sexta-feira, maio 02, 2008

Guerra contra Deus

Os antediluvianos se levantaram contra Deus e a situação de pecado chegou a tal ponto que não houve mais remédio, senão preservar as poucas pessoas que ainda se mantinham fiéis. O homem sem ligação com o Criador era inclinado pra o mal continuamente, e sem a intervenção divina o mundo se tornaria caótico. Depois do dilúvio, na Torre de Babel, nova atitude de rebelião mostrou que as pessoas não haviam aprendido a lição. Tempos depois, faraó fez a pergunta que praticamente inaugurou o ateísmo neste planeta: "Quem é o Senhor?" A rebeldia do governante egípcio "obrigou" Deus a utilizar a linguagem da força em lugar de Sua abordagem preferida: a do amor. Jesus disse que nos últimos dias a situação de rebeldia, a falta de fé e a semelhança com as condições do mundo antediluviano seriam evidência de que Sua segunda vinda estaria próxima (cf. Mat. 24). Todos os dias os meios de comunicação veiculam notícias que pintam o quadro do panorama profético em cores bem vivas. Enquanto a temperatura da Terra vai subindo e intensificando as tragédias ambientais, o ânimo dos chamados "novos ateus" também esquenta. A matéria de capa da revista Galileu deste mês - "A guerra contra Deus" - é mais uma prova disso.

O texto de Claudio Julio Tognolli dá grande destaque aos atuais pit-bulls do darwinismo: Richard Dawkins e Daniel Dennett. "Dawkins lançou em 2006 a máxima apostasia possível", que, segundo Tognolli, é o livro The God Delusion (em breve na tradução para o português). No livro, o maior representante dos ateus contemporâneos sustenta a idéia de que a existência ou não de Deus deve ser submetida à investigação científica, elevando o método científico a uma esfera que não lhe diz respeito - a do sobrenatural. O que Dawkins parece fazer é substituir Deus por outra "divindade", a ciência.

Tanto Dawkins quanto Dennett são taxativos em afirmar que nos Estados Unidos há 30 milhões de ateus. "Gente que não pode expressar suas opiniões religiosas, abertamente, sob pena de sofrer investigações e perseguições." Tognolli esquece (intencionalmente?) que a mídia e a academia vêm empreendendo verdadeira cruzada contra os criacionistas e os defensores do Design Inteligente, tanto que há muitos pesquisadores que evitam declarar sua aceitação do DI por receio de perder verbas para pesquisa ou mesmo o emprego (veja o caso de Forrest Mims). Pode até ser que haja perseguição ou discriminação contra os ateus por parte de alguns religiosos; mas o contrário também é verdadeiro e tem se intensificado, isto é, perseguição intelectual por parte dos ateus contra os religiosos. Afinal, por que será que as idéias criacionistas e do DI mal são debatidas no meio universitário? Por que será que o próprio Dawkins se recusa a dialogar com criacionistas? É por causa do forte teor religioso das teorias criacionistas? Ok. Então, por que o mesmo ocorre com as idéias da Teoria do Design Inteligente, que não se preocupa com a natureza ou identidade do Criador? Tudo o que o DI procura fazer é demonstrar as insuficiências epistêmicas do darwinismo, mas isso parece pecaminoso demais para os defensores do Darwin-ídolo (depois são os crentes os fundamentalistas...).

A reportagem cita palavras de Dennett que podem ser usadas contra ele: "O encanto que eu digo que deve ser quebrado [ele é autor de Quebrando o Encanto] é o tabu contra a pesquisa científica e sem obstáculos dos segredos da religião como fenômeno natural, entre outros. Mas certamente um dos motivos mais insistentes e plausíveis para a resistência a essa reivindicação é o medo que o encanto seja quebrado - se a religião for posta sob as luzes fortes do microscópio." Mas eu pergunto: O contrário disso seria aceito? E se o microscópio (leia a postagem "A 'assinatura química' de Deus") e o telescópio apontassem as digitais do Criador? Ateus como Dawkins e Dennett se dobrariam ante as evidências? Ou a predisposição para não crer os impediria de buscar a verdade aonde quer que ela os levasse? (Leia também a postagem "Um ateu sincero".)

Pelo menos a reportagem da Galileu admite que há "vozes dissonantes na comunidade científica" (obs.: Tognolli deveria ter usado a palavra "discordante", pois dissonante dá a impressão de que todas as demais "vozes" estão em uníssono quando o assunto é fé e ciência, mas as coisas não são bem assim). Um desses que discorda do coral ateísta é o professor doutor Gildo Magalhães, da USP, que diz: "O mais intrigante em todo o atual debate entre religião e ciência é que se trata de uma controvérsia completamente desinformada do ponto de vista histórico e fora de foco em termos de teoria do conhecimento. Os historiadores e filósofos da ciência sabem que não há uma teoria científica estabelecida como válida para sempre, pois, mesmo acreditando que há uma verdade última, todo o processo de conhecimento é uma constante procura em direção a essa verdade, com relação à qual continuamos tão longe, que o conselho mais prudente é a humildade socrática do `só sei que nada sei`."

