sexta-feira, maio 02, 2008

O evangelho da auto-ajuda

A revista Veja do dia 12 de junho trouxe como matéria de capa a reportagem intitulada “Os novos pastores”. O subtítulo diz: “Com menos ênfase no sobrenatural e mais investimento em técnicas de auto-ajuda, a nova geração de pregadores evangélicos multiplica o rebanho protestante e aumenta a sua penetração na classe média.”

O texto informa que nas últimas décadas a Igreja Católica perdeu nada menos do que 15 milhões de adeptos. De acordo com o estudo do qual Veja obteve esses dados há três motivos para esse êxodo: (1) discordância em relação aos princípios católicos; (2) sensação de não ser acolhido pela igreja; e (3) o fato de não ter encontrado nela apoio para os momentos difíceis.

A matéria também revela que de cada dez ex-católicos, sete se tornam evangélicos. De 2000, ano do último censo, a 2003, o número de evangélicos brasileiros passou de 15 por cento para quase 18 por cento da população. “Em valores absolutos, isso significa dizer que, em três anos, quase 6 milhões de brasileiros aderiram ao protestantismo, que continua crescendo com fôlego renovado graças ao trabalho de uma nova geração de pastores.”

Depois de dar essas e outras informações, Veja passa a analisar a mudança de foco desses novos pastores. “A nova geração de líderes evangélicos achou um caminho muito mais certeiro e útil de chegar ao coração dos fiéis: o da auto-ajuda. A promessa é a mesma que ofereciam pentecostais e neopentecostais da geração passada: o da felicidade e prosperidade aqui e agora.”

É certo que a Bíblia apresenta a alegria como um dos frutos do Espírito (ver Gálatas 5), e que, portanto, a pessoa que vive em comunhão com Deus será feliz, mesmo que tenha que passar pelo "vale da sombra da mrote" (Salmo 23). Mas essa felicidade não deriva necessariamente de boas condições materiais, da prosperidade. Na verdade, Jesus mesmo disse que Seus seguidores teriam “aflições” nesta vida – e é bom lembrar que praticamente todos os discípulos e seguidores de Cristo nos primórdios do cristianismo ou foram martirizados ou sofreram perseguição por causa de sua fé. E a maioria foi pobre, embora não seja pecado ser abastado.

Jesus prometeu uma vida de abundância a Seus servos (e essa abundância não tem que ver unicamente com o aspecto material), mas disse também que eles deveriam buscar “em primeiro lugar o reino de Deus”. Quando a igreja perde esse foco, torna-se uma instituição desvirtuada, preocupada apenas em engordar suas fileiras, pregando um evangelho conveniente, moldável e simpático.

A igreja deve ajudar as pessoas em suas lutas temporais, mas apontando para Aquele que as pode ajudar de fato. Assim, poderíamos dizer que se deve ensinar o ser humano a contar com a ajuda do alto e não com a auto-ajuda. Quem somos nós para resolver aqueles problemas mais graves da vida, como a morte? Evidentemente que temos a nossa parte a desempenhar na existência, mas Deus, como bom Pai que é, espera que contemos com Ele. Em tudo.

Michelson Borges