia científica incorreta, ninguém sabe que ela é incorreta; e quando se chega à idéia correta, ela é apresentada como uma nova descoberta, e a velha idéia é simplesmente esquecida. Mesmo em revistas científicas, relatos de resultados negativos raramente chegam a ser impressos, a despeito do fato de que possam ser muito úteis para os que trabalham na área”.

Assim, ficam aqui meus parabéns à Scientific por quebrar esse paradigma e expor esse lado bem humano da ciência - sua falibilidade.

Reproduzo abaixo o editorial dessa edição histórica, assinado pelo editor José Tadeu Arantes:

"A aventura do conhecimento é um processo assintótico infinito. Assintótico porque nos aproximamos, cada vez mais, da meta planejada. Infinito porque jamais a alcançamos. Por melhores que sejam nossas representações da realidade, o real, ele mesmo, encontra-se sempre um passo adiante. E, sucessivamente desvelado, ainda esconde, sob incontáveis véus, sua fugidia nudez.

"A aventura do conhecimento é um processo errático e dissipativo. A frase que inicia o parágrafo anterior talvez seja, também ela, uma imagem falsa – ou, no melhor dos casos, apenas meia verdade. Pois sugere uma linearidade, um caráter necessariamente progressivo, que a empreitada do conhecimento, de fato, não tem. Caminhamos às apalpadelas. E os conceitos que construímos ontem, e descartamos hoje com desdém, talvez tenham de ser retomados amanhã, em uma nova curva da espiral evolutiva. O escritor Arthur Koestler comparou a atividade científica ao sonambulismo, demonstrando, com exemplos superlativos, que o avanço da ciência ocorreu, muitas vezes, a despeito das mais caras convicções dos seus protagonistas ou até mesmo contra elas.

"A impossibilidade de atingir a verdade absoluta é inerente à atividade racional, e repousa na dicotomia entre o sujeito (o observador) e o objeto (o observado) – dicotomia que se mantém mesmo quando o objeto em pauta é a própria subjetividade. Enquanto persistir a mais tênue barreira entre o observador e o observado, a ciência será sempre uma obra inacabada, precária, provisória. Por isso, na práxis científica, o erro é a regra e não a exceção, um constituinte fundamental e não mero acidente de percurso. Por isso, também, a reflexão sobre o erro nos ensina mais sobre a natureza da ciência do que a exaltação triunfalista de seus êxitos.

"Dedicada a grandes erros, cometidos por grandes cientistas, esta edição posiciona-se claramente a favor da ciência, e não contra. A ciência não é apenas uma atividade vital para a sobrevivência e o desenvolvimento da humanidade. É também uma das mais belas produções da inteligência humana. Mas somente a aceitação de seu caráter limitado, parcial e incerto pode impedir que se transforme em um fossilizado sistema de crenças. ..."

Nota: "Enquanto persistir a mais tênue barreira entre o observador e o observado, a ciência será sempre uma obra inacabada, precária, provisória." Perfeito. E é por isso que muito me surpreende a arrogância de certos evolucionistas que lidam com o assunto origem da vida como se essa barreira apontada por Arantes não existisse. O problema é que o darwinismo ultrapassou os limites da ciência experimental e acabou se tornando um "sistema de crenças". E Darwin é o ídolo máximo dessa religião.[MB]