domingo, maio 03, 2009

Pérolas de Chesterton (4)

"Dentre todas as formas concebíveis de iluminismo, a pior é o que essa gente chama Luz Interior. Dentre todas as religiões horríveis, a mais horrível é a adoração do deus interior. Qualquer que conheça alguém sabe como isso funciona; qualquer que conheça alguém do Centro do Pensamento Superior sabe como isso realmente funciona. O fato de o Silva adorar o deus interior em última análise significa que o Silva adora o Silva. Que o Silva adore o sol ou a lua, qualquer coisa em vez da Luz Interior; que o Silva adore gatos ou crocodilos, se conseguir encontrá-los na rua, mas não o deus interior.

"O cristianismo veio ao mundo acima de tudo para afirmar com veemência que o homem não só não devia aolhar para dentro, mas devia olhar para fora, contemplar com assombro e entusiasmo uma companhia divina e um capitão divino. O único prazer de ser cristão era que o homem não ficava sozinho com a Luz Interior, mas definitivamente reconhecia uma luz exterior, bela como o sol, clara como a lua, formidável como um exército com bandeiras" (p. 126).

"O prazer do otimista era prosaico, pois baseava-se na naturalidade de tudo; o prazer do cristão era poético, pois residia na antinaturalidade de tudo à luz do sobrenatural. O filósofo moderno me dissera muitas e muitas vezes que eu estava no lugar certo, e eu ainda me sentia deprimido mesmo aceitando isso. Mas eu ouvira que estava no lugar errado, e minha alma exultou de alegria, cantando como um pássaro na primavera. O conhecimento revelou e iluminou aposentos esquecidos da casa escura da infância. Agora eu sabia por que a relva sempre me parecera estranha como a barba verde de um gigante, e por que eu podia sentir saudades de casa estando em casa" (p. 133).

"Apenas o sobrenatural pode assumir uma visão sadia da natureza. A essência de todo panteísmo, evolucionismo e religião cósmica moderna está realmente nesta proposição: que a natureza é a nossa mãe. Infelizmente, se você considerar a natureza como mãe, vai descobrir que ela é madrasta. O ponto principal do cristianismo era este: que a natureza não é a nossa mãe: a natureza é nossa irmã. Podemos sentir orgulho de sua beleza, uma vez que temos o mesmo pai; mas ela não tem autoridade sobre nós; temos de admirá-la, não de imitá-la" (p. 185).

Leia também: "Pérolas de Chesterton (3)"