sexta-feira, maio 02, 2008

IstoÉ destaca vida após a morte

Mais uma vez a imprensa dedica espaço nobre para tratar do assunto “vida após a morte”. A revista IstoÉ desta semana (26/07) informa que “ciência e médiuns aprimoram a tecnologia e os métodos de contato com os que morreram. Com isso, milhões encontram conforto e respostas para suas inquietações”. Note que o contato com os mortos não se trata mais de hipótese para a mídia, pois se afirma que as pessoas encontram conforto nesse contato.

O texto diz que “muita gente acredita que falar com os mortos é possível – e alguns afirmam fazer isso cotidianamente. São os médiuns, os intermediários entre os espíritos e os homens. Há estudiosos, como a paulista Sonia Rinaldi, que empregam física, fonética, biometria e tecnologia digital para asfaltar a estrada que parecia interditada entre esses dois planos, o dos vivos e o dos mortos. A ferramenta, nesse caso, é a ciência e não a fé. Uma das maiores especialistas em Transcomunicação Instrumental (TCI), nome dado à gravação de vozes e até filmagem de pessoas que já morreram, Sonia comemora um marco em sua cruzada: o primeiro caso autenticado por um laboratório internacional de um contato com um espírito. O fato mais positivo de tudo isso é que, pelo caminho da ciência ou da espiritualidade, essas comunicações geram um conforto imensurável nas pessoas que buscam contato com os seus entes queridos. E dão respostas para muitas de suas inquietações”.

O caso tem o aval do físico Claudio Brasil, mestre pela USP que se dedicou nos últimos anos a analisar centenas de vozes paranormais. “Temos que abrir a mente e aceitar que a ciência não tem explicação para tudo”, diz ele. [Curioso é que essa abertura não ocorre quando o assunto é criacionismo...]

A reportagem traz alguns testemunhos de pessoas que tiveram contato com os “mortos” e mudaram a forma de pensar, como no caso da família do ortopedista David Muszkat, 70 anos, que perdeu o primogênito, Roberto. “O jovem, então com 19 anos, foi vítima de uma fatalidade: sofria de bronquite asmática e teve um choque anafilático após pingar um remédio no nariz. Morreu em 1979. Desde então, foram 63 mensagens psicografadas por Chico. Judeu praticante, David só procurou o médium aconselhado pela amiga, a atriz Nair Bello, por causa de sua mulher, que sofria muito. Quando encontrou-se com Chico, ouviu: ‘David, a morte não existe, seu filho está bem.’ Foi o começo de uma longa amizade entre o judeu cético e uma das figuras mais importantes do espiritismo. A primeira mensagem, em 1979, chegou na véspera do Dia dos Pais. A assinatura era muito semelhante à de Roberto. ‘Se foi uma mentira, foi a mais gostosa que ouvi. Se foi um teatro, foi o mais bonito que assisti. Ninguém trará meu filho de volta, mas as mensagens mudaram nossa vida’, diz David.”

Segundo IstoÉ, casos como esses e outros confrontam um “mundo invisível, habitado por espíritos”, à exatidão da ciência com suas idéias cartesianas. “Esses dois universos sempre mantiveram uma enorme e irreversível distância. Mas hoje o que parecia inconciliável se mostra complementar. ‘Cientistas de renome, como Stephen Hawking, reconhecem que é pouco inteligente supor que a nossa realidade é a única expressão do Universo’, diz a antropóloga Nara de Oliveira, professora e pesquisadora do Centro de Altos Estudos da Conscienciologia, em Foz do Iguaçu, Paraná. ‘A ciência física que conhecemos, dentro do paradigma materialista, não tem instrumental para estudar mecanismos subjetivos, como o espírito. Como trabalhar fenômenos extrafísicos com parâmetros físicos?’ Nara trabalha na Enciclopédia da Conscienciologia, sob a coordenação do médico Waldo Vieira. ‘Temos no Centro a maior biblioteca do mundo sobre experiências fora do corpo.’ O médico Sérgio Felipe de Oliveira, neurocientista com mestrado em ciências pela USP é idealizador do Projeto Uniespírito (Universidade Internacional de Ciências do Espírito) e estuda a mediunidade e os estados de transe. Defende em suas pesquisas que a glândula pineal – localizada no cérebro e que regula o ciclo do sono – seria o órgão sensorial da mediunidade. Segundo Sérgio, a pineal captaria informações do mundo espiritual por ondas eletromagnéticas, como ‘um telefone celular’, e as transformaria em estímulos neuroquímicos.”

A matéria afirma ainda que “o ambiente social hoje é mais favorável à diversidade em todos os sentidos. Nesse contexto, declarar que ‘qualquer pessoa pode sair do corpo físico e interagir com alguém que já morreu’ não choca pelo inusitado. Ex-marxista, Ronie Lima, 48 anos, reviu suas convicções a partir das experiências que viveu no centro espírita Lar de Frei Luiz e tornou-se um pesquisador da espiritualidade”. Ele diz que presenciou mortos falando de três formas: através de incorporação em médiuns, de materialização ou de vozes. Segundo o estudioso, a pessoa materializada volta “com o mesmo corpo, rosto e voz que tinha quando era viva”.

