quinta-feira, abril 30, 2009

Enem: inclusão ou exclusão?

Até 2008, o Enem era apenas um mecanismo avaliativo de mapeamento do nível acadêmico dos estudantes, professores e escolas. Mas a partir deste ano, além dessa utilidade, o Enem será também um mecanismo determinante e classificatório dos alunos em universidades federais. A tendência é que o vestibular seja abandonado e que os estudantes tenham sua classificação para um curso superior através do Enem. Sem dúvida, uma forma mais inclusiva, que derruba em parte as muralhas econômicas que fazem com que as universidades públicas recebam atualmente a maioria de seus alunos da classe A.

 

Com o Enem, espera-se que isso diminua bastante e, consequentemente, as universidades públicas receberão alunos provindos das classes B, C, D e até mesmo da classe E, o que, sem dúvida, traria diversidade aos campi universitários (geralmente isolados da realidade brasileira e longe de atender às demandas das classes que deveriam entrar lá). Mas a exclusão social continua porque mesmo no Enem alunos das classes A e B tendem a tirar melhores notas do que os das classe C, D e E.

        

Como foi comentado neste blog, o Enem este ano cairá no sábado. Portanto, coloca-se diante da Igreja Adventista do Sétimo Dia e dos seus membros uma guerra silenciosa, mas extremamente importante, porque o Enem, com todo o aparato de inclusão social, apresenta, por outro lado, tremendo aparato de exclusão religiosa. Até parece que as autoridades não sabem que existem judeus que foram massacrados pelo holocausto nazista e que o dia sagrado desses judeus é o sábado; até parece que as autoridades não conhecem outras religiões guardadoras do sábado, além do judaísmo, que necessitam de proteção legal por serem minorias... Seria isso consequência da concordata com o Vaticano? Seria fruto de um acordo secreto ligado a tal da concordata, que prefigura a discriminação religiosa? E o congresso aprovará a concordata? Alguma força poderá impedir essa implementação?

 

Diante dessa guerra, a igreja tem um duplo desafio: (1) Embora o Brasil tenha menos de 2% da sua população como adventista do sétimo dia, a igreja tem que convencer as autoridades e a população brasileira em favor da liberdade religiosa, que, no caso do Enem, significa permitir um horário alternativo de prova aos guardadores do dia sagrado instituído por Deus; (2) aumentar a presença de universidades adventistas, com cursos em vários ramos em todo o território nacional.

 

O primeiro desafio, certamente veio de Deus e consequentemente uma luta corajosa deve ser travada, pois nessa luta brilhará acima de todas as desavenças naturais da podridão política a luz do santo sábado. Também a igreja tem a missão de proteger "esses pequeninos" que lhe são confiados. Eles precisam crescer em sua vida social, profissional e pessoal. Para tanto, formação profissional e acadêmica é essencial, especialmente neste mundo pós-industrial. Logo, a igreja não pode se omitir dessa luta porque as dificuldades que jovens cristãos têm em universidades seculares deve ser motivo bastante para se ampliar a rede educacional adventista (o que tem sido feito, graças a Deus, mas pode ser ampliado). Ellen White pregava: "Cada igreja, uma escola." Talvez quisesse dizer "cada distrito", ou talvez fosse apenas uma expressão forte dada a imensa necessidade de que cada criança tenha educação cristã. Infelizmente, muitas igrejas com recursos não sentem essa prioridade no sentido local. Muitos pais recusam-se a sacrificarem-se para que seus filhos estudem numa escola adventista. Muitos fazem "choradeira" na hora de pagar a mensalidade; e, acredite se quiser, já vi (no tempo em que atuei na rede adventista) muitos pais que não pertencem à igreja se "arrebentarem" para que os filhos estudassem em nossas escolas, sem "chorar" na hora de desembolsar para custear a boa educação dos filhos.

 

É importante lembrar que quando um cerco é feito contra aqueles que são fiéis a Deus, a coragem santificada pode trazer surpreendentes e nobres vitórias. 1 Samuel 14 narra a saga de Jônatas e seu escudeiro. Eles se aproximaram do acampamento dos filisteus e, sob voto, exigiram um sinal de Deus. Se os filisteus dissessem que fossem embora, iriam; mas se dissessem "subi até nós, então subiremos, porque o Senhor os tem entregado em nossas mãos" (1 Samuel 14:10). Jônatas e seu escudeiro ouviram o desafio filisteu: "Subi até nós, e nós vo-lo ensinaremos. E disse Jônatas a seu escudeiro: Sobe atrás de mim, porque o Senhor os tem entregado na mão de Israel" (v. 12). Assim, Jônatas e seu escudeiro, sozinhos, desbarataram o acampamento inimigo. Deus trouxe um terremoto e os exércitos de Israel atacaram novamente alcançando expressiva vitória.

 

No caso do Enem, forças políticas ocultas, mas antidemocráticas, estão promovendo um ataque frontal à liberdade religiosa. E a Igreja Adventista deve enfrentar o problema com fé e ação. Embora em desvantagem numérica, política e econômica, a igreja tem ao seu lado El Shadday, o Todo Poderoso. Assim como aconteceu com Jônatas e seu escudeiro, o sinal para guerrear era o desafio frontal. Existe um desafio mais frontal do que forçar todos a fazerem uma prova classificatória para o ingresso em universidades públicas no dia de sábado, excluindo do curso superior aqueles que se recusarem a fazê-la? O povo de Deus venceu em situações intimidatórias no passado e vencerá agora.

 

A verdadeira solução é, sem dúvida, conseguir fazer com que o Enem seja realizado em outro dia, preferencialmente no meio da semana, sem interferir com o sábado sagrado. Transformar essa dificuldade num marco da liberdade religiosa implantada neste País.

 

Outra vitória é que muitos que não sabiam sobre o significado do sábado passarão a sabê-lo, e outros que rejeitavam o sábado, passarão a aceitá-lo devido ao testemunho dado pelos fiéis servos de Deus, pois verão a bandeira do evangelho erguida com impressionante força. Nas palavras do profeta: "Então temerão o nome do Senhor desde o poente, e a Sua glória desde o nascimento do sol: vindo o inimigo como uma corrente de águas, o Espírito do Senhor arvorará contra ele a Sua bandeira" (Isaías 59:19).

 

(Silvio Motta Costa, professor da rede pública em Campinas, SP)