terça-feira, setembro 01, 2009

Jornalista retoma em livro união entre ciência e fé

No livro Mostre-me Deus – O que a mensagem do espaço nos diz a respeito de Deus (Clio Editora), o jornalista darwinista teísta Fred Heeren tenta conciliar ciência e fé. Heeren defende a teoria do Big Bang para o origem do Universo, embora não descarte a mão de Deus no processo todo, como convém a um cristão protestante que é. Porém, mais que opção de fé, ele tenta demonstrar na obra, com argumentos científicos, que “se a equação para a origem da vida não contiver Deus, não será resolvida”. O autor buscou balizar suas ideias com entrevistas com os grandes nomes da ciência atual, entre eles, Stephen Hawking, cosmólogo que deu ao mundo mais explicações sobre o Big Bang e ajudou a tornar a teoria a mais aceita atualmente, embora não seja a única.

Confira abaixo uma parte da entrevista com Heeren feita pelo EPTV.com na sessão de lançamento do livro em Campinas:

Seu livro pode ser visto como uma opção a obras como as de Richard Dawkins?

Sim, pode ser visto como um certo tipo de resposta ao Dawkins, mas de forma mais amigável e menos polêmica. Eu tenho muitos amigos pessoais que são ateístas, panteístas ou pertencem a outras religiões, e pra mim é importante que todos nós possamos no dar muito bem.

Qual a principal mensagem que o livro traz para as pessoas que não são crentes?

A principal mensagem da obra é que havia grandes coisas que foram entendidas no século 19; e as descobertas do século 20 simplesmente viraram de cabeça para baixo esses pressupostos.

De que maneira encontrou Deus nessa revolução científica?

O fato das descobertas do Big Bang, o evento da criação, tem muito significado nesse processo. Não porque isso sugere que o Universo teve um começo, mas porque sugere que o Universo não é autossustentável; exige que tenha uma causa que seja fora de si mesmo.

Deus teria sido aquele que detonou a explosão do Big Bang?

Os cientistas não gostam de usar o termo “explosão”, mas sim expansão. Mas isso sugere que tudo começou de uma forma muito lenta, num estado bem primitivo, e isso exige um grande organizador externo.

Onde Stephen Hawking escreve “singularidade” para definir o que gerou o Big Bang, você diz que é Deus?

Deus não é a singularidade, mas a causa da singularidade.

Para os crentes, o que o livro acrescenta, já que quem acredita, não precisa de mais convencimentos?

Cristãos têm dúvidas como todas as outras pessoas; o livro pode ser uma ajuda para eles não só suprirem suas dúvidas, mas como uma forma de falarem de Deus para outros. Muitos de nós temos sido ensinados na escola que temos que fazer uma escolha entre ciência e fé. E isso é uma dicotomia falsa.

Como ele pode validar Deus dentro do método científico?

Esses dois campos de estudo continuam separados. A ciência não pode oferecer provas, mas pode dar direções e apontamentos. E a questão da fé é uma questão individual na qual elas vão ter que decidir para que lado vão.

O que o espaço pode de fato oferecer para a crença em Deus. E por que temos que olhar para tão longe para enxergá-Lo?

Uma das pressuposições do século 19 é que o Universo era fora de ordem, randômico, que vivia a seu bel prazer. Na verdade, uma das grandes descobertas do século 20 é que existe um “ajuste fino” extremamente coerente, que é o que permite que a vida exista dentro deste contexto. O problema do “ajuste fino” é que os físicos não conseguem entender por que isso existe ou como surgiu. E também chamam isso de “princípio antrópico” porque tudo indica que isto existe em benefício da humanidade.

O que o fez descartar o criacionismo, que é uma questão tão em voga nos Estados Unidos, tão ardentemente defendida?

Depende do que você chama de Criacionismo. Se for uma Terra jovem de 6 mil anos atrás, eu realmente abri mão disso há muitos anos.

A ideia é que Deus criou todas as coisas.

Acho que há muitas interpretações do Gênesis nos Estados Unidos hoje e o equívoco que essas interpretações têm é que estão lendo no texto alguns pressupostos científicos que eles têm hoje. Na minha visão, pra ser honesto com o escrito da Bíblia, você tem que perguntar o que o escritor original queria dizer quando ele escreveu isso para seu público original. Com certeza, não existia ciência moderna naquele tempo. Na verdade, eles estão respondendo outras perguntas que a mente científica quer encontrar hoje. Por exemplo, eles não têm a mínima preocupação em dizer em que ano o mundo foi criado, simplesmente dizem quem criou.

Qual o ponto de contato entre uma criação divina e o Big Bang?

Muitas pessoas pensam que a teoria do Big Bang explica como o Universo se tornou o que é. Na verdade, o Big Bang não é uma resposta, mas uma grande pergunta, e torna o mistério ainda maior. Para mim, eu me voltei para a Bíblia para entender qual o propósito de Deus com a criação, porque a ciência não nos dá essa resposta. E porque o Gênesis nos fala de propósitos e não de processos; e aí, nós temos que prestar atenção mais no sentido e não no mecanismo.

Qual dos grandes cientistas que você entrevistou mais o surpreendeu?

Arnold Penzias, que descobriu as micro-ondas e a radiação de fundo do Universo e ganhou o Prêmio Nobel por conta da descoberta. A descoberta enterrou de vez o modelo estático para o início do Universo e demonstrou sua origem como expansão. Ele é muito articulado na questão da fé e da ciência e entendeu o limite da ciência e de como esta tem seus limites para explicar inclusive as próprias questões físicas da realidade.

Houve algum cientista que se recusou a dar entrevista pelo tema envolver Deus?

Não, porque eu não deixava eles saberem antes que eu estava com a ideia de Deus (risos). Eu não estava pregando uma peça, mas tentando usar o bom senso. (...)