domingo, agosto 30, 2009

Saramago "redime" Caim em novo romance

O escritor português José Saramago volta a atacar a religião em Caim, seu novo romance, que será publicado em outubro e no qual "redime" o protagonista do assassinato de Abel e aponta Deus "como o autor intelectual do crime, ao desprezar o sacrifício que Caim Lhe havia oferecido". O romance será levado à Feria do Livro de Frankfurt, que ocorre de 14 a 18 de outubro e no fim do mesmo mês chegará às livrarias de Portugal, América Latina e Espanha. [Nem mesmo o Nobel de literatura Saramago consegue fugir do rentável filão dos livros que tentam detonar a Bíblia. É outro ateu profundamente interessado em Deus...]

Saramago vai falar pela primeira vez de seu novo livro no lançamento mundial, em Lisboa. Mas o escritor, que passa o verão em sua casa na ilha espanhola de Lanzarote e prepara as malas para voltar a Lisboa, falou à Efe por e-mail que o que pretende dizer com Caim é que "Deus não é de se fiar. Que diabo de Deus é esse que, para enaltecer Abel, despreza Caim?" [Saramago critica o que não conhece. Despreza o que ignora e não se dá ao trabalho de estudar a teologia por trás das histórias bíblicas. Qualquer leitor mais atento da Palavra de Deus sabe que os sacrifícios de cordeiros representavam o grande sacrifício que Jesus, o Cordeiro de Deus (cf. João 1:29), faria na cruz pela humanidade. Quando Caim ofereceu frutas em sacrifício, no lugar do cordeiro, estava, na verdade, desprezando a provisão dada por Deus para perdão dos pecados: o sangue do inocente cordeiro/Jesus pela culpa do arrependido. A atitude de Caim ilustra bem a tentativa de salvação/justificação pelas obras humanas.]

Quase 20 anos depois de seu discutido livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo, que foi vetado pelo governo português para competir pelo Prêmio Europeu de Literatura, o Nobel português faz uma irreverente, irônica e mordaz leitura por diversas passagens da Bíblia, mas não teme que voltem a crucificá-lo.

"Alguns talvez o façam" - afirma Saramago - "mas o espetáculo será menos interessante. O Deus dos cristãos não é esse Jeová. E mais, os católicos não leem o Antigo Testamento. Se os judeus reagirem não me surpreenderei. Já estou habituado." [Se o Deus dos cristãos não é Jeová, Jesus foi um mentiroso, pois Se referiu inúmeras vezes a esse Deus como Seu Pai e o Criador de todas as coisas. Diversas vezes Jesus disse que os judeus de Seu tempo aqui na Terra estavam errando por não conhecerem as Escrituras, e essas Escrituras às quais Ele Se referia eram o Antigo Testamento que justamente apresenta Jeová como o Deus dos judeus e dos cristãos. O Novo Testamento consiste na sequência natural e ampliação do Antigo. Saramago erra mais uma vez.]

No entanto, acrescentou: "Mas é difícil para mim compreender como o povo judeu fez do Antigo Testamento seu livro sagrado. Isso é uma enxurrada de absurdos que um homem só seria incapaz de inventar. Foram necessárias gerações e gerações para produzir esse texto." [Saramago deve ter raiva da religião, por algum motivo que talvez a psicologia pudesse explicar... De fato, foram necessárias muitas gerações para produzir a Bíblia, mas isso, longe de desacreditá-la, chama mais atenção para sua credibilidade, pois todos os livros do cânon sagrado são perfeitamente harmônicos e não se contradizem. Isso é fantástico!]

José Saramago não considera esse romance seu particular e definitivo ajuste de contas com Deus, porque "as contas com Deus não são definitivas, mas sim com os homens que O inventaram", disse. "Deus, o demônio, o bem, o mal, tudo isso está em nossa cabeça, não no céu ou no inferno, que também inventamos. Não nos damos conta de que, tendo inventado Deus, imediatamente nos tornamos Seus escravos", assinalou o autor. ["Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará", disse Jesus (cf. João 8:32). Entre um ateu enraivecido e Jesus, fico com o segundo, sem pestanejar.]

O escritor nega que o fato de ter chegado perto da morte há um ano, quando foi hospitalizado por conta de uma pneumonia, o tenha feito pensar mais em Deus. "Tenho assumido que Deus não existe [ele "assume" porque sabe que não pode afirmar isso], portanto não tive de chamá-Lo em uma situação gravíssima na qual me encontrava. Mas se eu o chamasse, e ele aparecesse, que poderia dizer ou pedir a Ele, que prolongasse minha vida?" Saramago diz ainda que "morreremos quando tivermos que morrer. E diz que quem o salvou foram os médicos, Pilar (sua esposa e tradutora) e o excelente coração que tenho, apesar da idade [e o "excelente coração" que ele tem é resultado de quê? Quem o projetou? A ingratidão é triste.]. O resto é literatura, da pior espécie". (...)

O escritor começou a pensar em Caim há muitos anos, mas começou a escrever o romance em dezembro de 2008, concluindo o texto em menos de quatro meses. "Estava em uma espécie de transe [!]. Nunca havia me sucedido tal coisa, pelo menos com essa intensidade, com essa força", lembra. (...)

(O Estado de S. Paulo)