terça-feira, junho 10, 2008

O mestre Schwantes descansa

O primeiro livro adventista que li na vida, entre os 14-15 anos, foi O Despontar de Uma Nova Era, do Dr. Siegfried Julio Schwantes. Na época, eu nem sabia que existia uma igreja chamada Adventista do Sétimo Dia, mas o livro, vendido para os meus pais por um colportor, causou profundo impacto sobre mim, especialmente pela maneira profunda, mas simples de explicar as profecias bíblicas. Mais de 15 anos depois, eu teria a honra de publicar em meu livro Por Que Creio a última entrevista com o grande mestre. (Leia a entrevista aqui.) Ele faleceu no dia 1º deste mês.

O Dr. Schwantes era bacharel em Física e Química, mestre em Teologia e doutor em Estudos Vétero-Testamentários pela Johns Hopkins University. Escreveu vários livros, entre eles Colunas do Caráter, O Despontar de Uma Nova Era e o devocional Mais Perto de Deus. Mas o que talvez pouca gente saiba é que ele era uma pessoa muito simples e prestativa, tendo ajudado vários estudantes a seguirem a carreira acadêmica. Um desses beneficiados foi o jovem Israel, que, como forma de homenagem ao grande mestre, se auto-intitula Israel David Ben Schwantes. Vou deixar que o próprio “filho de Schwantes” conte sua história [MB]:

“Quando em 1995 recebi o comunicado do campus adventista em que estudava com a sentença de deixar a escola por mau (leia-se péssimo) comportamento, eu sabia que para mim tudo terminaria ali. Eu era um aluno integral, não tinha a menor perspectiva de futuro fora do campus (não naquele momento) e voltar para o lugar de onde havia saído era o fim mais previsível para uma carreira como a minha, com o conseqüente naufrágio certo de minha fé jovem e desastrada. Foi então que o amor de um professor mudou a minha vida.

“Eu já estava na Igreja havia dois anos, mas a mensagem adventista não fazia muito sentido para mim. Eu acreditava na doutrina que ela advoga, mas daí a fazer da fé o catalisador de uma mudança radical de vida era uma história muito diferente, pois por toda a vida eu havia aprendido a ser mau e precisava de algum tempo para desaprender isso e aprender a lutar para ser bom. Às vezes, as cicatrizes da nossa vida longe de Deus são demasiado profundas para serem curadas pela razão somente. Além disso, isso raramente acontece de uma só vez.

“No dia seguinte, cheguei muito cedo à igreja – fui o primeiro a entrar – e de joelhos caí no choro diante de Deus. Alguns minutos se passaram antes que eu sentisse uma mão pousando no meu ombro e ouvisse a pergunta: ‘Algum problema, meu jovem?’ Aquilo era tudo o que eu precisava naquele momento. Eu estava sozinho, sofrendo, e ter alguém que ouvisse era tudo o que eu queria (embora não houvesse defesa justa para o meu caso). A figura interessada era o pastor Siegfried Julio Schwantes, que então prestava sua última assistência como professor missionário num campus adventista (isso após muitos anos de sua jubilação) e que naquele momento parava para ouvir os lamentos de um menino da roça que havia cometido erros demais.

“O pastor Schwantes e eu já havíamos nos cruzado no campus algumas vezes antes daquele dia. Eu gostava de inglês e, volta e meia, ele tinha a bondade de me ensinar alguma coisa nova ou de corrigir algum erro de falante aprendiz. Era muito generoso o bom velhinho.

“No campus ele era uma lenda viva. Comentava-se muito de sua reputação intelectual e de seus serviços prestados à obra adventista em várias partes do mundo. Para mim, ele era um gigante. Contei-lhe que eu era um caso perdido e que teria que deixar a escola em breve, tendo adiante um futuro nada promissor. Então ele me disse: ‘Deus é onipotente; logo não há casos perdidos. Eu falarei por você, pedirei uma segunda chance!’

“Não sei que meios ele usou para que eu permanecesse no campus (hoje até suspeito que o comunicado que recebi fosse só parte de um tratamento de choque, calculado para funcionar como o último recurso em favor de minha alma), mas o fato é que eu fiquei no campus e ele passou a cuidar de mim pessoalmente. Recebi dele novos estudos bíblicos, ele me ajudava com trabalhos de escola sempre que podia, conversávamos muito e eu aprendia... Deus! Como aprendi naqueles dias!

“Meu interesse por línguas estrangeiras cresceu por causa de sua influência, como também o meu gosto pelos textos de Ellen G. White e pela literatura clássica. Pela influência daquela alma amiga meus olhos se abriram, mas sua maior contribuição foi sem dúvida o conhecimento da graça de Deus e de Seu poder para transformar corações.

“Um dia, quando todos pensavam que eu já havia andado com Jesus por tempo demais para cometer um erro importante, surpreendi todo mundo (até a mim mesmo) e descobri o quanto ainda precisava lutar para manter um testemunho digno de meu Salvador.

“Nessa ocasião, escrevi ao pastor Schwantes uma carta contando os detalhes de meu erro e dizendo-lhe que ele já havia me ensinado o bastante e que se quisesse desistir de mim, eu prosseguiria sozinho, fazendo o melhor com aquilo que ele já havia me ensinado. Eu sabia que o havia decepcionado e acreditava que depois daquela carta nossa amizade terminaria. Porém, em vez disso, ele me mandou uma longa carta em resposta, na qual me explicava de novo a função da graça em nossa vida e do perdão de Jesus na história de cada um de nós. Ele disse: ‘Nunca me ocorreu desistir de você.’ Isso foi o bastante para um feliz e humilde recomeço.

“Papai Schwantes e eu mantivemos correspondência nos últimos doze anos até que, por razões de idade e de saúde, ele deixou de escrever e Mamãe Mariinha Schwantes assumiu a correspondência, mandando notícias sempre que pôde, até o dia 1º de junho de 2008, quando ele finalmente descansou em Cristo, deixando-nos mais do que nunca ansiosos pelo dia feliz da ressurreição dos justos.

“Com o tempo, descobri que não fui o único a quem Papai Schwantes orientou com atenções, cartas e muitas vezes até mesmo com dinheiro. Sua discrição sempre guardou segredo sobre suas boas obras, mas sei que ele ajudou a dezenas (talvez centenas) de jovens (alguns hoje já não tão jovens). Desejo encontrar essas pessoas o mais rápido possível, pois os queridos familiares de nosso benfeitor e todos os seus amigos merecem conhecer pelo menos uma parte da história de uma vida consagrada à causa de Deus; além disso, também preciso saber até onde seu amor chegou.

“Por favor, se você foi (ou conhece alguém que foi) beneficiado de algum modo pela vida consagrada do pastor Siegfried Schwantes, seja pela leitura de seus livros, seja por seu ministério de ensino, seja por alguma atenção direta da parte dele, contate-me o mais rápido possível! Algumas histórias nunca deveriam ser contadas, outras (como a dele) não podem jamais ser esquecidas, e você pode contribuir para que ele e seus queridos recebam o devido reconhecimento por todo o bem que sua vida semeou.”

Escreva para: Prof. David Ben Schwantes
Caixa Postal 18 – Dom Pedro, MA – CEP 65765-000

E-mail: heavensent_youth@yahoo.com