Mas parece que humildade é palavra que não consta do dicionário desses novos ateus que, inclusive, se auto-intitulam "brights" (ver a postagem "Ateísmo atrevido").

Outra "voz dissonante" é a do escritor e especialista em polímeros e termodinâmica Walter L. Bradley (Ph.D.), que afirma no livro Em Defesa da Fé, do jornalista ex-ateu Lee Strobel que "muitos [cientistas] já chegaram [à conclusão de que existe um Planejador Inteligente]. Porém, em alguns casos, a filosofia atrapalha. Se eles estão persuadidos de antemão que Deus não existe, então, não importa quão convincente sejam as evidências, sempre negarão".

A matéria de Tognolli prossegue informando que nos Estados Unidos um roqueiro punk também "dá as cartas no novo ateísmo" (!). Trata-se de Greg Graffin, líder da banda Bad Religion. Em 2003 ele virou Ph.D. em zoologia pela Universidade de Cornell. Como parte de seu doutorado, o punk perguntou a 149 biólogos evolucionistas se eles acreditavam em Deus. Resultado: 130 disseram que não. Será que dá para acreditar que foi uma pesquisa isenta? E os entrevistados, foram escolhidos aleatoriamente? Bad religion and bad research...

Quase no fim da matéria, Tognolli informa que para Dawkins a "hipótese" de Deus existir é a mesma de que um Boeing-747 seja construído por um furacão (engraçado como ele inverte um argumento tipicamente criacionista para a impossibilidade da origem casual da vida). "Ele [Dawkins] taxa de criacionistas [note como esse termo se tornou pejorativo] biólogos que acreditam que o olho humano seja irreprodutível, dada a sua complexidade, o que portanto desabilitaria a visão como fruto da evolução. E nesse ponto destrói Michael Behe, autor do livro A Caixa Preta de Darwin, para quem a `complexidade irredutível` do olho humano não poderia ser explicda pelo darwinismo." Com que facilidade as palavras podem ser usadas! Dizer que o argumento de Behe é destruído por uma simples analogia é forçar demais a "barra", não acha Tognolli? E Dawkins pode taxar quem ele quiser do que bem entender, mas isso não torna seu preconceito verdade. Behe não é criacionista, como bem deixa claro em seu livro. Como bom bioquímico, percebeu as falhas do darwinismo pelas lentes da ciência. Mas, coitado, cometeu o pecado de ir contra Darwin-ídolo, para quem, como lembra Galileu, um urso poderia se transformar numa baleia, "com uma goela cada vez maior, até que se produza [pela seleção natural] uma criatura [por que usava essa palavra?] tão monstruosa quanto uma baleia". A afirmação era tão mirabolante que acabou "limada" (para usar a expressão de Tognolli) de uma edição futura de A Origem das Espécies. O próprio Darwin admitia que a evolução o olho é um problema para sua teoria.

No mesmo box que traz a citação esdrúxula de Darwin, há a descrição da Teoria dos Memes, de Dawkins: "Os memes devem ser considerados estruturas vivas, não apenas metafórica, mas tecnicamente. Quando você planta um meme [idéia] fértil em minha mente, você literalmente parasita o meu cérebro, transformando-o num veículo de propagação do meme, exatamente como um vírus pode parasitar o mecanismo genético de uma célula hospedeira." (Comentei essa teoria numa resposta publicada na seção Perguntas.)

A última prova de que os ateus precisam conhecer melhor a religião bíblica está no último box da matéria, sob o título "Cinco futuros". O texto resume os cinco prováveis rumos da religião, de acordo com Dennett. O quinto diz: "O dia do julgamento chega. Os abençoados sobem corporalmente ao céu, e o resto fica para trás para sofrer a agonia dos condenados, já que o anticristo foi vencido. Como as profecias da Bíblia previram, o renascimento da nação de Israel em 1948 e o permanente conflito a respeito da Palestina são sinais claros do fim dos tempos, quando a segunda vinda de Cristo varre todas as outras hipóteses para o esquecimento."

O dispensacionalismo é uma teoria antibíblica. Espero que o filósofo Dennett entenda mais de ciência do que de religião... (Para saber mais sobre a volta de Jesus e o que ocorrerá depois dela, clique aqui e aqui.)

Para encerrar, uma citação do pensador e crítico literário norte-americano Harold Bloom: "Quando considero a brevidade da minha vida, engolida pela eternidade antes e depois, o pequeno espaço que preencho e que sou capaz de enxergar, tragado na imensidão infinita de espaços sobre os quais sou ignorante, e que não me conhecem, fico assustado e atônito por estar aqui... Quem me colocou aqui? Por ordem e instrução de quem este tempo e lugar me foram alocados?"

Parece que os "novos ateus" querem mesmo é tapar o sol com uma peneira filosófica. E ainda se consideram "brights"...

Michelson Borges