quarta-feira, maio 07, 2008

O ateísmo estridente de Dawkins na Época

A revista Época desta semana traz uma entrevista com o biólogo britânico Richard Dawkins, autor de Deus, um Delírio. Segundo Época, Dawkins “tomou para si uma missão: pregar a descrença em Deus. Para ele, as religiões têm uma tendência a fazer os fiéis cometer atos condenáveis e só sobrevivem porque ainda existe ignorância no planeta. Dawkins afirma que, para o bem do planeta, os ateus devem deixar a timidez de lado”.

Alguns trechos da entrevista [com meus comentários entre colchetes]:

ÉPOCA – Por outro lado, acreditar em Deus parece algo mais poderoso em termos de unir as pessoas em torno de um objetivo. Pelo menos mais poderoso que a idéia de não acreditar em nada, que é o que as pessoas em geral relacionam com o ateísmo.

Dawkins – Esta é uma boa observação. Mas, quando você vive em um país em que o governo diz tomar decisões com base na religião, você tem um motivo forte para fazer alguma coisa a respeito.

[Aqui Dawkins mistura as coisas, como vive fazendo quando trata de religião. Se um governo mistura fé e política, que culpa têm Deus e a religião? De forma semelhante, se algumas descobertas científicas foram usadas para o mal, que culpa tem a ciência?]

ÉPOCA– Quais são os principais obstáculos para disseminar suas idéias?

Dawkins – Há vários. Alguns temem desagradar a Deus só de ouvir o discurso de um ateu. Outros são apenas ignorantes, nunca ouviram uma boa argumentação científica. E também há o medo da reação da família e dos vizinhos. As pessoas precisam freqüentar a igreja de sua comunidade porque os pais, os avós, ou até mesmo o marido ou a mulher, são religiosos. Daí elas não querem decepcionar nem irritar gente tão próxima assim. Mas boa parte da resistência se deve à ignorância. No sentido de que muitas pessoas não entendem que a ciência não tem de dar uma explicação imediata para tudo o que hoje elas atribuem a Deus.

[Dawkins repete os argumentos de seu livro. Ele ignora deliberadamente os inúmeros cientitas que crêem em Deus e têm uma vida de fé. Ignora também os muitos ex-ateus que nada têm de ignorantes e que se tornaram religiosos não por imposições de família ou da comunidade. Por que ele sempre ignora esses casos? Dawkins também tenta opor a ciência à religião, como se ele sempre tivesse a primeira do seu lado. Mas basta analisar a criação de Dawkins, que ele nomeou "memes", para perceber que ele nem sempre faz ciência. Ele depende dessa entidade hipotética, não-observável, que pode ser dispensada por completo para explicar o que observamos. Mas não é essa a crítica ateísta a Deus: que Ele é uma hipótese não-observável que pode ser tranqüilamente dispensada? "A evidência científica dos memes é na verdade muito mais fraca que as evidências históricas da existência de Jesus - algo que Dawkins, reveladoramente, considera uma questão em aberto, enquanto defende com obstinação seu sonho do meme", afirma o ex-ateu Alister McGrath, no livro O Delírio de Dawkins.]

ÉPOCA– Se isso acontece em um país onde os níveis educacionais são razoavelmente altos, como os Estados Unidos, a situação deve ser pior em outros países...

Dawkins – Você imaginaria isso, não é verdade? Entretanto, o fato é que os Estados Unidos têm uma proporção muito mais alta de pessoas que não acreditam na evolução das espécies do que em qualquer país europeu, por exemplo. A única exceção é a Turquia.

[Dawkins tenta fazer crer que toda religião é má tendo como base os maus exemplos de certas religiões e certos religiosos - que devem ser, sim, criticados. Mas essa generalização toda do "devoto de Darwin" é equivocada e preconceituosa. Prefiro ficar com as palavras bem mais razoáveis e equilibradas do diretor da Skeptics Society (Sociedade dos Céticos): "Entretanto, para cada uma das grandes tragédias há dez mil atos de bondade pessoal e benefício social que ficam sem registro. ... A religião, como as instituições sociais de profundidade histórica e impacto cultural, não pode ser reduzida a um definitivo bem ou mal" (How We Believe, p. 71). Para McGrath, o fundamentalismo surge quando uma visão de mundo sente que está em perigo, atacando severamente seus inimigos quando teme que seu próprio futuro está ameaçado. E é assim que Dawkins se sente.]