domingo, maio 04, 2008

Noé e a etimologia humana

À medida que as tradições universais do dilúvio se espalhavam pelo mundo com as migrações a partir do Ararate, o venerável nome de Noé as acompanhou.[1] Isso parece especialmente evidente através da antiga linguagem Sanscrita e do nome Manu. O termo Sanscrito por sua vez, pode ter vindo de uma palavra equivalente na assim chamada língua Proto-Indo-Européia.

Manu era o nome do herói do dilúvio nas tradições da Índia. Conta-se que ele, como Noé, construiu uma arca na qual oito pessoas foram salvas. Assim, é altamente provável que Noé e Manu eram o mesmo individuo; Ma é uma antiga palavra para "água", assim Manu poderia significar "Noé das águas". No Antigo Testamento Hebreu, as palavras "água" e "águas" são ambas traduções de myim, sendo que a sílaba yim é o sufixo padrão para o plural hebraico.

O prefixo ma poderia bem ser a forma original de mar e mer (espanhol e francês para "mar", ambos do latim mare) e assim de palavras inglesas tais com marine ("marinha", em português).

Em sânscrito, o nome Manu veio apropriadamente a significar "homem" ou "humanidade" (pois Manu ou Noé foi o pai de todo o gênero humano pós-diluviano). A palavra está relacionada ao germânico Mannus,[2] o fundador dos povos germânicos ocidentais. Mannus foi mencionado pelo historiador romano Tacitus em seu livro Germânia.[3] Mannus é também o nome do Noé lituano.[4] Outra forma sânscrita, manusa, está intimamente relacionada à palavra sueca manniska,[5] ambas as palavras significando "ser humano".

O mesmo nome pode até ser refletido no egípicio Menes (fundador da primeira dinastia egípcia) e Minos (fundador e primeiro rei de Creta). Dizia-se que Minos, na mitologia grega, era o filho de Zeus e chefe do mar.[6]

A palavra inglesa man (homem) bem como as suas equivalentes nas línguas germânicas são assim também relacionadas ao sânscrito Manu. O gótico, o mais antigo idioma germâ­nico conhecido, usava a forma Man-na, e também gaman ("o próximo").

O nome Anu aparece em sumério como o deus do firmamento, e o arco-íris era chamado de "o grande arco de Anu",[7] que parece ser uma clara referência a Noé (veja Gênesis 9:13). Na mitologia egípcia, Nu era o deus das águas que enviou uma inun­dação para destruir a raça humana.[8] Nu e sua noiva Nut eram deidades do firmamento e da chuva. Nu era iden­tificado com a inicial para massa líquida do céu, e seu nome significava também "céu".[9]

Na África, o rei do Congo (o império Congo antigamente incluía to­da a bacia do Congo, agora incorporando os territórios de Angola, Zaire, Cabinda e a República da Congo) era chamado Mani Congo. "Mani" era um título nobre dado a grandes chefes, ministros, governadores, sacerdotes e ao próprio rei. Esse império, de fato, foi certa feita chamado de império Manikongo.[10]

Na Europa, o prefixo ma pare­ce ter tomado freqüentemente a for­ma de da, que é uma antiga palavra para "água" ou "rio". Isso levou ao nome "Don", na Inglaterra e Rússia, e "Danúbio" nas Penínsulas Balcânicas. Os primeiros gregos que viviam no litoral eram chamados de Danaoi, ou "povo da água".[11] Variações do nome Danúbio têm incluído Donau, Dunaj, Duna, Dunan e Dunay. A raiz de todos esses nomes é danu, que quer dizer "rio" ou "correnteza".[12] Antigamente o rio letônio Divina era chamado Duna, sendo assim também da mesma palavra raiz Indo-Européia Danu. A similaridade de danu e ma­na é evidente.[13]

Da Índia, o sânscrito manu também foi para o leste. No Japão, manu se tornou "maru", pa­lavra que está incluída no nome da maioria dos navios japoneses. Na antiga mitologia chinesa, o deus Hakuda Maru veio do céu para ensinar ao povo como fazer navios. Esse nome poderia bem estar relacionado com Noé, o primeiro construtor de navios.

