sexta-feira, dezembro 05, 2008

Internet pode alterar o funcionamento do cérebro

Que aparência tem o cérebro de um adolescente usuário do Google? Será que todas aquelas horas passadas na Internet alteram os circuitos cerebrais? Será que esses jovens se relacionam melhor com emoticons do que com pessoas reais? Esse tipo de preocupação parece típico de pais ansiosos. Mas na verdade o assunto preocupa os cientistas do cérebro. Embora videogames violentos sejam alvo de séria atenção pública, algumas das preocupações atuais vão bem além disso. Alguns cientistas acreditam que o mundo conectado pode estar alterando a maneira pela qual lemos, aprendemos e interagimos uns com os outros.

Talvez ainda não existam respostas firmes. Mas o Dr. Gary Small, psiquiatra da Universidade da Califórnia em Los Angeles, argumenta que a exposição diária a tecnologias digitais como a Internet e a celulares inteligentes pode alterar a maneira pela qual o cérebro funciona.

Quando o cérebro passa mais tempo envolvido em tarefas relacionadas à tecnologia e menos tempo exposto a outras pessoas, ele se afasta das habilidades essenciais no trato social, como por exemplo a interpretação de expressões faciais durante uma conversa, afirma Smalls.

Assim, os circuitos cerebrais envolvidos no contato interpessoal podem perder a força, ele sugere. Isso poderia gerar desconforto em situações sociais, incapacidade de interpretar mensagens não verbais, isolamento e menos interesse nas formas tradicionais de aprendizado escolar.

Small diz que o efeito é mais forte nos chamados "nativos da era digital" - as pessoas que estão na adolescência e na casa dos 20 anos e "estão conectadas à tecnologia digital desde a primeira infância". Ele acredita que seja importante ajudar os nativos da era digital a melhorar suas habilidades no trato social, e as pessoas mais velhas - os imigrantes da era digital - a melhorar seus conhecimentos tecnológicos. (...)

Mais de dois mil anos atrás, Sócrates alertou sobre uma revolução diferente na informação - a ascensão da palavra escrita, que ele considerava como forma de aprendizado mais superficial do que a tradição oral. Mais recentemente, o surgimento da televisão despertou preocupações quanto à possibilidade de que as crianças se tornassem mais passivas ou violentas, ou que desenvolvessem maior dificuldade de aprender. (...)

A vida na era do Google pode mudar até mesmo a maneira como lemos. Normalmente, quando uma criança aprende a ler, o cérebro constrói percursos que gradualmente permitem uma análise e compreensão mais sofisticada, diz Maryanne Wolf, da Universidade Tufts.

Ela classifica essa análise e compreensão sob a rubrica "leitura profunda". Mas isso requer tempo, mesmo que apenas uma fração de segundo, e o moderno mundo conectado confere primazia à velocidade, ou seja, à obtenção rápida do maior volume possível de informação, ainda que superficial.

Wolf questiona o que acontecerá à medida que as crianças começarem a realizar mais e mais de suas primeiras leituras online. Os cérebros delas responderão contornando certas porções dos percursos normais de leitura, exatamente as que conduzem à compreensão profunda mas requerem mais tempo? E isso prejudicará a capacidade delas de compreender o que leram?

As questões merecem estudo, acredita Wolf. Em sua opinião, as crianças precisam de instrução adaptada a obter compreensão das leituras que fazem no mundo digital.

Alguns pesquisadores sugerem que o cérebro na verdade se beneficia de um uso intenso da Internet.

Um grande estudo conduzido por Mizuko Ito, da Universidade da Califórnia em Irvine, concluiu recentemente que o tempo investido em conversas online com amigos - por exemplo, no envio de mensagens instantâneas - oferece aos adolescentes lições importantes de que precisarão para o trabalho e a vida social na era digital. Isso inclui lições sobre questões como a privacidade online e o que é apropriado postar e comunicar na Internet, diz Ito.

Rowe diz que ele e seus amigos muitas vezes discutem se a tecnologia não é prejudicial. Isso envolve debater o argumento de que usar muito o computador torna as pessoas ineptas em termos sociais.

Ele diz, evidentemente, que "nós passamos muito tempo no computador e ainda assim temos vidas sociais normais e perfeitas".

(Terra)