domingo, agosto 03, 2008

Pérolas de Chesterton

Acabei de ler Ortodoxia, do filósofo, jornalista, ensaísta e ficcionista Gilbert Keith Chesterton (1874-1936). Apesar do tom filosófico que às vezes obriga uma segunda leitura de certos parágrafos, o livro é muito bom. Chesterton era hábil com as palavras e tinha um pensamento apologético arguto, capaz de encarar “gente grande” como Bernard Shaw, H. G. Wells e Bertrand Russel.

Nesse livro, lançado em 1908 (essa nova edição da Mundo Cristão comemora o centenário da obra), Chesterton refaz sua trajetória espiritual e mostra como mudou do agnosticismo à crença.

Segundo o colunista Moacyr Scliar, em texto publicado na Folha de S. Paulo de 9 de fevereiro deste ano, há muitos anos o jornal London Times perguntou a vários escritores de Londres o que havia de errado com o mundo. Chesterton respondeu com uma única palavra: “Eu.” E Moacyr conclui sua resenha assim: “Não é preciso ser crente, e muito menos ortodoxo, para apreciar este livro. Ele é um verdadeiro tour de force, em termos de inteligência e de humor. Chesterton era o ‘erro do mundo’? Precisamos muito de errados como ele.”

A partir de agora, passo a publicar aqui no blog algumas citações de Ortodoxia que me chamaram a atenção:

“Para responder ao cético arrogante, não adianta insistir que deixe de duvidar. É melhor estimulá-lo a continuar a duvidar, para duvidar um pouco mais, para duvidar cada dia mais das coisas novas e loucas do universo, até que, enfim, por alguma estranha iluminação, ele venha a duvidar de si próprio.”

“Devemos lembrar que, seja verdadeira ou não, a filosofia materialista é com certeza mais limitante do que qualquer religião. Num sentido, naturalmente, todas as idéias inteligentes são estreitas. Não podem ser mais amplas do que elas mesmas. Um cristão só é limitado no mesmo sentido em que um ateu é limitado. Ele não pode pensar que o cristianismo é falso e continuar sendo cristão; e o ateu não pode considerar que o ateísmo é falso e continuar sendo ateu. Mas, na prática, há um sentido muito especial em que o materialismo tem mais restrições que o espiritualismo.

“O cristão tem perfeita liberdade para acreditar que existe uma considerável quantidade de ordem estabelecida e desenvolvimento inevitável no universo. Mas ao materialista não é permitido admitir em sua imaculada máquina a menor mancha de espiritualismo ou milagre. ... Os materialistas e os loucos nunca têm dúvidas. ... Mesmo acreditando na imortalidade, eu não preciso pensar nela. Mas se a desacredito, nela não devo pensar. No primeiro caso, a estrada está aberta e posso ir adiante até onde quiser; no segundo caso, a estrada está fechada.”

Leia também: "Pérolas de Chesterton (2)"