segunda-feira, maio 05, 2008

O fracasso judaico-cristão (parte 1 de 3)

“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis Eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! – Jesus Cristo, em Mateus 23:37

A Assembléia-Geral das Nações Unidas aprovou, no mês de outubro de 2003, por 144 votos a 4, resolução que condenou Israel pela iniciativa de construir um muro separando seu território dos territórios palestinos. Embora o objetivo alegado tenha sido conter a onda de atentados terroristas, o muro de concreto e, em alguns pontos, de arame farpado, acabou separando pessoas do hospital mais próximo ou mesmo seu lugar de residência do local de trabalho.

Dois milênios atrás, Israel também havia erigido um muro, não de concreto, mas de preconceito. Os povos não-israelitas eram considerados gentios e nem sequer podiam adentrar o Templo para adorar o Deus dos judeus. Aos gentios restava ficar do lado de fora do local de adoração. Foi exatamente isso o que aconteceu com um alto funcionário da rainha Candace, da Etiópia (cf. Atos 8:26-38). O etíope viajara até Jerusalém para adorar a Deus. Imagino que concepção ele deve ter tido desse Deus, pela atitude discriminatória dos judeus. No caminho de volta para seu país, ele lia o rolo de Isaías em sua carruagem, sem entender a mensagem do livro. Estivera no local que deveria ser o centro de irradiação da verdade sobre Deus, mas voltava para casa cheio de dúvidas. Graças a Deus, Filipe foi enviado até o eunuco, explicou-lhe a mensagem de Isaías e lhe falou sobre o Salvador Jesus Cristo. A mente do etíope foi aberta, seu coração tocado, e ele foi batizado num rio à margem do caminho. Com certeza, ao chegar à Etiópia, esse homem testemunhou sobre o que havia aprendido.

Deus tinha planos muito especiais ao escolher os israelitas para serem Seu povo. Jamais fora Sua intenção privilegiar uma nação em detrimento das outras, afinal, o Criador ama todas as Suas criaturas. Israel é que entendeu mal seu chamado, tornando-se um povo isolacionista. Note o que diz Isaías 56:3-7:

“Que nenhum estrangeiro que se disponha a unir-se ao Senhor venha a dizer: ‘É certo que o Senhor me excluirá do seu povo’. E que nenhum eunuco se queixe: ‘Não passo de uma árvore seca’. Pois assim diz o Senhor: ‘Aos eunucos que guardarem os Meus sábados, que escolherem o que Me agrada e se apegarem à Minha aliança, a eles darei, dentro de Meu templo e dos seus muros, um memorial e um nome melhor do que filhos e filhas, um nome eterno, que não será eliminado. E os estrangeiros que se unirem ao Senhor para servi-Lo, para amarem o nome do Senhor e prestar-Lhe culto, todos os que guardarem o sábado deixando de profaná-lo, e que se apegarem à Minha aliança, esses Eu trarei ao Meu santo monte e lhes darei alegria em Minha casa de oração. Seus holocaustos e demais sacrifícios serão aceitos em Meu altar; pois a Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.’” (NVI)

Casa de oração para todos os povos. O propósito divino fica bem claro nessas palavras.

Houve uma ocasião que poderia ter se tornado a regra, caso Israel tivesse sido fiel à sua missão. O relato a que me refiro se encontra em 1 Reis 10:1-13:

“A rainha de Sabá soube da fama que Salomão tinha alcançado, graças ao nome do Senhor, e foi a Jerusalém para pô-lo à prova com perguntas difíceis. Quando chegou, acompanhada de uma enorme caravana, com camelos carregados de especiarias, grande quantidade de ouro e pedras preciosas, fez a Salomão todas as perguntas que tinha em mente. Salomão respondeu a todas; nenhuma lhe foi tão difícil que não pudesse responder. Vendo toda a sabedoria de Salomão, bem como o palácio que ele havia construído, o que era servido em sua mesa, o alojamento de seus oficiais, os criados e os copeiros, todos uniformizados, e os holocaustos que ele fazia no templo do Senhor, a visitante ficou impressionada. Então ela disse ao rei: ‘Tudo o que ouvi em meu país acerca de tuas realizações e de tua sabedoria é verdade. Mas eu não acreditava no que diziam, até ver com os meus próprios olhos. Na realidade, não me contaram nem a metade; tu ultrapassas em muito o que ouvi, tanto em sabedoria como em riqueza. Como devem ser felizes os homens da tua corte, que continuamente estão diante de ti e ouvem a tua sabedoria! Bendito seja o Senhor, o teu Deus, que Se agradou de ti e te colocou no trono de Israel. Por causa do amor eterno do Senhor para com Israel, Ele te fez rei, para manter a justiça e a retidão.’ ... O rei Salomão deu à rainha de Sabá tudo o que ela desejou e pediu, além do que já lhe tinha dado por sua generosidade real. Então ela e os seus servos voltaram para o seu país.” (NVI)

Ellen White, em seu livro Profetas e Reis, às páginas 32 e 34, diz que “o nome de Jeová foi grandemente honrado durante a primeira parte do reinado de Salomão. A sabedoria e justiça reveladas pelo rei deram testemunho a todas as nações da excelência dos atributos do Deus que ele servia. Por algum tempo, Israel foi a luz do mundo, revelando a grandeza de Jeová”.

Esses textos demonstram o que poderia ter ocorrido com todas as nações da Terra. Todos os povos teriam visto como seriam felizes, sábios e prósperos os israelitas, caso seguissem os planos e orientações de Deus para eles. Essa distinção por certo atrairia muitas pessoas e mesmo nações inteiras para o Deus verdadeiro, e para longe do paganismo. Seria um testemunho do que acontece na vida dos que mantêm uma relação íntima com o Criador do Universo. Mas, infelizmente, foi Israel que acabou imitando as nações em redor, e não o contrário. Esse foi o fracasso do Judaísmo.

O povo de Deus acabou adotando práticas pagãs condenáveis, como a idolatria e a licenciosidade. O Senhor ainda enviou muitos profetas com mensagens de arrependimento, mas foram desprezados e até mesmo perseguidos e mortos pelos que deveriam acatar suas palavras. Satanás levara o povo ao exclusivismo e ao legalismo. Infelizmente, por algum tempo, de modo geral os planos de Deus, uma vez que dependiam também da resposta humana, pareciam mesmo destinados ao fracasso. Israel criara não apenas um muro de concreto e arame farpado, como o que foi edificado dois mil anos depois, mas um muro de preconceito que impedia pessoas sinceras de conhecer o Deus verdadeiro. Felizmente, as coisas não ficariam assim por muito tempo. Deus levou avante Seu propósito de mostrar às nações o que ocorre nos bastidores do conflito cósmico entre o bem e o mal, mas teve que fazer uma mudança de planos devido à resposta negativa dos judeus de então. Mas que “mudança de planos” foi essa?
Michelson Borges

[Continua...]