quarta-feira, julho 30, 2008

Millôr e os Dez Mandamentos

Em sua coluna na Veja desta semana, o escritor e articulista Millôr Fernandes escreveu sobre a polêmica Lei Seca e acabou por usar os Dez Mandamentos para fazer graça. Parte do texto segue abaixo com alguns comentários meus entre colchetes:

“Quero apenas comentar, aqui e agora, a tese dos cínicos habituais de que essa é mais uma lei que não vai pegar. Pois eu, o otimista de sempre, pergunto logo: ‘Alguma vez, em algum lugar ou tempo, alguma lei pegou?’. Pode ser até que eu esteja exagerando, mas fiquemos só no chamado Decálogo, dado pelo Todo-Poderoso, Jeová, a seu profeta Moisés, no Monte dos Sinais [na verdade, é Monte Sinai]. Aliás nem era um Decálogo, mas um Vintólogo, como provou [provou?] Mel Brooks, num documentário sobre a famosa descida de Moisés. O chão era escorregadio, Moisés já estava meio velho, as tábuas (também não eram tábuas, era uma pedra [tábua é uma peça plana e pode ser de madeira ou de pedra]) caíram no chão, quebraram, sobraram só 10 mandamentos. Pode ser que os melhores tenham se perdido, mas e os que sobraram? Pegaram? Não pegaram? Vocês decidem.”

Depois dessa demonstração de fé em especulações sem fundamento, Millor passa a “analisar” os dez mandamentos:

“I – ‘Eu sou o Senhor que trouxe vocês das terras do Egito e os libertei da escravatura.’ Observação. É apenas uma afirmação de poder, tipo Manda quem pode, imitada muitas vezes depois: ‘Eu libertei vocês do semi-árido e os trouxe ao bolsa-família prometido.’

“II – ‘Não terás outros ídolos diante de mim em qualquer forma imitando coisas que estão no céu, na terra ou embaixo d’água.’ Observação. Ninguém deu bola e se começou a respeitar e até adorar qualquer pajé e padreco autorizado e ungido. Até o Bispo Crivela. [Bem, aqui devo admitir que realmente são poucos os que obedecem este mandamento...]

“III – ‘Não usarás o meu santo nome em vão.’ Observação. Mas podes trabalhar com pseudônimo. Só numa lista simples temos 2 490 pseudônimos católicos (um santo por dia pra cada lugarejo).

“IV – ‘Respeitarás o sétimo dia (kiddush) afastando-se de atividades produtivas.’ Observação. Com excesso de respeito se descansa não só aos domingos, mas até 35 dias, em forma de greve, recebendo salário inteiro e 30% de adicional.

“V – ‘Honrarás pai e mãe.’ Observação. Cada um de cada vez depois da separação litigiosa.

“VI – ‘Não matarás.’ Observação. Exceto oficialmente em certos estados americanos e se você for líder xiita e pegar pela frente algum homo sexual distraído ou uma mulher adúltera (‘Pedra Nela!’).

“VII – ‘Não cometerás adultério.’ Observação. Mas uma vez ou outra poderás ‘Dar um tempo’ ou ‘Procurar seu espaço’.

“VIII – ‘Não roubarás.’ Observação. A não ser em legítima defesa.

“IX – ‘Não prestarás falso testemunho.’ Observação. Mas poderás ficar calado durante o interrogatório.

“X – ‘Não cobiçarás a mulher do próximo.’ Observação. Mas não pecarás procurando a mulher do andar de baixo.”

[Com seu tom debochado e provocativo, Millor acaba demonstrando o que é uma realidade: os seres humanos sempre procuram uma maneira de burlar as leis em benefício próprio, mas se esquecem de que as leis (pelo menos as de Deus) existem para o seu benefício. Em cada negativa contida nos Dez Mandamentos há a afirmação de um princípio que, se colocado em prática com a ajuda de Deus, acaba trazendo felicidade e bem-estar.]

Saiba mais sobre a Lei de Deus aqui.