quinta-feira, setembro 10, 2009

Promessas de Deus ou dos homens?

A ganância desenfreada mais uma vez mostrou o caráter dissimulado de pessoas que lucram com a boa fé dos membros das igrejas. Diante de tantos fatos negativos mostrados na mídia, muitos podem se perguntar: “É correto dar dinheiro às igrejas?” Vamos buscar respostas bíblicas que revelam se dízimos e ofertas são da vontade de Deus ou de homens. Para começar, precisamos entender um termo que muitos conhecem, mas que atualmente possui sentido pejorativo: mordomia. A primeira ideia que pode nos vir à cabeça quando falamos de mordomia é a de alguém folgado que quer ser servido. E talvez imaginemos o mordomo como aquela figura sóbria, com uma bandeja na mão e que geralmente leva a culpa quando um crime acontece. Entretanto, ao consultar um dicionário, percebemos que mordomo simplesmente é alguém que administra uma casa ou os bens de alguém. Aí está o ponto: todos nós somos mordomos. O que quero dizer é que apenas administramos tudo o que o Senhor nos põe à mão (não só financeiramente, mas também nosso corpo, nosso tempo, etc.). Quando nascemos, nada trazemos a este mundo e dele nada levamos, quando morremos. Ninguém, por mais rico, famoso ou notório que seja, leva algo desta vida.

Agora que chegamos à conclusão de quem é o dono de todas as coisas, pois “ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Salmo 24:1), podemos dar o segundo passo e entender o que é o dízimo. A palavra “dízimo” quer dizer a “décima parte”. Em Levítico 27, lemos: “Também todas as dízimas da terra, tanto do cereal do campo como dos frutos das árvores são do Senhor, santas são ao Senhor.” Os servos de Deus dizimaram desde o princípio. Abrão de tudo Lhe dava o dízimo (Gênesis 14:18-20). Jacó em seu pacto com Deus também prometeu dar-Lhe o dízimo (Gênesis 28:20-22). Diversas vezes a Bíblia mostra os filhos de Deus sendo fiéis por meio dos dízimos. Portanto, concluímos que devemos devolver ao Senhor apenas um décimo daquilo com o que Ele nos agraciou, não importando o valor, mas sim a fidelidade e gratidão a Ele. Vemos nisso claramente a sabedoria de Deus, que instituiu uma porcentagem do que recebemos e não um valor fechado, para que todos possam ser leais em conformidade com o que têm.

As ofertas também fazem parte da gratidão ao Senhor. Contudo, isso é algo individual entre cada um e Deus. “Cada um oferecerá na proporção em que possa dar, segundo a bênção que o Senhor, seu Deus, lhe houver concedido” (Deuteronômio 16:17). Nunca devemos ser persuadidos ou até mesmo coagidos a dar ofertas. Elas devem ser voluntárias e seu valor, como citado no verso bíblico acima, na proporção em que possamos dar.

Já descobrimos quem é o dono dos dízimos e das ofertas, como foi criado esse sistema e agora resta a pergunta: Para onde devem ir esses recursos?

Em números 18:21-24, conferimos que tudo devia ser entregue aos levitas, que eram os sacerdotes da época. Eles viviam apenas dos dízimos, visto que prestavam serviço exclusivamente no santuário de Deus. “Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na Minha casa; e provai-Me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se Eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida” (Malaquias 3:10). Note que nesse verso é dito que os dízimos devem ser levados à casa do Senhor, ou seja, eles devem ser levados à igreja. Na segunda parte do verso, é dito que em consequência disso Deus nos abençoará.

Vou abrir aqui um parêntese: esse é o grande argumento usado pelos charlatães da fé. É dar para receber. E receber mais ainda do que foi dado, sem medida! Reflitamos, no entanto, com atenção. Deus não é alguém com quem se barganhe. Ele é o Senhor dos Céus e da Terra. Não devemos oferecer nossos dízimos e ofertas com a intenção de receber algo em troca. E então você pode dizer, mas Deus não prometeu bênçãos sem medida? Claro que sim. Isso não quer dizer que automaticamente você receberá algo (e ainda mais do que deu), e que esse algo sejam as coisas que você julga merecer. As bênçãos de Deus não são apenas bens materiais. Saúde, família, paz, proteção, conhecimento, bem-estar espiritual e mental – e, principalmente, a graça da vida eterna pelo sacrifício do filho de Deus – são bênçãos sem medida, que dinheiro algum compra. Ser rico, estar bem financeiramente, não é pecado. Mas esse não deve ser o foco de nossa vida. Deus deve estar em primeiro lugar.

No Novo Testamento, Jesus não desaprovou esse sistema: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, e tendes omitido o que há de mais importante na lei, a saber, a justiça, a misericórdia e a fé; estas coisas, porém, devíeis fazer, sem omitir aquelas” (Mateus 23:23). Na realidade, Jesus confirmou que era correto devolver o dízimo e que também temos a obrigação com a justiça, a misericórdia e a fé. Paulo, já depois da morte de Jesus, ratifica em 1 Coríntios 9: 14 essa prática: “Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho.”

Os dízimos e ofertas são propriedade de Deus, os quais Ele determinou que fossem usados para sustento dos que pregam o evangelho, para manter Sua casa (as igrejas) e para levar Sua palavra aos que ainda não a conhecem. Portanto, sejamos fiéis em nossos dízimos e generosos em nossas ofertas. Não esperando algo em troca, e sim expressando a Deus e somente a Ele nossa fidelidade, amor e gratidão.

E em relação aos que usam a Bíblia e o nome de nosso Senhor Jesus para enriquecer, esses serão julgados... Eles podem até escapar da justiça humana, mas certamente não do tribunal divino. “Roubará o homem a Deus? Todavia vós Me roubais, e dizeis: Em que Te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Vós sois amaldiçoados com a maldição; porque a Mim Me roubais, sim, vós, esta nação toda” (Malaquias 3:8, 9).

(Lucila Tiujo dos Reis é jornalista em Curitiba, PR)

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