quarta-feira, setembro 02, 2009

Projeto Atlanta 2010: Quase impossível

Depois do que se passou com minha esposa (leia o primeiro diário), pouco antes da minha partida, ainda estive alguns dias relembrando meus desafios anteriores e o quanto Deus atuou para me conceder a vitória em todos eles. Obviamente, chamo de “vitórias” as pessoas que foram alcançadas para o reino de Deus por meio dos testemunhos que ouviram de mim. Ou seja, o Espírito Santo me usou para convencê-las de que só há um Deus verdadeiro e também um único caminho para se entrar no Céu.

Os anjos têm trabalhado muito para me manter vivo. Lembro-me de que no Rio de Janeiro eu estava de carona, sentado ao lado do motorista, em uma Kombi, e, ao entrarmos em uma curva, fomos surpreendidos por um caminhão desgovernado. Batemos de frente e o mais incrível é que, com o impacto, a Kombi ficou amassada de dentro para fora, livrando-me de quebrar as duas pernas. O motorista também saiu ileso. E o caminhão ficou com o para-choque danificado.

Ainda no Rio de Janeiro, fazendo uma corrida de 16 quilômetros pela Avenida das Américas, uma van de 12 lugares, vindo em sentido contrário, desgovernou-se e atingiu com força meu ombro direito. O motorista fugiu desesperado, deixando-me caído no acostamento. Depois de alguns minutos, recuperei os sentidos, me pus de pé e percebi o milagre: nenhum osso havia quebrado. Sentia apenas dores leves. Por outro lado, a van ficou sem o retrovisor esquerdo, porque o anjo do Senhor, o ser poderoso e invisível que me acompanha 24 horas por dia, para me livrar de ter uma clavícula quebrada, arrancou a peça por inteiro e a atirou para longe de mim.

Antes disso, ainda, saí para realizar um treinamento na Serra do Mar, treinamento que consistia em subir até o topo de uma grande montanha, na praia de Boraceia, em Bertioga, São Paulo. Quando estava quase no topo, sempre subindo pelas pedras de uma cachoeira, ao parar para descansar e colocar a mão direita em um arbusto seco, ele quebrou. Desequilibrei-me e acabei por enfiar a mão na boca de uma jararaca. A mordida foi muito dolorosa e as presas deixaram dois furos que passaram a sangrar. Imediatamente toda a mão ficou inchada. Como estava sozinho e a uns 15 km de casa, sabia que não teria outro fim, a não ser uma morte horrível. Então, a única saída seria um milagre. Sendo assim, orei ao Senhor e pedi que me permitisse correr até minha casa a fim de buscar socorro.

Sabe-se que uma pessoa mordida por cobras peçonhentas como coral, cascavel, jararaca, etc., necessita ser imobilizada e imediatamente transportada a um hospital. Nisso reside o milagre que quero contar, pois corri 15 km envenenado e esperei seis horas até o atendimento, sem que o veneno da serpente atingisse meu coração. Corri o risco de quase ter o braço direto amputado, devido às toxinas que danificaram os músculos, inchando-os a ponto de quase se romper. Estive uma noite inteira na UTI. Todavia, recuperei-me completamente e alguns meses depois estava iniciando uma viagem de 8.200 km pela Argentina, Uruguai e Paraguai. Sim, amigo, há muito o que dizer sobre as maravilhas que Deus tem feito em minha vida. Mas o espaço agora é pequeno e estou ansioso para contar o que vem acontecendo aqui na Venezuela...

Antes, porém, de narrar tudo que passei até Caracas, a capital da Venezuela, onde estou agora, preciso contar como consegui a “Atlanta” (nome que dei à bicicleta que me acompanhará nesta travessia das três Américas). Como já disse, não consegui patrocínio para esta maratona de fé. Talvez alguns pensem que quero o dinheiro para me enriquecer... De forma alguma. Quase tudo o que possuo – uma casa e um carro –, comprei-os com o salário que recebo como aposentado da Forca Aérea, onde trabalhei por 27 anos. Qualquer oferta que me chega às mãos de outra fonte, uso-a para manter o Ministério do Atleta da Fé. E, como são poucos os que acreditam em projetos como este, recebo pouquíssima ajuda. Agora, imagine custear as despesas de uma volta ao mundo, mesmo por etapas, como estou fazendo... De quanto dinheiro se necessita?

