quarta-feira, maio 07, 2008

O dilema das formas de transição

Hoje, uma das principais objeções feitas à teoria de Darwin diz respeito especialmente ao registro fóssil. Mesmo entre evolucionistas, existem sérias discussões sobre como interpretar o registro fóssil. Os fósseis, importantes fontes de evidências científicas relativas à história natural, refutam claramente a teoria da evolução e mostram que a vida sobre a Terra apareceu repentinamente, sem qualquer processo evolutivo. Em outras palavras, que as formas de vida foram criadas.

Se tivesse realmente havido um processo evolutivo na Terra, e se todas espécies vivas atualmente descendessem de um único ancestral comum, então deveriam ser descobertas claras evidências disso no registro fóssil. O bastante conhecido zoólogo francês Pierre Grassé assim se manifesta: "Os naturalistas devem se recordar de que o processo evolutivo é revelado somente através de formas fósseis ... somente a paleontologia pode prover-nos evidências da evolução e revelar-nos seus mecanismos ou a sua forma de agir." [1]

Para ver por que isso deve ser assim, precisamos dar uma rápida olhada na alegação fundamental da teoria da evolução: que todos os seres vivos descendem uns dos outros. Isso significa que um organismo vivo que tivesse surgido inicialmente de uma maneira aleatória, gradualmente teria se transformado em outros, e assim, todas as espécies seguintes teriam surgido – ou evoluído – dessa mesma maneira. De acordo com essa alegação não-científica, todas as plantas, animais, fungos e bactérias surgiram da mesma maneira. Os cerca de cem diferentes filos animais (compreendendo categorias básicas, tais como moluscos, artrópodes, vermes e esponjas) todos teriam descendido de um único ancestral comum. Ainda de acordo com essa teoria, invertebrados como esses, gradualmente, no decorrer do tempo e devido à pressão da seleção natural, se transformaram em peixes, que por sua vez se transformaram em anfíbios, que vieram a se transformar em répteis. Alguns répteis tornaram-se aves e outros mamíferos.

A teoria da evolução afirma que essa transição teve lugar gradualmente no decorrer de centenas de milhões de anos. Sendo este o caso, então incontáveis números de formas de transição deveriam ter surgido e deixado algum traço de sua existência no decorrer daquele período incomensuravelmente longo.

Criaturas meio-peixe, meio-anfíbio, que ainda teriam características de peixe, embora tendo adquirido quatro patas e pulmões, deveriam ter vivido no passado. Da mesma maneira, répteis-aves que mantivessem algumas características de répteis mas que tivessem adquirido características de aves deveriam também ter existido. Como essas espécies fariam parte de um processo de transição, elas também deveriam ter sido disformes ou mesmo deformadas. Por exemplo, as patas dianteiras de um réptil de transição deveriam cada vez mais assemelhar-se às asas de aves, à medida que passassem as gerações. Entretanto, no decorrer de centenas de gerações, essa criatura não teria nem patas dianteiras completamente funcionais, nem asas completamente funcionais – em outras palavras, ela teria existido de maneira disforme e deficiente. A essas criaturas teóricas, que os evolucionistas acreditam terem vivido no passado, é dado o nome de formas de transição.

Se criaturas desse tipo realmente tivessem existido num distante passado, então elas deveriam constituir milhões e talvez bilhões de criaturas, e os seus restos fósseis deveriam poder ser encontrados em escavações ao redor de todo o mundo. Darwin aceitou a lógica desse pensamento, e ele mesmo afirmou por que não se encontraria um número tão grande de formas de transição: "Pela teoria da seleção natural, todas as espécies vivas são interligadas com as espécies progenitoras de cada gênero, por diferenças não maiores do que as que vemos atualmente entre as variedades natural e doméstica das mesmas espécies; e essas espécies progenitoras hoje geralmente extintas, por sua vez, teriam sido interligadas de maneira semelhante com outras formas mais antigas; e assim sucessivamente, sempre convergindo para o ancestral comum de cada grande classe." [2]

O que Darwin está querendo dizer é que, independentemente de quão pequena possa ser a diferença entre as espécies vivas hoje – entre um cão pastor alemão com pedigree e um lobo, por exemplo – a diferença entre os ancestrais e os descendentes, que alegadamente devem ter-se sucedido um ao outro, precisa ser igualmente pequena.

