domingo, julho 12, 2009

Experiências num internato adventista


No sábado, após o desjejum e o almoço no refeitório do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus Engenheiro Coelho, onde estou cursando o mestrado em Teologia, recebi um convite inusitado de dois colegas pastores: “Vamos ajudar os alunos bolsistas que estão no rodízio hoje?” E lá fomos nós, os pastores Evandro Fávero, Ericson Danese e eu para a enorme cozinha do colégio. O Evandro e o Ericson são diretores de departamento em escritórios regionais da igreja no Paraná (Curitiba) e no Rio Grande do Sul (Ijuí), respectivamente. No entanto, de touca e avental, nos unimos aos alunos e alunas e desfrutamos de momentos especiais com eles. Depois do almoço, o pastor Arildo Coelho, do Espírito Santo, se uniu a nós na tarefa.

Enquanto ajudávamos a limpar as mesas e a lavar grandes travessas de inox e outros utensílios, podíamos ouvir um grupo de estudantes cantando músicas religiosas em vozes. Era um ambiente alegre e espiritual. Moças e rapazes sorridentes cumpriam suas tarefas enquanto nos olhavam com um misto de admiração e curiosidade – e mal se davam conta de que os maiores beneficiados fomos nós.

O Evandro e o Ericson já haviam sido bolsistas no passado e ambos também trabalharam para poder pagar os estudos. Já eu, com exceção do mestrado, nunca havia tido o privilégio de estudar numa instituição adventista (clique aqui e saiba por quê). Portanto, para meus colegas, foi como uma volta ao passado.

Pedi que os dois me contassem uma experiência marcante dos tempos de estudantes de Teologia. Acompanhe os relatos:

Evandro: “Quando eu era estudante, fiquei um ano estudando como regular [pagando os estudos]. Mas o dinheiro acabou, e precisei trabalhar durante seis meses no colégio. Trabalhei pouco tempo porque eu colportava [vendia livros religiosos], e durante esse tempo trabalhei na construção, cozinha e nos feriados, na guarda. Na cozinha, trabalhei lavando panelas, pratos e ajudando a preparar alimentos. Na época, acreditava que esse trabalho estava me ajudando somente a pagar os estudos, mas certamente é mais do que isso. Me ajudou na formação do caráter. As melhores lembranças não são do tempo em que não trabalhei e sim do tempo em que trabalhei. Lembro com carinho das amizades, do trabalho em equipe nos dias de rodízio, das tarefas. Lembro do dia em que comecei a namorar. A equipe do trabalho (na ocasião, trabalhava na construção) correu atrás de mim para jogar um balde de água e areia. Bons tempos... E, por falar em namoro, minha namorada, hoje esposa, também trabalhava no colégio. Ela era monitora no residencial feminino. Lembro-me dos momentos em que trabalhamos juntos, do nosso primeiro encontro em frente ao refeitório... Creio que, além de o colégio ser uma benção, trabalhar nele também é. Participar do rodízio no último sábado foi mais que uma ajuda aos alunos; foi um privilégio e um retorno aos bons tempos. Creio que o rodízio deveria ser realizado por todos. O impacto sobre a santidade do sábado seria muito maior.”

Ericson: "Tive a oportunidade de ser aluno semibolsista por quatro anos no Unasp. Colportava nas férias e durante o semestre trabalhava em diferentes setores, como jardim, limpeza e monitoria. Fui muito feliz e tenho grandes amigos daquela época, inclusive nos rodízios que fazia na leiteria e atendimento da recepção. Hoje, poder voltar como pastor e aluno do Mestrado é uma oportunidade de perceber o quanto Deus fez por mim. Ao participar com os alunos do rodízio de sábado, ao ouvi-los louvando a Deus enquanto faziam suas tarefas, fiquei satisfeito em ver que estão aproveitando um tipo de educação que os bancos escolares não podem dar, pois a execução de tarefas práticas é muito importante para a edificação do caráter. Deus preparou Seus servos nos desertos como pastores de ovelhas; o Filho de Deus foi carpinteiro e o culto apóstolo Paulo tinha o ofício de fabricar tendas. Participar de um rodízio de tarefas essenciais para o sábado deve ser uma responsabilidade partilhada por todos, com boa vontade e respeito, independentemente da função que desempenhamos na igreja. Num ambiente de comunidade adventista, todos podem ajudar, quer sejam pastores, obreiros, alunos ou filhos de pastores."