sexta-feira, outubro 16, 2009

Projeto Atlanta 2010: Venezuela (parte 1)

Depois de escapar das serpentes e das vacas loucas por sal, continuei na direção de Pacaraima, a última cidade do Brasil antes de entrar na Venezuela. Quando cheguei a Pacaraima, após pedalar 120 km, dos quais 25 subindo uma grande serra, passei mal. Vomitei várias vezes e quase fui hospitalizado. Porém, como sabia que o mal estar fora provocado por ingestão de água contaminada, ou seja, sabia que meu organismo apenas estava eliminando bactérias nocivas, resolvi me tratar apenas com chás e soro caseiro. Por causa desse desconforto, perdi uns três quilos, pois fiquei dois dias sem poder comer alimentos sólidos e cuidei apenas da hidratação.

Em Pacaraima, fui atendido pelo irmão Antônio Barateiro e a esposa dele, Cristiane. Além de me hospedarem em sua casa, o irmão Antônio, ancião da igreja de Pacaraima, conseguiu que eu pudesse pregar no sábado e isso foi uma bênção, pois umas dez visitas que ouviram atentamente meu testemunho de conversão tomaram a decisão de entregar a vida a Jesus. Esse foi meu primeiro troféu espiritual antes de entrar na Venezuela.

No domingo pela manhã, após pedalar apenas 20 km, cheguei à primeira cidade do país vizinho, a tranquila Santa Helena de Uairén, onde também preguei em uma igreja menor, na qual mais pessoas uniram-se a nossa fé de que Cristo está voltando e que Seu povo aqui neste planeta se reúne na Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Depois de Santa Helena, segui para a comunidade indígena adventista conhecida como San Francisco, onde recebi o apoio de outro irmão venezuelano, indígena, chamado Eleutério. Hospedei-me na casa dele e às 5h30 da manhã segui para outra comunidade indígena chamada Las Claritas, distante 180 km de San Francisco.

Para chegar a esse local tive a satisfação de atravessar o Parque Nacional de Canaima, um lugar deslumbrante, cheio de corredores, altas montanhas e muitas cachoeiras.

Todavia, após passar um dia inteiro pedalando, tendo tomado muito sol e subido morros, colinas e serras que alcançaram a altitude de 1.500 m, chegando em Las Claritas com 179 km, superando todos os obstáculos naturais, físicos e psicológicos, nessa nova comunidade indígena não obtive apoio e nem mesmo pude dormir, tão somente porque não tinha uma carta de apresentação que pudesse atestar que sou adventista. Não tive como convencer os líderes de que só teria esse documento após passar pela primeira Associação Adventista da Venezuela, no caso, localizada em Puerto Ordaz, a mais de 300 km de Las Claritas.

Por isso, fui obrigado a buscar ajuda junto a outras pessoas, que me atenderam de braços abertos e me cederam um quarto com ar refrigerado para que eu pudesse descansar das grandes lutas da viagem, especialmente do sentimento de rejeição por parte dos líderes da comunidade indígena.

Foi com alegria que vi o sol nascer no pequeno povoado de Las Claritas e poder estar em condições de prosseguir meu destino me deixou mais animado. Estou agora a 13.350 km de Atlanta, segundo minhas estimativas. Muito longe; longe demais, por uma visão matemática, e perto, pertíssimo pelo prisma de minha fé.

Após uns 500 km desde que saí de Boa Vista, no Brasil, deixei o Parque Nacional de Canaima, na Venezuela. O fim dele está depois de Las Claritas e então segui para El Dorado, El Callao, Upata, Puerto Ordaz, Ciudad Bolivar e El Tigre.

Em todas essas cidades tive apoio da igreja adventista local, milagres ocorreram e pessoas se converteram. Mas, ao deixar El Tigre (cidade que tem esse nome porque em sua fundação os pioneiros que exploravam petróleo eram obrigados a fugir de tigres que havia em grande quantidade nas florestas da região), quase fui atropelado por um caminhão dirigido por um motorista insensato que me jogou para fora da pista. Entretanto, graças aos anjos de Deus, escapei e prossegui, até alcançar o extremo norte da América do Sul, o mar do Caribe, via cidade de Barcelona e Puerto Piritu.

Cheguei com a “gorducha” (minha bike) às 23h30, em Puerto Piritu. Por causa do horário, não fui em busca de alguém da igreja. Procurei um hotelzinho para dormir e sair na madrugada do dia seguinte. No entanto, três hotéis que visitei estavam lotados. Por isso, resolvi fazer um lanche e prosseguir viagem noite adentro, mesmo após ter pedalado 200 km para chegar à cidade. Eu estava cansado, mas me animei a pedalar até encontrar um local na floresta ao longo da pista para armar minha rede de selva e então passar a noite.

No entanto, enquanto comia na lanchonete a beira da pista, três rapazes me observavam de forma suspeita. Fiquei desconfiado. Paguei a conta e montei na bike para sair rápido dali. Não havia me afastado muito quando um deles me chamou e disse que eu colocasse a bike em cima de uma caminhonete que estava com eles. Explicaram que queriam me ajudar, pois sabiam que eu não tinha onde dormir. Para isso, teria que confiar neles e subir na pick-up. Bom, não vi saída para a situação e, confiando somente nas providencias misteriosas de Deus para me socorrer, joguei a “gorducha” na carroceria e subi no carro, orando para que não estivesse caindo em mãos de ladrões.

Tomei um susto enorme quando deixaram a cidade e saíram na direção dos montes, para o campo. Pensei que parariam em um lugar ermo e me roubariam e até teriam condições de intentar contra minha vida. No entanto, após uns 20 minutos de viagem, a caminhonete chegou a uma casa com um muro branco e alto, cujo portão se abriu automaticamente. Mandaram-me descer com a bike e então disseram que estavam admirados comigo, pois haviam passado por mim às 8 horas da manha, quando saí de El Tigre, e às 23h30 me viram comendo um lanche em Puerto Piritu, a mais de 200 km de onde me haviam visto. Desconfiaram de que eu estava fazendo uma viagem importante e informaram por telefone ao seu pai, que lhes autorizou me levar para passar a noite em sua casa.

Nesse lar fui muitíssimo bem tratado e pude ligar para minha casa, no Brasil, comer bem, usar a internet e só sair dois dias depois, quando estava plenamente recuperado de todos os atropelos dos dias anteriores.

Apesar de não serem meus irmãos de fé, eram homens de valor e tementes ao Deus do Céu, em nome do qual fizeram-me esses favores. Dois dias depois, quando deixei aquele lar, plantei uma forte semente de esperança e fiz ver o quanto o Senhor da vida está perto de todos os que O invocam com convicção.

Na nossa despedida, ainda recebi uma ajuda financeira para comer e pagar um hotel na cidade seguinte, caso não encontrasse quem pudesse me abrigar.

A seguir, parei em Cúpira, cidade onde recebi o apoio da igreja adventista e participei de uma vigília. Ali ocorreram milagres que você conhecerá na segunda parte deste diário sobre a Venezuela. Aguarde para ler aqui.

Vou avançando com fé. Atlanta para mim não está longe porque Deus está aqui. Venha comigo!

(George Silva de Souza, atleta e autor livro Conquistando o Brasil)