sexta-feira, maio 02, 2008

A síndrome do ateísmo

O filósofo histórico John P. Koster escreveu The Atheist Syndrome (Wolgemuth & Hyatt: Brentwood, 1989). Um livro interessante que faz pensar. Reproduzo aqui trecho da página 16:

"Algumas crianças... tinham outra maneira de lidar com o abuso infantil crônico, sistematizado como 'disciplina' e supostamente baseado nas Escrituras. Esses filhos de pais temidos e odiados não expressavam sua rebelião de forma visível. Suas feridas eram profundas demais, e seu medo, enorme. Talvez sua grande inteligência e maior sensibilidade tenham incentivado uma forma mais profunda e muito mais sutil de rebelião contra um pai hostil, que eles identificavam como um Deus hostil.

"Era muito comum o filho magoado do pai abusivo elaborar um plano de ataque. O filho cedia temporariamente, mas nutria profundo ressentimento tanto contra o pai como contra Deus. Subconscientemente, ele decidia ter como objetivo de vida a destruição de seu pai e a destruição do Deus que se tornara símbolo de seu pai: irado, cruel, hostil ou, na melhor das hipóteses, totalmente indiferente ao sofrimento. O filho tentava fazer isso de forma sutil. Não podia atacar o pai ou a Deus abertamente, porque a devoção familiar vitoriana o proibia de dizer ao pai: 'Você é um estúpido, e eu o odeio por isso!' Em vez disso, atacava o pai negando a Deus.

"A 'ciência' que surgiu em meados do século 19 serviu como uma boa oportunidade de ataque, pois muitas das antigas verdades e supostos fatos estavam sendo questionados. Se os 'fatos' pudessem ser reinterpretados para excluir a Deus, o filho vitimado expressaria seu ataque sem um confronto direto com o pai, que ele temia.

"A sutil manipulação de 'fatos científicos' para se atacar a Deus, como pai simbólico, é a essência da síndrome do ateísmo. Convém enfatizar que tudo isso ocorria num nível subconsciente. O filho-vítima não pulava da cama numa linda manhã e dizia para si mesmo: 'Hoje vou me vingar do velho amaldiçoando o Velho lá de cima!' Essa ânsia subconsciente de se vingar de Deus assumiu a forma consciente de negação da existência de Deus. A melhor forma de neutralizar um (suposto) inimigo poderoso é desejar que Ele não exista. É também muito mais seguro negar que essa Pessoa temida realmente existe do que arriscar um confronto, que a experiência tem demonstrado ser doloroso e perigoso.

"Portanto, essa foi a herança vitoriana: uma cultura severa e, em alguns casos, desprovida de amor, produzindo uma geração reacionária e genuinamente insana de psicóticos que odeiam a Deus."

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