sexta-feira, maio 02, 2008

Um evangelho, várias percepções

Na semana em que uma agência de notícias distribuiu reportagem sobre a ex-stripper Heather Veitch, que largou a nudez para pregar sobre a fé cristã, para a qual havia se convertido, a revista Veja, a mais importante publicação de informação do Brasil, trouxe na capa uma representação do pré-candidato evangélico a presidente da República, Anthony Garotinho, como um ícone das mazelas da política nacional, na opinião da revista.

Heather Veitch, segundo a reportagem da Agência France Press, abandonou o submundo da indústria do sexo em Los Angeles para transformar-se em pregadora do evangelho. Hoje, ela vai a clubes noturnos atrás de dançarinas, para quem fala sobre Jesus e convida a experimentar o cristianismo. Algumas aceitaram a conversão, o que levou à formação de um inusitado movimento cristão naquela cidade.

A história de Heather Veitch foi publicada em alguns sites e jornais, mas está longe de alcançar a visibilidade dos fatos que cercam Garotinho, especialmente depois de uma surpreendente greve de fome em protesto contra as denúncias que vem recebendo. Infelizmente, a cobertura sobre o pré-candidato do PMDB resvala de modo nem sempre implícito na causa evangélica. Esta é mostrada, nessas ocasiões, de forma estereotipada. A começar pela capa da Veja, tem-se a intenção de ironizar a convicção cristã de Garotinho, uma das bandeiras levantadas por ele em campanha. A revista publicou uma foto do ex-governador do Rio de Janeiro com a chamada “Os 7 pecados capitais da política”. Sobre a foto do político, desenhou chifres e cauda típicos da figura representativa do diabo.

Apesar de a reportagem evitar associar as atitudes do candidato com sua fé evangélica, os artigos assinados, em especial a coluna de André Petry, exploram o assunto com veemência. Petry chega a afirmar que sobre as ações de Garotinho está um manto de “populismo evangélico”.

Evidente que não se pode esperar dos meios de comunicação uma cobertura decente do mundo evangélico. Não vai haver uma apuração mostrando que, para cada mau exemplo que venha a explodir, existem dezenas, centenas de Heather Veitch, pessoas que saíram de uma vida vazia para a plenitude que só uma vida em Cristo pode oferecer. Assim como dificilmente a revista usaria a “brincadeira dos chifres” se o personagem em questão fosse um militante católico, por exemplo.

Por outro lado, o fato convida para uma análise fundamental sobre o papel dos evangélicos envolvidos na política – especialmente sob a forma com que ela vem sendo exercida atualmente. Ser um candidato evangélico é expor em uma vitrine os fundamentos do cristianismo. E, nesse caso, o fator religião vai ser sempre lembrado. Se para o bem ou para o mal, vai depender da postura do candidato e do testemunho que ele venha a dar para uma opinião pública materialista e secularizada como a que temos hoje. [Vale a pena ler a matéria "Os adventistas e a política", na Revista Adventista deste mês.]

Heron Santana é jornalista em Pernambuco (Do blog Parajornalismo).