sexta-feira, maio 02, 2008

O amor verdadeiro

O verdadeiro amor brota de uma relação viva com Cristo

Enquanto apresentava um estudo bíblico para um grupo de pessoas, um jovem fez uma declaração que me deixou pensativo: “Os adventistas são doutores em teologia, mas acho que ainda falta-lhes entender o real sentido do amor.”

Ao dirigir-me para casa, lembrei-me das palavras de outros irmãos (alguns hoje, infelizmente, são ex) que igualmente alegavam haver falta de amor na Igreja. Imediatamente fui à Bíblia e li o “salmo do amor” – I Coríntios 13 – em busca de uma resposta à pergunta: O que é esse amor que, dizem, falta-nos?

Pela enésima vez li aqueles 13 versículos tão profundos. Com muito cuidado pois, às vezes, corremos o risco de passar por alto conceitos importantíssimos pelo fato de já conhecer bem um texto. Algumas verdades se destacaram de imediato: (1) no verso 2 é dito que, ainda que possuamos qualquer dom espiritual, muito conhecimento científico e uma fé capaz de transportar montanhas, sem amor, de nada valem essas virtudes; (2) no verso 3, Paulo diz que, mesmo que distribuamos todos os nossos bens aos pobres e sejamos martirizados, sem amor, isso tudo de nada aproveita; (3) no fim do capítulo, o Apóstolo termina dizendo que o amor é maior que a fé e a esperança.

No entanto, o que realmente me chamou a atenção foram os versos 4 a 7. Há muitas semelhanças entre eles e o fruto do Espírito de Gálatas 5:22. Vejamos:

I Coríntios 13 – O amor: é benigno
Gálatas 5:22 – O fruto do Espírito é: benignidade

Amor: não se porta inconvenientemente
Fruto do Espírito: domínio próprio

Amor: não busca os seus próprios interesses
Fruto do Espírito: bondade

Amor: não se irrita
Fruto do Espírito: longanimidade / mansidão

Amor: regozija-se na verdade
Fruto do Espírito: fidelidade

Amor: tudo suporta, tudo crê, tudo sofre, tudo espera
Fruto do Espírito: paz / domínio próprio

Tamanha coincidência não pode ser mera semelhança. O próprio amor é a virtude que encabeça a lista de Gálatas 5:22. E se o amor é um dos “gomos” do fruto do Espírito Santo, mesmo que nos esforcemos, jamais poderemos fabricá-lo. Não existem estratégias ou métodos que nos façam sentir amor pelos irmãos.

O amor provém do Espírito de Deus. Sem comunhão com Deus, portanto, não pode haver amor. O correto não seria dizer: “A Igreja precisa de mais amor.” Isso, na verdade, é óbvio. Nossa maior necessidade, no entanto, é da presença do Espírito Santo em nossa vida. De nada adianta uma adoração “animada” por palavras de ordem, ou barulho; assim como de nada adianta uma simpatia forçada de uns pelos outros, ao convite de “vamos apertar a mão de quem está ao nosso lado”. A alegria do louvor e a simpatia entre os irmãos só existirão na medida em que cada um buscar o Espírito de Deus.

Muitos abandonam a Igreja alegando falta de amor por parte dos irmãos. Outros dizem que a Igreja é muito “parada”, “desanimada”, “morna”. Não se daria o caso de haver falta do fruto do Espírito em suas vidas?

Após minha conversão, há quase 15 anos, percebi que nem tudo era perfeito (com exceção das doutrinas) na Igreja que eu amava e amo. Mas percebi, também, que o amor por Cristo e a convicção da verdade suplantam todo problema. Se amamos a Jesus e estamos convictos da verdade, nada, nem a alegada falta de amor, pode nos afastar de Sua Igreja (afinal, se assim o fizermos, para onde iremos?).

O amor e a alegria fazem parte do fruto do Espírito. Precisamos do Espírito Santo habitando o templo do nosso coração. Mas como fazer isso? O discípulo do amor nos dá a resposta. Em sua terceira carta, João se refere a Gaio, exemplo de fidelidade e amor aos membros da Igreja, um homem que andava “na verdade” (verso 3). João menciona, também, Demétrio, de cuja vida a própria verdade dava testemunho (verso 12). Numa carta que trata da aplicação prática do cristianismo na vida individual, João associa o amor à verdade.

Isso é evidência inquestionável de que não pode haver amor na desobediência deliberada aos princípios bíblicos. Cristo mesmo disse: “Se Me amardes, guardareis os Meus mandamentos.” João 14:15. Veja: amor e obediência à verdade, uma vez mais, de mãos dadas. A verdade sem o amor é fria e formal, correta mas não cativante. O amor sem a verdade é mal orientado e desonesto. Por isso, “o mais forte argumento em favor do evangelho é um cristão que sabe amar e é amável” (Ciência do Bom Viver, pág. 470).

Obediência mediante a comunhão com Cristo: eis o segredo. Mantendo uma relação viva com Jesus, tornâmo-nos participantes da natureza divina (I Pedro 1:4), o que nos dá a capacidade de sentir um amor puro e desinteressado pelos outros. “Caso exista no coração a divina harmonia da verdade e do amor, resplandecerá em palavras e ações” (O Lar Adventista, pág. 426).

“O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos tocaram, isto proclamamos com respeito ao Verbo da vida.” I João 1:1. Neste texto, o verbo “contemplar” (Theomai) é diferente do verbo “ver” (Horao). Contemplar aqui significa uma experiência compenetrada para descobrir algo ou alguém. Portanto, precisamos contemplar a Cristo mais do que fazemos, para que o Espírito de Deus tome posse de nosso coração e transforme-nos a vida. Assim, “os pensamentos pecaminosos são afastados, renunciadas as más ações; o amor, a humildade, a paz tomam o lugar da ira, da inveja e da contenda. A alegria substitui a tristeza, e o semblante reflete a luz do Céu” (O Desejado de Todas as Nações, pág. 173).

Esse é o segredo do verdadeiro amor.

Michelson Borges