quarta-feira, dezembro 17, 2008

A triste história de uma modelo da Playboy

Bettie Page, a modelo cujas fotos pornográficas na revista Playboy fizeram sucesso na década de 1950, morreu aos 85 anos, em 11 de dezembro de 2008. “Ela capturou a imaginação de uma geração de homens e mulheres com… sua sensualidade descarada”, disse o empresário dela, Mark Roesler. Hugh Hefner, o fundador da revista Playboy, comentou sobre a morte dela: “Penso que ela foi… um símbolo na cultura popular que influenciou a sexualidade, alguém que teve um impacto tremendo na nossa sociedade.” O impacto é tão grande que as fotos dela da década de 1950 são comercializadas mesmo hoje. Em pleno século 21, ela se tornou assunto de músicas, biografias, sites, gibis, filmes e documentários. Uma nova geração de fãs americanos compra milhares de cópias de suas fotos, e algumas feministas a celebram como pioneira na liberação das mulheres.

A carreira de Page começou um dia em outubro de 1950, três anos depois de seu primeiro divórcio, quando um fotógrafo amador tirou fotos dela na praia. Em 1951 ela passou a posar para fotos sadomasoquistas. Em sua edição de janeiro de 1955, a revista Playboy publicou um pôster erótico de Page. Então, em 1958, no auge do seu sucesso pornográfico, ela foi a um culto no que é hoje a Igreja Batista Templo de Key West, onde ela se tornou uma freqüentadora regular. Depois dessa experiência, ela desapareceu misteriosamente da atenção do público durante décadas. Em seguida, ela casou de novo, mas tudo acabou novamente em divórcio.

Ela estudou em três grandes seminários bíblicos, inclusive o Instituto Bíblico de Los Angeles e a Escola Bíblica Multnomah, e tinha a intenção de ser missionária, mas foi rejeitada por causa de seus divórcios. Em vez disso, ela trabalhou como conselheira de tempo integral na Associação Evangelística Billy Graham.

Seu terceiro casamento também desabou, e ela sofreu um colapso emocional. Em 1979 ela se mudou para a Califórnia, onde começaram seus grandes problemas. Ela foi presa depois de esfaquear, sem nenhuma provocação, a idosa proprietária de seu imóvel. Na época, especialistas que a examinaram diagnosticaram esquizofrenia aguda. Ela passou 20 meses num hospital de doentes mentais, em San Bernardino.

Depois, ela brigou com outro proprietário e novamente foi presa, mas não foi condenada porque uma avaliação especializada a classificou como louca. Ela passou oito anos numa instituição governamental para doentes mentais.

Bettie Page nasceu em 22 de abril de 1923, em Nashville, Tennessee, EUA. Ela cresceu numa família muito pobre que incluía três meninos e três meninas que, de acordo com ela, foram todas estupradas pelo próprio pai. Depois que sua família se mudou para Houston, seus pais se divorciaram. Então o pai decidiu voltar para o Tennessee e roubou um carro de polícia para fazer a viagem de volta. Ele foi mandado para a prisão, e por algum tempo Betty viveu num orfanato.

Page é reconhecida hoje nos EUA como uma das influências que provocaram a revolução sexual da década de 1960. Mas pouco ou nada se reconhece da influência que o abuso sexual teve em sua vida de pornografia, divórcios e demências. Além disso, como explicar que uma pessoa que disse que se converteu ao cristianismo precisou de internamento psiquiátrico por duas vezes? A resposta está na entrevista que ela deu à revista Playboy em 1998, na qual ela disse sobre seu passado pornográfico: “Nunca me passou pela cabeça que aquilo era vergonhoso. Eu me sentia normal.” Ela ainda se justificou: “Deus aprova a nudez. Veja Adão e Eva no Jardim do Éden: eles estavam totalmente nus.”

Na década de 1990, logo depois de receber alta de seu último e longo internamento psiquiátrico, ela foi persuadida por um empresário a comercializar suas fotos do passado. Num único evento de autógrafos, ela vendeu três mil fotos pornográficas autografadas a um preço de 200-300 dólares cada. Em seus últimos dias, ela contratou uma empresa legal para recuperar os ganhos gerados com sua nudez em imagens.

As três últimas décadas de sua existência foram marcadas pela depressão e por um temperamento violento.

(Júlio Severo)

Nota: O glamour quase sempre esconde por trás das câmeras a vida vazia e o senso de nulidade de muitos homens e mulheres que são idolatrados na mídia. Casos de suicídios são comuns no mundo das “estrelas” e das modelos (basta lembrar de Anna Nicole Smith e Marilyn Monroe, para citar apenas dois exemplos). Tristes vidas de faz-de-conta.[MB]