Por essa razão, se realmente a evolução tivesse acontecido como afirmado por Dawin, então ela teria se sucedido através de mudanças graduais bastante diminutas. A alteração efetiva em um ser vivo exposto a mutações teria de ser muito pequena. Milhões de pequenas alterações precisariam combinar-se no decorrer de milhões de anos para que as patas se transformassem em asas funcionais, as guelras em pulmões capazes de respirar o ar, ou as nadadeiras em pés capazes de andar sobre o solo. Certamente, um processo como esse teria de dar origem a milhões de formas de transição. Darwin tirou, então, a seguinte conclusão como conseqüência de sua afirmação anterior: "O número de elos intermediários e de transição entre todas as espécies vivas e extintas deve ter sido inconcebivelmente grande." [3}

Darwin expressou ainda esse mesmo ponto de vista em outras partes de seu livro: "Se minha teoria for verdadeira, numerosas variedades intermediárias ligando mais entre si todas as espécies do mesmo grupo certamente deveriam ter existido... Conseqüentemente, deverão ser encontradas evidências da sua existência anterior somente entre os restos fósseis que se encontrem preservados, como tentaremos mostrar em capítulo seguinte, em um registro extremamente imperfeito e intermitente." [4]

Portanto, Darwin estava bem ciente de que jamais haviam sido descobertos fósseis desses elos de transição. Isso ele considerava como um grande empecilho à sua teoria. Portanto, no capítulo “Dificuldades da Teoria”, no seu livro A Origem das Espécies, ele escreveu o seguinte: "Porém, exatamente na mesma proporção em que esse processo de extermínio atuou em tão grande escala, deveria ter existido um número de variedades intermediárias verdadeiramente enorme, variedades estas que teriam existido sobre a terra. Por que então todas as formações geológicas, em todos os estratos, não estão repletas de formas de transição como essas? A geologia certamente não revela nenhuma cadeia orgânica com gradação tão fina como esta; e isto talvez seja a objeção mais óbvia e mais grave que possa ser feita contra a minha teoria." [5]

Em face desse grande dilema, a única explicação que Darwin apresentou foi a insuficiência do registro fóssil em seu tempo. Ele afirmava que as formas de transição não existentes inevitavelmente apareceriam quando o registro fóssil fosse completado e examinado detalhadamente.

Entretanto a pesquisa de fósseis durante os últimos 150 anos revelou que as expectativas de Darwin – e de todos os evolucionistas que o acompanharam – realmente eram expectativas vãs: não foi encontrado sequer um simples fóssil de qualquer forma de transição! Até hoje, existem cerca de 100 milhões de fósseis preservados em milhares de museus e exposições. Todos eles são restos de espécies plenamente desenvolvidas com suas características específicas, separadas de todas as outras espécies por características fixas. Fósseis de meio-peixe, meio-anfíbio; meio-dinossauro, meio-ave; e meio-símio, meio-humano, preditos tão confiantemente e definidamente pelos evolucionistas, jamais foram encontrados.

Apesar de ser evolucionista, Steven M. Stanley, da John Hopkins University, admite que "o registro fóssil conhecido não está e nunca esteve de acordo com o gradualismo... Poucos paleontólogos modernos parecem ter sabido que no último século, como escreveu recentemente o historiador da biologia William Coleman, 'a maioria dos paleontólogos sentiu que as evidências contradizem firmemente a afirmação de Darwin a respeito de alterações lentas, pequenas e cumulativas levando as espécies a se transformarem'. No próximo capítulo descreverei não só o que os fósseis têm a dizer, mas porque essa história tem sido suprimida." [6]

Ian Tattersall e Niles Eldredge, curadores do Departamento de Antropologia do American Museum of Natural History, na cidade de Nova York, descrevem como o registro fóssil contradiz a teoria da evolução: "O registro é descontínuo, e todas as evidências mostram que ele é real: os hiatos que vemos refletem acontecimentos reais na história da vida – não o resultado de um registro fóssil deficiente." [7]

Como afirmam esses cientistas evolucionistas, a verdadeira história da vida pode ser vista no registro fóssil, onde, entretanto, não existem formas de transição nessa história.