Como também já comentei, apos uma peregrinação infrutífera em busca de patrocínio, decidi fazer um empréstimo para iniciar a viagem. Consegui R$ 3.000,00 para pagar em 15 suaves prestações. Esse dinheiro calculei que daria apenas para viajar de São Paulo a Brasília, de Brasília até Manaus e de Manaus a Boa Vista. Seria apenas para as passagens e a comida. E, realmente, calculei certo, porque cheguei a Boa Vista apenas com R$ 140,00.

No entanto, como desejo correr e pedalar até Atlanta, nos Estados Unidos, faltavam a bicicleta e os acessórios – algo próximo a R$ 2.000,00. Assim, saí de casa já necessitando de um milagre; de algo impossível para mim. Deus precisava sensibilizar alguém para me dar essa ajuda. Mas onde estaria essa pessoa? Em Brasília? Em Manaus? Em Boa Vista, minha ultima escala antes da viagem? Então, como um verdadeiro atleta da fé, deixei meu lar certo de que não precisaria me endividar mais para conseguir a bicicleta (apesar de estar disposto a isso). Na primeira parada, Brasília, não foi possível. Prometeram ajuda mais à frente. Na segunda, Manaus, estive bem perto; inclusive visitei as fabricas de bicicletas da Sandown e da Caloi. Ambas impuseram restrições burocráticas para fornecer a bike. Disseram que o projeto primeiro deveria ter a autorização da matriz de São Paulo.

Só restou Boa Vista. O último porto. A última esperança. A última montanha a transportar pela fé, para alcançar a graça de ter meu equipamento de viagem. Logo ao chegar, tive um bom sinal. Fui recebido pelo cunhado do pastor Otimar Gonçalves (líder sul-americano dos jovens adventistas) e sua amável esposa Ivonete. Levaram-me para a casa deles. Deram-me um lugar para dormir, boa comida, atenção e muito carinho – ações dignas de verdadeiros filhos de Deus. Quando contei ao Janus (o cunhado do pastor Otimar) sobre estar sem patrocinador e não ter até aquele momento os equipamentos de viagem, ele se dispôs a ajudar no que fosse preciso.

Cheguei à casa deles no sábado à noite. Passamos um domingo muito agradável, e na segunda começamos a busca pelo patrocínio. Primeiro, fomos à TV Roraima e conseguimos acertar a cobertura da largada, com o mesmo repórter que me acompanhou na descida do Monte Caburaí, em 2002, o Luciano Abreu. Depois, o Janus me deixou em uma avenida de Boa Vista, cheia de grandes lojas onde esperava convencer algum empresário a se engajar no projeto. Inclusive lhes prometia divulgar a empresa em meu site e durante a entrevista na TV Roraima, afiliada da TV Globo para o Estado. Mas quando falava em números, todos tinham uma resposta pronta, como: “Os negócios não vão bem.” “Estamos no meio de uma crise financeira e não temos mais verbas para patrocínio.” “Este ano já fechamos as despesas com publicidade.” Assim, passei toda a manhã de segunda-feira ouvindo essas desculpas. Então, parei. Fiquei toda a tarde até o começo da noite em oração, enquanto esperava o irmão Janus vir me buscar. Quando chegou, por volta das 18h, foi duro dizer-lhe que não tinha obtido sucesso. Mas, disse que pela fé conseguiria.

Passei a noite esperando que Deus alinhavasse esse milagre. Na manhã da terça-feira, um dia antes da largada, na primeira loja em que fomos (o Mercadão das Bicicletas), o senhor Antonio Araújo, um maranhense, foi o egípcio de hoje, que Deus proveu para me dar a “Atlanta”, uma bicicleta toda equipada para a viagem aos Estados Unidos. A melhor e mais cara bicicleta que ele tinha em sua humilde loja. Um milagre necessário, quase impossível e alcançado pela fé, segundo a vontade e amor infindo do Deus a quem sirvo. Esse Deus está aqui comigo. Acompanhe esta viagem e seja também abençoado.

Que as asas dos anjos do Senhor dos Exércitos, Jesus Cristo, me cubram até que chegue a Atlanta.

(George Silva de Souza, atleta e autor livro Conquistando o Brasil)