quinta-feira, outubro 29, 2009

Papa reafirma que só igreja pode interpretar a Bíblia

O papa Bento XVI reiterou com firmeza, em um encontro com estudantes e professores do Pontifício Instituto Bíblico, que apenas a Igreja Católica pode interpretar “autenticamente” a Bíblia. “À Igreja é destinado o trabalho de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita e transmitida, exercitando a sua autoridade em nome de Jesus Cristo”, defendeu o papa, ao se reunir com cerca de 400 estudantes, funcionários e docentes em comemoração aos cem anos da fundação da entidade pontifícia. Bento XVI também destacou que, sem a fé e a tradição da Igreja, a Bíblia torna-se um livro “lacrado”. “Se as exegeses querem ser também teologia, é preciso reconhecer que a fé da Igreja é aquela forma de simpatia, sem a qual a Bíblia torna-se um livro selado: a tradição não fecha o acesso à Escritura, mas, sobretudo, o abre”, disse.

De acordo com o pontífice, “por outro lado, é da Igreja, nos seus organismos institucionais, a palavra decisiva na interpretação da Escritura”, sendo esta “uma única coisa a partir de um único povo de Deus, que tem sido seu portador através da história”.

“Ler a Escritura com união significa lê-la a partir da Igreja como seu lugar vital e acreditar na fé da Igreja como a verdadeira chave da interpretação”, explicou Bento XVI.

O papa relembrou também que o aumento do interesse pelo livro sagrado católico [sic] no decorrer deste século ocorreu graças ao Concílio Vaticano II, especificamente à constituição dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina.

Entre os presentes na reunião estavam o prefeito da Congregação para a Educação Católica, cardeal Zenon Grocholewski, e o padre Adolfo Nicolás Pachón, da Companhia de Jesus.

(Estadão)

Nota: Nada de novo. Ao mesmo tempo em que o papa prega o ecumenismo (união das igrejas), deixa claro que a primazia pertence à sua igreja. Como assim só a Igreja Católica pode interpretar a Bíblia? Quando Jesus sugeriu que é boa coisa examinar as Escrituras (Jo 5:39), não estava falando para católicos. Quando João, no Apocalipse, afirma que são bem-aventurados aqueles que leem (Ap 1:3), também não tem em vista leitores católicos, já que essa igreja ainda não existia. Na verdade, o correto é deixar que a Bíblia interprete a si mesma. Nada de “tradição”, visão institucional ou coisa que o valha. A Palavra é para todos e está ao alcance da compreensão de todos. Essa postura dos líderes católicos não é de hoje. É como escreveu Ellen White, há um século: “Roma jacta-se de que nunca muda. Os princípios de Gregório VII e Inocêncio III ainda são os princípios da Igreja Católica Romana. E tivesse ela tão-somente o poder, os colocaria em prática com tanto vigor agora como nos séculos passados. Pouco sabem os protestantes do que estão fazendo ao se proporem aceitar o auxílio de Roma na obra da exaltação do domingo. Enquanto se aplicam à realização de seu propósito, Roma está visando a restabelecer o seu poder, para recuperar a supremacia perdida” (O Grande Conflito, p. 581). Pelo menos uma vantagem o Concílio Vaticano II teve: estimulou os católicos a lerem a Bíblia. Talvez o papa esteja preocupado com essa abertura, já que o êxodo de seu rebanho para outras igrejas não para de se acentuar.[MB]