sexta-feira, outubro 30, 2009

Dawkins, Robespierre e a deusa Razão

Soberba essa foto de Dawkins no FLIP postada por você, Michelson. Aliás, fosse eu espírita diria: “Gente, Robespierre reencarnou!” Como devoto do postulado megaevolucionista, que diz que tudo evolui até transformar-se em algo totalmente diverso, Richard talvez até concordasse comigo, ainda que em sua suposta vida passada como Maximilien, aquele pseudoteísta tenha promovido uma verdadeira cruzada contra o ateísmo (vá lá que isso não tenha passado de pretexto para guilhotinar Danton e Desmoulins sob a acusação de impenitência).

Ocorre que o pretenso teísmo de Robespierre escondia, na verdade, um delírio megalômano de conformação personalista e messiânica. Em 8 de julho de 1794, resolveu ele presidir como sumo-sacerdote a procissão e festa “do Ser Supremo e da Natureza”. Vestido apenas de sandalinhas, tiara de louros e uma camisolinha branca, subiu o morro. Visto lá de baixo, à distância, parecia encarnar uma espécie de deusa da Razão. Diante do insólito travesti, os poucos colegas que ele ainda não havia degolado não tiveram dúvidas. Menos de três semanas depois, cataram a “deusa” à unha e cortaram-lhe a cabeça.

Não deixa de haver certas semelhanças de temperamento entre o biólogo de Oxford e o serial killer francês, mesmo que apesar do espalhafato vulgar e da compulsão por holofotes, Dawkins talvez não chegue ao extremo de se travestir de “deusa da Razão” – não sejamos insolentes a ponto de cantarolar mentalmente o sucesso musical dos anos 80 da cantora Rosana.* Mas dizem que depois dos 50 anos todo homem está fadado a ter estampada nas feições a soma de seus traços de caráter. Sexagenário, Dick não abandona o ditado ao sereno: as cãs revoltas traem deboche; o sorriso maroto com uma mordidinha na língua, cinismo; o olhar de Capitu, ardis. A continuar ele seu streap-tease de alma através das peculiaridades do semblante, corremos o risco de que Lombroso seja reabilitado.

Espírito de época... Enquanto Behe nos brinda com fatos (fatos até agora incontestes), Dawkins vive à cata de câmeras para chacoalhar metaforicamente suas ancas murchas e anciãs por sobre a boquinha da garrafa. Desnecessário dizer qual deles chama a atenção. Como diria nosso divino rabi Yeshua, “a sabedoria é justificada por seus filhos”.

(Marco Dourado, de Curitiba, PR)

(*) Recordar é viver. Rosana se antecipa a Dawkins em 20 anos e canta “O amor e o poder”. Leia um trecho da letra: "Como uma deusa / Você me mantém / E as coisas que você me diz / Me levam além."