quinta-feira, janeiro 22, 2009

Pedofilia volta a assombrar o Vaticano

Crianças surdo-mudas e pobres eram vítimas de padres. Frequentavam um instituto de ensino fundado pela Igreja Católica que tinha a elevada missão de “garantir um futuro melhor às crianças surdo-mudas e sustentá-las nos estudos e na inserção ao mundo do trabalho”. As denúncias, feitas por vítimas que foram sodomizadas ou submetidas a outras formas de abusos sexuais, irão voltar a balançar as estruturas do trono de São Pedro [sic], ora ocupado pelo papa Bento XVI. O novo escândalo é particular, pois os 60 denunciantes surdos-mudos conseguiram, já na idade adulta, contar os seus sofrimentos e as humilhações. E o móvel decorreu do fato de muitos dos sacerdotes ainda estarem no mesmo instituto de ensino, agora mais velhos.

A conceituada revista L’Espresso que chegará às bancas italianas na próxima sexta-feira conta, em matéria de capa, o acontecido, desde 1984, no Instituto Antonio Provolo da cidade de Verona: aquela da casa de Romeu e Julieta. A longa matéria é assinada pelo respeitado jornalista Paolo Tessadri. O Instituto Antonio Provolo, frisa o jornalista Tessadri, recebeu reconhecimento internacional e reunia crianças surdo-mudas de famílias de lavradores pobres das regiões norte e leste da Itália.

Os abusos perpetrados por padres pedófilos ocorreram a partir de 1984 e, frise-se, muitos religiosos ainda estão em atividade pedagógica no Instituto Provolo. Segundo a revista, os denunciantes – o mais novo está com 40 anos de idade – conseguiram superar o bloqueio traumático depois de passados anos: “Padres abusaram sexualmente de nós. Conseguimos superar o nosso medo e a nossa reticência.”

Depois do escândalo ocorrido nos EUA e de um período de silêncio reflexivo, o papa Ratzinger endureceu com os padres pedófilos e alertou que nenhum novo escândalo seria acobertado pela Cúria vaticana. A fala dura de Ratzinger, agora diante do novo e revoltante escândalo levantado pela revista L’Espresso e prestes a chegar às bancas, mostra, mais uma vez, o acerto da ontológica frase colocada por Tomasi di Lampedusa na boca de um dos personagens da consagrada obra Il Gattopardo, ou seja, tudo precisa ser mudado, alterado, se desejamos que tudo continue como está.

Numa das cartas, datada de dezembro de 2008, recebidas pelo vigário judicial do Tribunal Eclesiástico da diocese de Verona, obtida pela revista L’Espresso, consta: “No quarto destinado a religiosos da igreja de Santa Mari del Pianto do Instituto Provolo, alguns padres aproveitavam para se masturbar apalpando as crianças surdo-mudas e a porta, nesses momentos, era sempre fechada com chave.”

(Wálter Fanganiello Maierovitch, no blog Sem Fronteiras)

Nota: É bom nunca esquecer que houve e há religiosos católicos verdadeiramente comprometidos com o amor a Deus e ao próximo (Francisco de Assis e Madre Tereza são dois exemplos de vida que sempre me vêm à mente). E também é bom lembrar que abusos, lamentavelmente, ocorrem em todas as religiões, já que elas são abrigo de santos e pecadores – e os culpados devem sempre ser punidos, evidentemente. Mas uma coisa o Vaticano deveria revisar (e faz tempo): o celibato obrigatório para padres e freiras. Há aqueles que têm o “dom” de ser celibatários (há exemplos disso inclusive na Bíblia), mas obrigar todos os sacerdotes a viverem solteiros é uma tradição sem base escriturística. Aliás, conforme a Bíblia, o próprio Pedro, tido erroneamente como o primeiro “papa”, era casado (cf. Marcos 1:30). É verdade que sem-vergonhices não se curam necessariamente com o matrimônio; isso é uma questão de caráter. Mas muitos problemas seriam evitados se a Igreja Católica permitisse o santo casamento aos seus sacerdotes.[MB]