Do “ponto de vista geral, naturalista ou materialista”, é “incompreensível” que o “Universo seja... compreensível” aos seres humanos.
Outra das famosas declarações de Einstein é que a única coisa incompreensível acerca do Universo é que ele é compreensível. O sucesso do empreendimento científico pode, com freqüência, cegar-nos quanto ao fato assombroso de que a ciência funciona. Por meio dela, tomamos por certo que seja tanto promissor quanto profundamente misterioso sermos capazes de compreender as atuações da natureza, usando o método científico. O propósito da ciência é desvendar espécimes e regularidades na natureza, porém, a crua observação raramente demonstra regularidades explícitas. A ordem natural das coisas é-nos oculta. O livro da natureza foi escrito de maneira codificada, ou enigmática. Para que a ciência seja bem-sucedida, precisamos desvendar o código cósmico, buscar dados e descobrir essa ordem oculta.
Para retornar à analogia das palavras cruzadas, as chaves do mistério são altamente intrincadas. Isso requer até uma certa ingenuidade a fim de que seja solucionado o enigma. O que é sobremaneira notável é que os seres humanos podem, em realidade, efetuar essa operação de decodificação. Por que tem a mente humana a capacidade de “desvendar os segredos na natureza” e alcançar sucesso em racionalizar completamente o enigma das palavras cruzadas da natureza?” É fácil imaginar mundos nos quais as regularidades da natureza sejam claras ao primeiro vislumbre, ou impenetravelmente complicadas, ou sutis, requerendo muito mais esforço mental a fim de que os seres humanos as decodifiquem. Na verdade, o código cósmico parece quase sintonizado com as capacidades humanas. Este é o mais alto mistério, considerando que as capacidades intelectuais humanas sejam presumivelmente determinadas por uma evolução biológica, e não tenham absolutamente nada que ver com o “fazer ciência”. Nosso cérebro tem-se empenhado em lidar com a “sobrevivência na selva”, um “clamor de longa data, para que sejam descritas as leis do eletromagnetismo ou a estrutura do átomo”.
(Paul Davies, “The Unreasonable Effectiveness of Science”, in Templeton J.M., ed., Evidence of Purpose: Scientists Discover the Creator)
