segunda-feira, maio 05, 2008

O fracasso judaico-cristão (parte 3 de 3)

Não foi só o preceito bíblico do sábado que foi adulterado pela igreja dominante. Aos poucos, outras doutrinas pagãs foram sendo incorporadas pelo Cristianismo oficial. Outra grande contradição – não apenas do romanismo – é, sem dúvida, a questão da imortalidade da alma. A veneração dos mortos, bem como o uso de imagens, começou no ano 375 d.C., e a crença no Purgatório foi confirmada pelo Concílio de Trento, em 1563. Resumindo, muitas igrejas sustentam que o ser humano possui uma alma, independente do corpo e imortal. Será isso o que diz a Bíblia?

O livro de Gênesis, no capítulo 2, versículo 7, é bem claro sobre a natureza humana: “Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.” Aqui vemos os dois elementos constituintes do ser humano: o pó da terra e o fôlego de vida. Juntos eles formam a alma ou ser vivente.

“A palavra hebraica Nephesh, que é aqui traduzida por alma, não conota uma entidade etérea que pudesse ter uma existência à parte do corpo”, escreveu o doutor em línguas do Antigo Testamento, Siegfried Schwantes, no livro O Despontar de uma Nova Era, na página 249. “De fato, o adjetivo vivente é acrescentado para qualificar alma, que por si só não tem conotação alguma de auto-existente ou imortal. Poder-se-ia igualmente bem traduzir a palavra Nephesh por ser, e se poderia ler no verso de Gênesis 2:7: ‘ser vivente’ tão bem como ‘alma vivente’. Uma concordância bíblica revelará que a palavra Nephesh é realmente traduzida dezenas de vezes pela palavra ser. Um exemplo à mão seria Gênesis 7, verso 23, no qual, no contexto do Dilúvio, fala-se da exterminação de todos os ‘seres’.”

A teoria da imortalidade da alma é, portanto, completamente estranha à Bíblia e constitui-se uma verdadeira heresia. Essa idéia, defendida pelo filósofo grego Platão, foi gradativamente sendo introduzida no Cristianismo a partir do terceiro século d.C. A Bíblia ensina que só Deus é imortal (1 Timóteo 6:15 e 16) e é bem clara quando diz que “a alma que pecar, essa morrerá”. Ezequiel 18:4 e 20 (Cf. também Isaías 51:12.) Isso torna evidente que a alma (ser vivente) morre. E é fácil de compreender isso, pois “pó da terra” é algo sem vida, assim como o “fôlego”. Só existe vida na união destes dois elementos: pó e fôlego de vida. Assim, pó + fôlego de vida = ser vivente.

O que é, então, a morte? Podem os mortos voltar ao mundo dos vivos? Onde estão os mortos? Naturalmente a Bíblia tem as respostas. De acordo com Eclesiastes 9:5 e 6, os mortos não sabem coisa alguma e não podem intervir no mundo dos vivos, pois “não têm eles parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol” (ver também Salmo 146:4). Por isso, Cristo comparou a morte ao sono (João 11:11), do qual os filhos de Deus despertarão por ocasião da segunda vinda de Cristo (João 6:40; 14:1-3; 5:28; 1 Tessalonicenses 4:16).

Veja, se a vida só existe na união pó da terra + fôlego de vida, a morte é, então, o oposto dessa fórmula: pó da terra - fôlego de vida = morte (não-vida). É o que diz a Bíblia em Eclesiastes 12:7: “O pó volte à terra, de onde veio, e o espírito [fôlego] volte a Deus, que o deu” (NVI). Por isso, “o que as suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, pois na sepultura, para onde você vai, não há atividade nem planejamento, não há conhecimento nem sabedoria” (Eclesiastes 9:10).

O ser humano apenas pode ter a vida eterna por meio de Cristo que é o “caminho, a verdade e a vida”. Uma vez “dormindo”, só poderá ressuscitar ao chamado de Jesus, em Sua segunda vinda, assim como os que estiverem vivos, por ocasião desse acontecimento, serão transformados (ver 1 Coríntios 15:51 e 52) e juntos com os que estavam mortos – não antes, nem depois – subirão para se encontrarem com Deus (ver 1 Tessalonicenses 4:13-17).

A mudança do memorial da Criação, o dia de adoração, do sábado para o domingo; a adoção da crença na imortalidade incondicional da alma; a doutrina antibíblica do inferno; e a intercessão de seres humanos (o único Intercessor entre Deus e a humanidade, segundo a Bíblia, é Jesus) são apenas alguns exemplos ilustrativos do quanto a mensagem cristã original foi adulterada. Muitos outros exemplos poderiam ser dados, mas creio que estes bastam para o propósito deste estudo.

Com o tempo, o Cristianismo acabou se tornando uma religião assustadora e opressiva. Muitos abraçavam a fé cristã (católica) ou por medo do fogo do inferno ou para salvar a própria pele e se livrar dos tribunais do “Santo” Ofício, que condenavam os que discordassem das doutrinas católicas. Por isso não podemos culpar certas pessoas que, como Arthur Clarke, dizem coisas do tipo: “Basta olhar tudo o que foi feito em seu [do Cristianismo] nome nos últimos milênios para perceber que o Cristianismo poderia ter sido a melhor das religiões, mas nunca foi praticado direito.”

Com o fracasso do Judaísmo, Deus utilizou a igreja cristã primitiva como instrumento de disseminação de Sua mensagem de salvação (o que fez, efetivamente, por algum tempo). Satanás, uma vez mais agindo nos bastidores, adulterou a pura mensagem divina, retirando-lhe o poder. Mas os propósitos de Deus não seriam impedidos. Um novo ato estava sendo preparado e logo novos personagens entrariam em cena, rasgando as trevas do engano com a poderosa luz da verdade.

Michelson Borges