sexta-feira, maio 02, 2008

Religião afasta jovens das drogas

Pregação sobre valores morais e preservação da vida pesam entre as razões que levam integrantes de comunidades carentes a evitar substâncias psicotrópicas; trabalho aponta novos rumos para programas de prevenção

São Mateus, na periferia da Zona Leste de São Paulo, é mais um ambiente onde o consumo de drogas se banalizou entre os jovens. Nas ruas, dentro dos conjuntos habitacionais e até mesmo nas quadras de esportes dos colégios, substâncias ilegais como a maconha já são parte da rotina. É o que acontece na escola onde a operadora de marketing Simone Grigorio (foto), moradora do bairro, trabalha nos fins de semana. Mas o mundo dela é outro: gira em torno do trabalho, dos estudos e da religião. “Minha família me deu uma boa educação”, conta. “Acredito em Deus. Não ia fazer algo para prejudicar outras pessoas e principalmente a mim mesma”, diz, assumindo a postura de não-usuária convicta.

Aos 23 anos, Simone faz parte de um grupo que intrigou pesquisadores do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), ligado ao Departamento de Psicobiologia da Unifesp. Um estudo realizado pelo órgão para desvendar por que jovens cercados pelo tráfico e pela violência repudiam as drogas apontou a religiosidade como uma das principais razões. A maioria dos não-usuários avaliados na pesquisa praticam alguma religião.

“Os resultados me surpreenderam. Incluí religião como um dado sociodemográfico, mas não esperava que fosse tão importante para manter os jovens afastados das drogas”, afirma a farmacêutica-bioquímica Zila van der Meer Sanchez, autora da dissertação de mestrado sobre o tema. O trabalho deu origem também a um artigo sobre a importância da religiosidade na prevenção, publicado na edição de abril da revista Ciência e Saúde Coletiva. Para Zila, a religiosidade auxilia na construção da personalidade do indivíduo e incute valores morais que pregam o respeito e a preservação da vida.

Na pesquisa, foram ouvidos 62 jovens moradores de 12 favelas da cidade de São Paulo – 30 deles eram dependentes de drogas e 32 nunca haviam consumido essas substâncias. Eles também apontaram o que impediria pessoas da mesma faixa etária e classe social de usar drogas, ou seja, quais aspectos devem ser considerados por especialistas ao elaborar um programa de prevenção. Uma família bem-estruturada e harmoniosa, além da religiosidade, foram os fatores de proteção mais citados.

Dos 30 dependentes de drogas participantes do estudo, 21 mencionam que uma família bem-resolvida poderia impedir jovens como eles de se envolver com drogas psicotrópicas. Eles consideram a família como fator protetor, o que mostra seu papel na imposição de regras de conduta e também no apoio diante de dificuldades. “A maioria pertencia a famílias mal-estruturadas, negligentes com relação à educação e atenção aos filhos”, afirma a pesquisadora.

Alessandra Pereira, no site da Unifesp.