quarta-feira, setembro 24, 2008

Carinho: um santo remédio

“Precisamos de quatro abraços por dia para sobreviver. Precisamos de oito abraços por dia para nos manter. Precisamos de 12 abraços por dia para crescer” (Virginia Satir). Quantos abraços você deu hoje?

Frederico II, imperador da Alemanha no século 18, era dado a se engajar em bizarros experimentos. Num deles, quis descobrir que tipo de idioma as crianças falariam caso crescessem sem jamais ouvir uma palavra sequer. Será que seria a língua de seus pais, ou hebreu, ou grego, ou latim, ou árabe? Ordenou então que algumas “mães postiças” amamentassem e banhassem um grupo de bebês, porém, sem falar com eles nem tocá-los depois. Mas, como o historiador franciscano Sambilene de Adama relatou, “o imperador tentou em vão, porque todas as crianças morreram. Pois elas não conseguiam viver sem os carinhosos afagos, sem os alegres semblantes e as amorosas palavras das mães postiças.”

“Não conseguiam viver sem os carinhosos afagos...” Algo tão simples. Toque. Quem poderia imaginar que um dos mais básicos dos atos humanos poderia estimular o sistema imunológico, melhorar o funcionamento mental e até aliviar a hiperatividade ou o déficit de atenção em crianças agitadas? Sambilene foi um dos primeiros a registrar os deletérios efeitos da falta do toque no organismo humano.

Mais recentemente, durante o último século, estudos feitos pelos pediatras Henry Chapin e Rene Spitz, dos Estados Unidos, mostraram que crianças que viviam em instituições com alimentação e higiene adequadas morreram pela carência de toque. Todas essas crianças receberam o que se acreditava ser essencial para sua sobrevivência: nutrição e um ambiente higiênico. Mesmo com as necessidades físicas atendidas, os médicos concluíram que o fator essencial ausente era o toque amoroso.

Afagos carinhosos podem estimular o sistema imunológico, melhorar o funcionamento mental e até aliviar a Hiperatividade. Nos últimos dez anos, no Instituto de Pesquisa do Toque, na Universidade de Miami, Estados Unidos, a psicóloga Tiffany Field e seus colegas têm estudado os efeitos do toque. Suas pesquisas mostram que um aumento de toques - especialmente em crianças - pode amenizar resfriados, diarréia, asma, dermatite, doença cardiovascular, dor crônica, insônia e estresse. O toque também melhora o funcionamento mental. Um estudo feito pela pesquisadora Sybill Hart, do mesmo instituto, revelou que crianças da pré-escola - especialmente aquelas mais “temperamentais”, que recebiam uma massagem de 15 minutos por dia - tinham melhores resultados em testes de desempenho cognitivo e mostraram um aumento da atenção. Isso pode ocorrer porque o toque reduz os níveis do hormônio do estresse, o cortisol. Uma vez que o excesso de cortisol inibe o funcionamento do hipocampo, o centro de memória e aprendizado no cérebro, a redução da secreção desse hormônio pode levar a uma melhora na capacidade mental.

Grudados em nossas telas de computador ou de TV, dependemos tanto do visual que perdemos contato com nossa sensação tátil. O antropólogo britânico Ashley Montagu, em seu clássico livro Tocar, lamenta a “dolorosa privação de experiência sensorial que sofremos em nosso mundo tecnológico. A impessoalidade da vida no mundo ocidental chegou a tal ponto que acabamos produzindo uma raça de ‘intocáveis’”.

Com tamanha agitação e distúrbios mentais a nossa volta, será que não é chegada a hora de resgatar uma das mais básicas expressões da afeição humana - o toque? Como Montagu diz, “onde o toque começa, ali o amor e a humanidade também começam”.

Assegure-se de que você está a cada dia dando a seus filhos o conforto do carinho tátil. Aprenda a massagem para bebês. Esfregue as costas de seu filho e faça cafuné em seu cabelo. Ensine a suas crianças a automassagem. E incentive a introdução do toque na educação infantil.

(Texto da psicóloga Susan Andrews; adaptação: Cláudio Lima)

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