Outros cientistas admitem também a ausência de formas de transição. Rudolf A Raff, diretor do Indiana Molecular Biology Institute, e Thomas C. Kaufmann, pesquisador da Universidade de Indiana, escreveram: "A ausência de formas ancestrais ou intermediárias entre espécies fósseis não é uma peculiaridade bizarra da história inicial dos metazoários. Hiatos são gerais e prevalecentes ao longo do registro fóssil." [8]

Existem ainda fósseis preservados de bactérias que viveram presumivelmente há bilhões de anos. Entretanto, é impressionante que tenha sido encontrado nenhum simples fóssil de qualquer forma de transição imaginável. Existem fósseis de muitas espécies, de bactérias a formigas, e de aves a plantas com flor. Mesmo fósseis de espécies extintas têm sido preservados tão bem que somos capazes de apreciar o tipo de estruturas que essas espécies uma vez tão abundantes apresentavam, e que jamais vimos em espécies vivas.

A ausência de sequer uma única forma de transição entre fósseis provenientes de fontes tão ricas demonstra não a insuficiência do registro fóssil, mas a invalidade da teoria da evolução.

A despeito dessa ausência de fósseis de transição, que são tão importantes para a teoria da evolução, livros, revistas e alguns livros-texto ainda fazem referência a essas “formas de transição”. Muitas delas – Archaeopteryx ou Lucy, por exemplo – têm-se tornado emblemáticas a favor da teoria da evolução. Às vezes, podem ser encontradas manchetes em jornais e revistas destacando que “Foi encontrado o elo perdido!” Tais reportagens alegam que algum novo fóssil recentemente descoberto representa a forma de transição que os evolucionistas têm estado a procurar durante todos esses anos. Isso sendo assim, então, o que são esses fósseis de transição?

A maioria dessas assim chamadas “formas de transição” na realidade nada têm de transição. Todas elas são fósseis de espécies singulares e plenamente desenvolvidas, não tendo nenhum relacionamento ancestral com qualquer outra espécie. Utilizando interpretações pré-conceituosas e métodos fraudulentos, entretanto, os evolucionistas descrevem esses fósseis como formas de transição. Porém, todas essas assim chamadas “formas de transição” são assunto de debate entre os próprios evolucionistas. De fato, mesmo alguns evolucionistas que não temem encarar os fatos declaram que elas não são formas de transição, de maneira alguma!

(Science Research Foundation)

Obs.1: Considerações sobre esse tema também são feitas em alguns capítulos dos livros Evolução - Um Livro Texto Crítico e Em Busca das Origens - Criação ou Evolução?, ambos da Sociedade Criacionista Brasileira.

Referências:

1. Pierre P. Grassé, Evolution of Living Organisms, New York: Academic Press, 1977, p.4.
2. Charles Darwin, A Origem das Espécies, p. 281-283.
3. Ibid., capítulo IX, p. 293.
4. Ibid., p. 211.
5. Ibid., p. 291, 292.
6. S. M. Stanley, The New Evolutionary Timetable: Fossils, Genes and the Origin of Species, New York: Basic Books, Inc., 1981, p. 71.
7. Niles Eldredge, Ian Tattersall, The Myths of Human Evolution, New York: Columbia University Press, 1982, p. 59.
8. R. A. Raff, T. C. Kaufman, Embryos, Genes and Evolution: The Developmental Genetic Basis of Evolutionary Change, in: Indiana University Press, 1991, p. 34.