O costume de incluir "Maru" nos nomes dos navios japoneses parece ter começado entre os séculos XII e XIV. No término do século XVI, o senhor da guerra Hideyoshi construiu o primeiro navio japonês realmente grande, chamando-o de "Nippon Maru". Em japonês, "maru" também parece significar um lugar fechado arredondado, ou círculo de refúgio, por isso o círculo é considerado como um sinal de boa sorte. Naturalmente a arca de Noé foi o primeiro lugar fechado de refúgio.

Os aborígines do Japão são chamados de Ainu, palavra que significa "homem".[14] A palavra mai de­nota "homem aborígine" em algumas das línguas aborígines australianas. No Havaí, mano é a palavra para "tubarão" bem como o nome para o deus tubarão. Uma colina na ilha de Molokai é denominada Puu Mano ("monte do deus tubarão").[15] A pa­lavra para "montanha" é mauna, e pode ser também que as grandes montanhas vulcânicas havaianas (Mauna Loa, por exemplo, é o maior e mais ativo vulcão do mundo) lembravam aos primeiros fundadores a montanha vulcânica, de maneira que eles nomearam tais montanhas com o nome de seu ancestral Manu ou Noé. Ararate, a propósito, o mesmo que Armênia na Bíblia. O prefixo Ar significa "montanhas", assim, "Armênia" provavelmente significa "A montanha de Meni".

No continente americano, ma­nu parece ter sido modificado em diversas formas. Na língua Sioux, tomou a forma minne, significando "água". Assim, Mineapolis significa "cidade da água", Minnesota significa "água cor do céu", etc. Na língua Assiniboine, minnetoba significa "planície de água". Esse nome é preservado na província canadense Manitoba. Entretanto, essa palavra pode ter sido derivada das línguas Cree e Ojibiva-Saulteaux, na qual manito­ba significava "o lugar do Grande Espírito". Manitou ("o Grande Espírito") era o deus chefe entre os Algonquins.[16]

Até mesmo na América do Sul podem ser achados traços do antigo nome Manu. O nome de Manágua, a Capital da Nicarágua, vem do Nahuatl managuac, que significa "cercado por fontes".

Francisco Lopes de Gomara, se­cretário do conquistador Cortez, deixou uma descrição da legendária cidade de Manoa, supostamente a capital de El Dorado, a cidade de ouro. Manoa (significa "água de Noé"), da qual foi dito ser uma cidade morta no alto da Sierra Parina, entre o Brasil e a Venezuela.[17] A cidade brasileira de Manaus, no rio Amazonas, foi denominada em honra à tribo indígena aborígine Manau, que antigamente dominava a região. Na Bolívia há a cidade de Manoa e um rio chamado Manu, no Peru. De fato, diversos rios incluem "manu" em seus nomes - Tacuatjmanu é um exemplo. No Departamento de Madre de Dios, onde todos esses rios estão localizados, pela palavra "manu" se entende "rio" ou "água" Uma das províncias desse departamento, de fato, é chamada Manu e outra, Tahuamanu.

O hieróglifo egípcio para "água" era escrito como uma linha ondulada. Quando o alfabeto foi inventado, es­se símbolo se tornou a letra "m", representando mayim, a palavra semítica para "água". Na Fenícia de 1300 - 1000 a.C., era chamado mem, que mais tarde foi chamado mu, em grego, e finalmente em, entre os romanos.[18,19]

Outra reflexão do nome Noé pode ter sido a palavra assíria para "chuva", zunnu.[20] Janus, o deus de duas cabeças (de cujo nome provém a palavra "janeiro"), era considerado pelos primeiros habitantes da Itália co­mo o pai do mundo e como o inventor dos navios, e mais tarde como o deus dos pórticos. Todos esses conceitos seriam apropriados para Noé. Não é impossível que o nome Janus pudesse originalmente ter sido uma combinação de "Jah" e "Noé", significando dessa maneira "Senhor de Noé".

