quinta-feira, maio 07, 2009

Sonhos de consumo: dá para viver sem eles

Diz uma velha história que o homem feliz não tinha camisa. Em plena sociedade de consumo, é impossível seguir o lema. Comprar faz parte do dia-a-dia, marca as relações sociais, é a base da economia. O problema é que o consumismo chegou a níveis insanos no mundo, aumentando a demanda por matéria-prima, a produção de lixo, a pressão sobre o meio ambiente. Resolver essa equação não é simples, mas precisamos encarar. Um relatório da organização WWF mostra que consumimos 30% acima da capacidade regenerativa do planeta. Se a tendência não mudar, em 2030 seriam necessárias duas Terras para suprir tal demanda. O relatório Planeta Vivo mostra ainda que tamanha pressão levou à perda de 30% da biodiversidade nos últimos 35 anos. Além do aumento populacional, a demanda gerada pelo ser humano dobrou por conta justamente do aumento do consumo individual.

Se compramos uma roupa nova, raramente consideramos que foi necessário cultivar algodão, processá-lo, fabricar a peça, empacotá-la, transportá-la. Se embarcamos em um avião, não pensamos que cada componente dele vem da natureza. É uma espécie de "ilusão de ótica", diz o professor da UFRJ José Augusto de Pádua, já que continuamos tão dependentes da natureza quanto nossos ancestrais.

Ao mesmo tempo em que não costumamos pensar nessas relações, o que consumimos diz muito sobre nós. "Consumir é comunicação", diz a cientista social Fátima Portilho, autora do livro Sustentabilidade ambiental, consumo e cidadania. "Através dos bens que uso eu também digo quem sou. Eles determinam o status na sociedade." E, para ela, não há nada de mau nisso: em qualquer cultura, bens materiais marcam fronteiras e dizem quem é quem na hierarquia social. Fátima considera um erro do movimento ambientalista tachar o que é "certo" e "errado".

O problema é que os recursos estão se exaurindo - e, o que é pior, por causa de uma minoria privilegiada. Uma pesquisa do Worldwatch Institute, "O Estado do Mundo 2004", mostrou que apenas um quarto dos habitantes do globo consomem acima de suas necessidades. Metade da população consome até a quantidade necessária para a sobrevivência, e metade disso, abaixo do que precisa.

De modo geral, o consumo está profundamente associado às carências e frustrações da vida contemporânea. "Muitas vezes ele supre uma fantasia: 'Se eu comprar tal roupa, serei mais bonita, poderosa, feliz'", diz a psicóloga Denise Ramos, da PUC-SP.

Se o consumo é um elemento tão fundamental no imaginário e na vida das pessoas, ele pode se tornar também um instrumento poderoso. Em uma pesquisa do Akatu, mais de 50% dos entrevistados disseram acreditar que o que compram define quem são. "Fica claro que, ao escolher empresas responsáveis, eles estão praticando um ato de cidadania", diz Helio Mattar. Sendo assim, se é impossível fugir do consumo, o jeito é abraçá-lo da melhor maneira. É o que Fátima Portilho chama de "politização do consumo". Segundo ela, de maneira crescente, o ato de escolher e usar produtos tem se tornado uma ação política ao lado de práticas tradicionais, como o voto. "É na esfera do consumo que as pessoas percebem que podem fazer alguma coisa. Com a internet, mais acesso à informação, o consumidor está cada vez mais ativo no mercado". (...)

Os especialistas são unânimes: não existe receita para ser um consumidor responsável. Há diversos sites, como o www.climaeconsumo.org.br, em que o visitante pode calcular sua pegada ecológica, o rastro de degradação ambiental deixado por seus hábitos. O site do Akatu traz o Teste do Consumidor Consciente, com uma série de perguntas para avaliar como o visitante pode tornar seus hábitos mais sustentáveis.

Em que você pode ajudar?

- Passe algumas das horas que gastaria nas compras visitando pessoas queridas, que você viu pouco no ano.

- Planeje os gastos, estipule um limite de despesas e não saia dele. Se comprar a crédito, atenção aos juros. Faça prestações que caibam no orçamento.

- Escolha presentes alternativos, reciclados, produzidos artesanalmente, de pouco impacto ambiental e feitos para durar.

- Dê presentes simbólicos: um texto escrito por você ou do qual goste; uma canção que marcou o ano, uma entrada para visitar uma exposição.

- Reflita antes de comprar: o presente é realmente do gosto do presenteado? É um gesto de real amizade ou apenas um "genérico"?

- Doe o que você não usa, proporcionando uma vida melhor a quem precisa.

- Diminua o uso de embalagens, preferindo as que possam ser reutilizadas.

- Recicle e dê cara nova a tudo o que for possível.

- Não compre produtos piratas ou contrabandeados, que contribuem com o crime organizado.

- Use luzes de baixo consumo.

- Compre o necessário: evite exagero de alimentos e bebidas. Se possível, escolha alimentos orgânicos e locais.

- Opte por comprar produtos de empresas social e ambientalmente mais responsáveis.

(Yahoo)

Nota: Ontem, minha esposa conversou com uma doutoranda em Física e especialista em meteorologia (que é mãe de um dos alunos dela na escola adventista) e ela disse que, muito embora a mídia não dê ênfase (para não criar alarde), recursos como a água potável entrarão em colapso a partir de 2015, o que corrobora a preocupação expressa no artigo acima.[MB]