Para aqueles que experimentaram um contato com os supostos espíritos dos mortos, é difícil argumentar - racionalmente - na base do que a Bíblia ensina sobre o assunto. Os sentidos falam alto nessa questão, mas é bom lembrar que nem tudo o que o ser humano vê, toca ou ouve corresponde à realidade objetiva dos fatos. Segundo as Escrituras, os mortos não podem voltar ao mundo dos vivos (ver Eclesiastes 9:5, 6 e 10), uma vez que a morte, no contexto bíblico, é como um sono (João 11) do qual as pessoas acordarão apenas na volta de Jesus (I Tessalonicenses 4:16).

Na verdade, o que a Bíblia ensina sobre a morte é bem mais confortador. Como é bom pensar que nossos queridos mortos não estão contemplando as mazelas deste mundo e o sofrimento dos que ficaram vivos. Como é bom saber que um dia, na ressurreição que vai acontecer por ocasião da volta de Cristo, haverá um grande reencontro, de pessoas físicas, porém glorificadas, que poderão se abraçar e viver juntas para sempre num mundo físico, mas transformado pelo poder recriador de Deus. Um mundo onde não mais haverá morte, dor ou tristeza (ver apocalipse 21). Há esperança melhor que esta?

Quando Xavier diz que "a morte não existe", parece ecoar a voz de outro ser usado como médium, em Gênesis 3, que disse à primeira mulher criada: "Certamente não morrereis." Falando em Gênesis, é justamente esse livro bíblico que ensina (Gênesis 2:7) que o ser humano não tem uma "alma imortal", mas sim que ele é uma alma vivente. É por isso que Ezequiel 18:4 afirma que a alma morre, pois "alma" (do hebraico nephesh) nada mais é do que "ser vivente". Alma é a união do corpo (pó da terra) e do fôlego de vida, concedido por Deus. Um sem o outro não existe. Na volta de Jesus, o Criador fará um novo corpo para os salvos e lhes devolverá o fôlego (energia vital). Simples assim. Bom assim.

Essa crescente ênfase que o espiritualismo vem tendo na mídia, levando inclusive judeus, católicos e mesmo evangélicos a buscar conforto nas doutrinas espíritas, já estava prevista há mais de um século. No best-seller O Grande Conflito (www.cpb.com.br), a escritora Ellen White afirma que esse tipo de crença iria ganhar o mundo e conquistar respeito (em sua época – século 19 – o espiritismo não era visto com bom olhos). É justamente isso o que estamos vendo acontecer hoje - pessoas maravilhosas por quem Jesus morreu sendo levadas ao contato com espíritos que não são de mortos.

Michelson Borges é jornalista, mestrando em Teologia e autor do livreto Esperança Para Você (www.cpb.com.br).

Nota: na primeira semana deste mês foi a revista Época (8/07) que deu destaque ao espiritismo, com a chamada de capa “O novo espiritismo”. A foto que ilustra a capa é da top model Raica Oliveira, de 22 anos, que foi criada na religião espírita. A matéria informa que quando está nos Estados Unidos, Raica vai ao centro Casa São José, na cidade vizinha de New Jersey, freqüentado por brasileiros como Divaldo Pereira Franco e Raul Teixeira - considerados médiuns pelos adeptos da doutrina. “Do que mais gosto na minha religião é a idéia de que podemos sempre voltar à Terra de novo e aperfeiçoar nosso espírito”, diz Raica, o rosto do espiritismo jovem. “Sempre temos uma segunda chance.” Essa é a questão...

“Esqueça os copos que se movimentam sozinhos sobre a mesa branca, as operações com canivete e sem anestesia do médium Zé Arigó e as sessões de exorcismo coletivo transmitidas pelo rádio”, sugere Época. “Isso tudo ainda existe, mas o crescimento e a exportação da doutrina se devem principalmente a seu lado menos místico e mais racional.”

É o velho espiritismo com sua nova face. Mas os pilares da crença ainda estão lá: imortalidade da alma, reencarnação, evolução do espírito e contato com os mortos. Jogada de mestre: o mundo atual é, por um lado, fortemente racionalista, mas, por outro, muito místico (paradoxo pós-moderno). O espiritismo moderno atende ambos os "fregueses".

Segundo a reportagem, é curioso perceber que no maior país católico do mundo existam apenas 34 comunidades católicas no Orkut contra 366 espíritas. O IBGE calcula que a doutrina espírita tem 20 milhões de adeptos no Brasil. E quem contribui para o crescimento desse exército são as novelas. Segundo Época, a novela "Alma Gêmea", da Globo, teve o melhor Ibope do horário das 6 na última década, impulsionada por uma história de reencarnação. “Quando terminar 'Sinhá Moça', que está no ar com resultados inferiores aos de 'Alma Gêmea', entrará no ar 'O Profeta'”, anuncia a reportagem, numa auto-propaganda da empresa que mantém a revista. “Nova versão da novela de Ivani Ribeiro dos anos 70, na Tupi, a trama gira em torno de espiritismo e mediunidade.”

É bom lembrar que quando o personagem é evangélico, geralmente o tom é jocoso (lembra da Creuza, vivida por Juliana Paes?). O que não ocorre com os espíritas.

Mas o que surpreenderia mesmo (se não fosse profético) é o crescimento do espiritismo também nos Estados Unidos. Citado na reportagem do The New York Times (e na matéria de Época), o espírita Divaldo Pereira Franco, de 79 anos, começou a fazer palestras em 1962. “Em minha última palestra, em Baltimore, 70% da platéia era de americanos”, diz Franco. Em Nova York foram criados dez centros espíritas na última década. Em New Jersey, mais seis.

Mas isso tudo vai crescer ainda mais. Escreva isso. Ou melhor, nem precisa escrever. Já está escrito.