sexta-feira, maio 02, 2008

O que é Deus?

Em 1887, o escritor alemão Freidrich Nietzsche, mais conhecido entre as modernas gerações como o autor de Assim Falou Zaratustra, declarou que “Deus está morto”. A frase, vinda do filho de um pastor luterano que também havia estudado teologia antes de se tornar filólogo, professor e escritor, rodou o mundo e foi repetida, em forma de pergunta, por uma famosa capa da revista Time, em abril de 1966.

A idéia de Nietzsche, repetida em diversas de suas obras, era que o homem havia matado Deus e que a ausência da divindade causava uma rejeição de valores morais, da crença de que havia uma lei ética, objetiva e universal.

A revista Time não afirmou, simplesmente indagou e o debate continua. [...]

Pessoalmente, acredito que o ateu é um imprudente, pois está pronto a fazer uma aposta de alto risco – a de que não há uma vida além daquela que vemos com nossos ohos e tocamos com nossos dedos – sem dispor de todas as informações.

A conquista do Prêmio Nobel de Física por dois astrônomos americanos, que colocaram além de qualquer dúvida razoável a teoria de que o Universo originou-se há 14 bilhões de anos através de uma grande explosão (o Big Bang), lembra também a declaração de um deles, George F. Smoot, à época em que seus estudos se tornaram conhecidos: “É como olhar para Deus.”

O Nobel veio agora, mas os estudos de George Smoot e seu companheiro John C. Mather se iniciaram em 1989. Ao longo de três anos, rastrearam as microondas cósmicas que são um eco do Big Bang, descobrindo, durante a caminhada, que há no Universo uma força desconhecida chamada energia escura e uma não menos misteriosa massa escura, muito maior do que a que até agora conseguimos perceber.

As flutuações nas radiações cósmicas permitiram detectar as “sementes” do que viriam a ser as galáxias e são tão revolucionárias para a Física quanto a descoberta do DNA para a Biologia.

Hoje sabemos o que ocorreu desde uma fração de segundo depois do Big Bang, até os dias atuais, 14 bilhões de anos mais tarde. O que aconteceu naquela fração de segundo e o que ocorreu antes do Big Bang, o que existe do outro lado – eis a grande, a insondável questão. Como disse o dr. Smoot em 1992, se chegarmos a saber o que se passou, descobriremos o mecanismo que regula o Universo. Se isso não é Deus, o que é?

(José Inácio Werneck, no Direto da Redação)

Nota: Esse texto do Werneck me fez lembrar do famoso Argumento Cosmológico para a existência de Deus e das palavras do Salmo 19:1: “Os céus manifestam a glória de Deus.”

De fato, a teoria mais aceita para a origem do Universo é a do Big Bang. Toda a matéria do cosmos estaria compactada num único ponto de densidade quase infinita que explodiu, dando origem às galáxias, estrelas e planetas. Se é correta ou não essa teoria, o fato é que quase nenhum cientista discute se o Universo teve um início ou não. Assim, ficamos diante do seguinte pensamento lógico

1. Tudo o que teve um começo teve uma causa.
2. O Universo teve um começo.
3. Portanto, o Universo teve uma causa.

Há outra linha de raciocínio que nos leva à conclusão de que o Universo teve um começo:

Segunda lei da termodinâmica – A cada momento que passa, a quantidade de energia utilizável no Universo está ficando menor.

Primeira lei da termodinâmica – A quantidade de energia no Universo é constante e finita.

Se seu carro tem uma quantidade finita de combustível (primeira lei) e ele está consumindo combustível durante todo o tempo em que está em movimento (segunda lei), seu carro estaria andando agora se você tivesse ligado a ignição há um tempo infinitamente distante?

O Universo estaria sem energia agora se estivesse funcionando desde toda a eternidade passada. Mas aqui estamos nós. Logo, o Universo deve ter começado em algum tempo no passado finito. Ele não é eterno – teve um começo.

A segunda lei também é conhecida como lei da entropia, que é a tendência à desordem. De onde veio a ordem original? E se ainda temos alguma ordem – assim como temos energia utilizável –, o Universo não pode ser eterno, porque, se fosse, teríamos alcançado a completa desordem (entropia) neste momento.

“No tempo real, o Universo tem um início”, escreveu Stephen Hawking, em Uma Breve História do Tempo.

O astrônomo Robert Jastrow disse: “Os astrônomos percebem agora que se colocaram numa encruzilhada, porque provaram, por seus próprios métodos, que o mundo começou abruptamente, num ato de criação ao qual se pode rastrear as sementes de toda estrela, todo planeta, toda coisa viva no cosmo e na terra. Eles descobriram que tudo isso aconteceu como um produto de forças que não esperavam encontrar [...] isso que eu e qualquer pessoa chamaria de força sobrenatural é, agora, penso eu, um fato cientificamente comprovado” (Christianity Today, 6 de agosto de 1982).

Não havia mundo natural ou leis naturais antes do surgimento do Universo. Uma vez que a causa não pode vir depois de seu efeito, as forças naturais não foram responsáveis pela origem do Universo. Portanto, deve haver alguma coisa acima da natureza para realizar o trabalho. Isso é o que significa a palavra sobrenatural.

Quando o escritor e cientista Fred Heeren perguntou a Robert Wilson (um dos descobridores da radiação de fundo do Big Bang) se a evidência do Big Bang é indicativa de um Criador, ele respondeu: “Certamente houve alguma coisa que fez tudo funcionar. Se você é religioso, é certo que não posso pensar numa teoria melhor da origem do Universo do que aquela relatada no Gênesis” (The Expanding Universe, pág. 178 - citado em Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu).

Uma vez que a evidência mostra que tempo, espaço e matéria foram criados em algum momento no passado, a mais provável conclusão científica é que o Universo foi causado por alguma coisa externa ao tempo, ao espaço e à matéria (uma Causa Eterna).

Assim, há duas possibilidades para qualquer coisa que exista:

1. Ou essa coisa sempre existiu e, portanto, não possui uma causa,
2. ou ela teve um início e foi causada por outra coisa (não pode ser sua própria causa, porque teria que ter existido antes).

Logo, o Universo teve um início e, portanto, deve ter sido causado por alguma outra coisa. Conclusão compatível com as religiões teístas, mas não baseada nessas religiões. Está baseada em razão e provas.

A causa primeira deve ser:

>> Auto-existente, atemporal, não espacial e imaterial (já que ela criou o tempo, o espaço e a matéria). Ou seja, não tem limites ou é infinita.

>> Inimaginavelmente poderosa para criar todo o Universo do nada.

>> Supremamente inteligente para planejar o Universo com precisão incrível (teleologia).

>> Pessoal, com o objetivo de optar por converter um estado de nulidade em um Universo tempo-espaço-matéria (uma força impessoal não tem capacidade de tomar decisões).

Essas características da Causa Primeira são exatamente as características teístas atribuídas a Deus.

“À luz das evidências, somos deixados apenas com duas opções: ou ninguém criou alguma coisa do nada ou alguém criou alguma coisa do nada. Que visão é mais plausível?” (Não tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu, pág. 95).