Na mitologia escandinava, Njord era o nome do deus dos navios, vi­vendo em Noatun, o ancoradouro dos navios. Nessa língua, a sílaba noa é relacionada com a palavra islandesa nor, que significa "navio".[21]

Similarmente, a palavra para "navio", no original sânscrito, é nau. Es­sa raiz tem se desenvolvido até no inglês em palavras como Navy, nautical, nausea, etc.[22] (Em português: "marinha", "náutico", "náusea"). Essa palavra poderia bem ser outra variação de "Noé", o primeiro mestre construtor de navios.

Além disso, há Ino, uma deusa do mar na mitologia grega, e a palavra grega naiade, significando "ninfa do rio".[23] Muitos outros exemplos poderiam ser citados.

Assim, Noé e as águas não somente são evocados nas antigas tradições de todas as nações, mas seus nomes têm sido também incorporados em muitas e variadas formas nas próprias línguas de seus descendentes. As trilhas são tênues e freqüentemente quase extintas, de maneira que algumas das conexões inferidas são especulativas e possivelmente erradas, mas as correlações são muito numerosas para serem somente coincidências, provendo assim mais uma evidência para o fato histórico do dilúvio global.

(Bengt Sage, comerciante australiano cujo passatempo é o estudo de línguas e a etimologia. Nasceu na Suécia e viajou por todos os continentes com a marinha mercantil. Tornou-se comprometido com o criacionismo como resultado da leitura do livro The Bible and Modern Science, em espanhol.)

Referências:

1. Esse estudo é necessariamente exploratório e um pouco especulativo. Apesar disso, é fascinante, e as correlações etimológicas são numerosas e detalhadas demais para serem coincidentes.
2. Veja o Oxford Dictionary of English Etymology.
3. Tacitus, The Agricula and the Germania, Middleses, England: Penguin Books, Ltd., 1970, p. 102.
4. Kolosimo, Peter, Not of This World, London, England: Sphere Books, Ltd., 1975, p. 171.
5. Veja o Syensk Etymologisk Ordbok.
6. Cerarn, C.W., Gods, Graves and Scholars, Middlesex, England: Penguin Pelican Books, 1974, p. 79-83.
7. Sandars, N. K, The Epic of Gilgamesh, Middlesex, England: Penguin Classics, 1960.
8. Tomas, Andrew. Atlantis from Legend to Discovery, London: Spherc Books, Ltd. 1972, p. 25.
9. Spence, Lewis, Myths and Legends of Ancient Egypt, London: Georgc C. Harrap e Co., Ltd.. 1915.
10. Hall. Richard. Discovery of Africa, Melbourne, Australia: Sun Books, Ltd., 1970, p. 67.
11. Veja o artigo sobre El Correo, publicado pela Unesco, abril 1960, p. 27.
12. Veja National Geographic. October 1977, p. 458.
13. Não há nenhuma documentação da mudança fonética de "ma" para "da", apesar de que isso seria muito provável, especialmente em vista dos significados similares dos seus derivados.
14. Fumeaux, Rupert. Ancient Mysteries, London: Futura Publications, Ltd. 1976.
l5. Pukui, Mary Kawerns, and Elbert, Samuel H., Place Naines of Hawaii, Honolulu: Uni­versity of Hawaii Press, 1966.
16. Veja brochura publicada pela Manitoba I Historical Society em Winnipeg, Canadá.
17. Kolosimo, Peter, Timeless Earth, London; Spherc Books, Ltd., 1974, pp. 136, 215.
18. Laird, Charlton, The Miracle of Language, New York: Fawcett World Library, 1967, p. 177.
19. Pci, Mario, Language for Everybody, New York: Pocket Books, Inc., 1958, p. 182.
20. Cleator, PF.‚ Lost Languages, New York: New American Library of Word Literature, 1962, p. 105.
21. Fiby, Frederick A., The Flood Reconsidered, London: Pickering and Inglis, 1970, p. 55-57.
22. Hellquist, Elof, Svensk Etimologisk Ordbok, Lund, Sweden: C.W.K. Gleerups Forlag, 1966, p. 701.
23. Cuerber, H. A., The Myths of Greece and Rome, London: George G. Harrap and Co., Ltd., 1948, p. 235.