sexta-feira, maio 02, 2008

Veja e Edward Wilson desconhecem o DI

Na matéria de capa da revista Veja desta semana - "Muito Além do Código Da Vinci" - é dito que "em respeito não a crenças e doutrinas, mas à história, essas são as qualidades [locações esplêndidas, suspense irresistível] que se devem procurar no filme: tanto quanto 'O Senhor dos Anéis' e 'Harry Potter', 'O Código Da Vinci' é, sim, uma fantasia". (O tema "Código Da Vinci" já foi tratado neste blog.)

Seria bom que a Veja mantivesse a mesma postura ao tratar da controvérsia entre o evolucionismo e o design inteligente. Quanta fantasia é dita como se fosse verdade! No texto abaixo, publicado por Enézio de Almeida Filho, no blog Desafiando a Nomenklatura Científica, são abordadas algumas dessas distorções:

A revista Veja desta semana publicou a entrevista "Salvem o planeta", com o biólogo americano Edward Wilson, da Universidade Harvard, fundador da sociobiologia (assunto controverso e repudiado por outros acadêmicos como não sendo ciência), pedindo a união da ciência e religião na defesa da biodiversidade.

Uma pergunta incômoda para Wilson que Diogo Schelp não fez: "Sse a evolução é realmente um processo cego, aleatório e não teve o ser humano em mente (possivelmente nem as outras espécies), por que agora essa preocupação de um 'ecochato' de salvar o planeta?" Wilson deveria ser mais coerente com as suas idéias teóricas: somente o mais apto sobrevive. Não houve telos antes, não há agora e nem depois. Esta é a conclusão lógica final do pensamento filosófico materialista: o Universo que se dane, afinal de contas, Kaput é o nosso destino final cósmico.

Não vou lidar com o convite inusitado de Wilson de religiosos e cientistas "deixar de lado as diferenças", pois essa é uma falsa dicotomia que a filosofia materialista utiliza da boa metodologia naturalista para alijar outros discursos sobre a realidade. Wilson, o deísta-agnóstico-materialista-espiritualista [???], tenta impingir seu "evangelho" de "natureza sagrada" sobre os de tradições religiosas, mas ele se esqueceu dos ateus e agnósticos que não consideram assim a "natureza".

A revista Veja e a Grande Mídia Tupiniquim já estão cansadas de saber que hoje a questão não é se as especulações transformistas de Darwin contrariam os relatos sagrados de criação de tradições religiosas, mas se elas são apoiadas cientificamente pelas evidências encontradas na natureza. Elas não confirmam e apontam noutra direção: Design Inteligente.

Mesmo sabendo disso, Schelp teima abrir sua entrevista com uma afirmação e pergunta ideologizadas do tipo "ciência [razão] vs. religião [irracionalidade]". Há uma razão estratégica com isso – associar a Teoria do Design Inteligente ao criacionismo e assim alijar o mais poderoso movimento intelectual que desafia uma teoria científica do século 19, remendada no século 20 e nos seus estertores epistêmicos no século 21: o neodarwinismo.

Veja afirma que mais de 80 por cento da população dos Estados Unidos não acredita na teoria da evolução e pergunta se isso é um fenômeno tipicamente americano. Wilson responde que apenas 51 por cento dos americanos crêem que a espécie humana foi criada por uma força superior alguns milhares de anos atrás, e que outros 34 por cento acreditam numa evolução guiada por Deus. Somente 15 por cento dizem que os cientistas estão corretos.

Wilson disse que esses números são extraordinários porque representam exatamente o oposto do que pensam os europeus. Lá, 40 por cento da população dá razão à tese de que as espécies teriam evoluído pela seleção natural, e que uma minoria criacionista descarta a teoria da evolução.

Conduzindo a entrevista pela sua ótica materialista, Schelp afirma que isso explica o vigor do criacionismo e a cogitação de ensiná-lo nas escolas americanas, em oposição à teoria da evolução das espécies. A ignorância de Schelp sobre a jurisprudência americana sobre este assunto é até perdoável. Sendo Schelp um dos principais editores de Veja, duvido que ele desconheça que a Suprema Corte dos Estados Unidos [Edwards vs. Aguillard] considerou inconstitucional o ensino do criacionismo em 1987. Como cogitar agora o seu ensino nas escolas públicas? Schelp não ofereceu uma saída jurídica. Razão? Ela simplesmente não existe e não há saída para os criacionistas!

