quarta-feira, junho 04, 2008

Não se pode julgar o todo pela parte

Deu no Portal Terra: "Os policiais de Cesena, na Itália, acharam que tudo não passava de uma brincadeira quando, na manhã de domingo, receberam o telefonema de um funcionário de uma igreja da cidade que dizia: 'Estou ouvindo gemidos e barulhos suspeitos que vêm de um dos confessionários.'" Não era brincadeira. Os policiais foram até o local e surpreenderam uma educadora de 32 anos e um operário de 31 fazendo sexo, informou o Corriere della Sera. O casal, que não teve os nomes divulgados, foi imediatamente levado para uma delegacia. "Somos ateus e, para nós, fazer sexo na igreja é como transar em qualquer outro lugar", alegaram. A mulher afirmou ainda que "antes de domingo, só havia entrado em uma igreja uma única vez".

O que essa notícia irrelevante tem a ver com este blog? Sem querer me deter no desrespeito do casal (duvido que eles gostariam que outras pessoas fizessem a mesma coisa na casa deles... ou, sei lá, vai saber...), o ato obsceno me fez lembrar de outra coisa: a mania que alguns têm de tomar o todo pela parte. Há quem diga que o cristianismo não presta porque levou à morte milhares de pessoas na época da Inquisição e das Cruzadas e porque hoje há os impostores que fazem da religião uma forma de obter lucros. Isso existiu e existe, não se pode negar. Mas alguns esclarecimentos se fazem necessários.

Primeiro, não foi o “cristianismo” que matou e perseguiu “hereges”, na Idade Média. Na verdade, muitos cristãos é que foram perseguidos pela igreja oficial, essa, sim, responsável pelas mortes e torturas. A religião cristã, fundamentada na Bíblia, é pacifista e tolerante. Ensina os cristãos a perdoar os inimigos e a dar a outra face ao ofensor. Portanto, culpar o cristianismo pelo que uma denominação religiosa/política fez é cometer um erro histórico injusto.

Segundo, julgar o cristianismo pelos falsos profetas de hoje, que prometem um céu na Terra e se aproveitam das mazelas do povo para se apropriar de seus suados centavos é outra injustiça que tende a nivelar por baixo todos os cristãos. Jesus mesmo fez a advertência de que o joio (falsos e mal intencionados “cristãos”) e o trigo (bons e sinceros cristãos) cresceriam juntos até o fim. A atitude mais justa a se tomar é procurar separar a mensagem cristã de seus maus representantes, além de olhar para os bons exemplos de ontem e de hoje, passando por Francisco de Assis e Madre Tereza de Calcutá, até um exército de bons homens e boas mulheres que dedicam a vida desinteressadamente pelo semelhante.

Se eu fosse adotar essa visão rasteira que muitos ateus empedernidos têm da religião (Dawkins que o diga), ao ler a matéria irrelevante publicada pelo Portal Terra, iria concluir que os ateus são todos uns devassos sem respeito. E mais: poderia concluir também que os ateus são dados ao genocídio, uma vez que os regimes políticos ateístas levaram à morte muito mais gente do que a Inquisição e as Cruzadas juntas.

Por isso, para ser justos, não devemos julgar o cristianismo pelos maus exemplos que brotam em seu seio e, nem tampouco, julgar todos os ateus pelas atitudes de alguns.

A propósito, no último sábado, apresentei uma palestra criacionista num congresso de jovens adventistas em Sorocaba. No fim da minha fala, abri espaço para perguntas e um jovem se apresentou como ateu. Pudemos trocar algumas idéias em público, tudo num clima respeitoso e franco. Antes de responder a primeira pergunta dele, parabenizei-o por estar ali, num congresso religioso, o que denota mente aberta e procura de entendimento do pensamento alheio.

Lutemos para apagar as fogueiras da intolerância e promovamos um ambiente no qual ateus, agnósticos, céticos, cristãos e adeptos de outras correntes religiosas e filosóficas possam discutir aberta e respeitosamente suas idéias. Afinal, o próprio Deus dá exemplo, ao convidar: “Venham cá, vamos discutir este assunto” (Is 1:18).

Michelson Borges