Todavia, sendo Wilson americano é desonestidade acadêmica dele responder à pergunta ideologicamente induzida de Schelp "embolando o meio de campo" afirmando que algumas organizações religiosas estão conseguindo introduzir no governo americano a tese do design inteligente, que foi Deus quem guiou a evolução. Bem, Schelp e Wilson não nos ajudam aqui, mas nós da TDI sempre fomos contra essa "captura" da TDI por organizações religiosas forçando o ensino da TDI nos Estados Unidos. Vide os nossos sites www.discovery.org e www.evolutionnews.org. Este último para demonstrar como a Grande Mídia distorce os fatos sobre a TDI e a teoria geral da evolução.

A TDI não foi, não é, e nunca será criacionismo. Não partimos de relatos de criação de textos sagrados, mas de evidências encontradas na natureza. A TDI afirma que certos eventos encontrados na natureza são melhor explicados por causas inteligentes e que certos sistemas biológicos complexos irredutíveis não podem ser resultado do processo cego de seleção natural + mutações + tempo.

É patético o apelo de Wilson para os de tradições religiosas: "Peço que deixem de lado suas diferenças com as pessoas seculares e os cientistas materialistas, como eu, e se juntem a nós para salvar o planeta. A ciência e a religião são as duas forças mais poderosas do mundo. Para ambas, a natureza é sagrada."

Depois Schelp pergunta a Wilson qual é o erro da teoria do design inteligente, afirmando erroneamente que a TDI é a idéia de que a complexidade dos organismos vivos é a melhor prova da existência de um projetista divino. Schelp nunca leu Behe ou Dembski. Se leu, não entendeu. A TDI é sobre a complexidade irredutível de sistemas biológicos complexos não serem produzidos por processos darwinistas graduais e a detecção de sinais de causas inteligentes.

Mais solerte é a afirmação de Wilson de que o nosso único argumento "é que a ciência não consegue explicar todos os detalhes da evolução" e dos fenômenos naturais, e que para nós isso é o suficiente para justificar a crença numa força sobrenatural por trás do inexplicável. Isso é ignorância pura de Wilson, pois como um cientista americano deveria saber que no Movimento do Design Inteligente temos até agnósticos. A TDI não explica "força sobrenatural", mas causas inteligentes empiricamente detectáveis na natureza, e isso é um argumento científico que precisa ser falseado.

Contrariando a Darwin, seus atuais seguidores ultimamente andam desesperados atrás dos seguidores de tradições religiosas para o apoio de suas especulações transformistas. Realmente, adotar a crença de que a evolução é uma invenção de Deus, e de que precisa das religiões para a sua fundamentação, coloca em risco a credibilidade e prestígio de Darwin. Nós, defensores do design inteligente, temos evidências da existência de causas inteligentes e de o design ser empiricamente detectado na natureza [o filtro explanatório de Dembski], mas os cientistas há mais de uma década se recusam a estudar esses fenômenos.

O mais interessante e grave, é que Veja já foi abordada [pelo Sr. Enézio] e convidada a entrevistar os teóricos do DI como Behe e Dembski nas Páginas Amarelas. Afinal de contas, a TDI está no pedaço e incomodando a Nomenklatura científica desde os anos 90 do século 20! Se Schelp topar, e eu duvido, posso colocá-lo em contato com eles para uma entrevista via e-mail.

O resto da entrevista é subjetivismo puro, cientismo [por lidar com temas não científicos como alma, vida após a morte] e a onisciência de Wilson sobre o que seria uma vida eterna após a morte. Ao contrário do afirmado por Wilson – de que a ciência não é uma forma de religião -, Michael Ruse afirmou certa vez que o evolucionismo tem essa característica. Existem, sim, dogmas e ídolos na ciência: teoria geral da evolução e Darwin. É, mas os ídolos foram feitos para a destruição. Quem será o Finéias de Darwin?

Wilson deve ter desagradado a gregos e troianos com essa entrevista – a espécie humana é a mais sagrada do planeta! Evolução voluntária? Ele acabou de jogar Darwin pela janela. O discurso "ecochato" de preservação da natureza beira ao ridículo. O resto da entrevista é de um alarmismo apocalíptico. Eu quase dormi...

Veja, como a Grande Mídia tupiniquim, não cobre a TDI de forma isenta e objetiva.

Enézio de Almeida Filho é ex-ateu, mestrando em História da Ciência e coordenador do Núcleo Brasileiro de Design Inteligente.