segunda-feira, outubro 12, 2009

Reflexões de um feriado

Enquanto arrumava as malas para voltar de um ótimo fim de semana em família, na cidade de Olímpia, interior do Estado de São Paulo, aproveitei para, ainda no hotel, me atualizar sobre os últimos acontecimentos. Liguei no telejornal Bom Dia Brasil e acabei tendo um verdadeiro retrato do nosso país.

A primeira notícia que me chamou a atenção foi o terrível incêndio na favela Diogo Pires, no bairro Jaguaré, Zona Oeste de São Paulo (até então, eu não sabia do que havia ocorrido lá). Mais de 300 famílias ficaram desabrigadas, mas, milagrosamente, ninguém perdeu a vida. Acredita-se que o incêndio que destruiu os barracos pode ter sido causado por problemas elétricos. Apesar de ser uma ocupação irregular (semelhante àqueles barracos construídos teimosamente em encostas de montanhas sob risco de desmoronamento), dava dó ver a desolação das famílias que perderam o pouco que tinham. Alguns entrevistados diziam com ar de resignação: “Deus vai me ajudar a adquirir tudo de novo. O importante é que meus filhos estão vivos.” A culpa pela tragédia não é de Deus. A culpa pelas mazelas sociais também não é dEle. Mesmo assim, Ele olha com carinho e compaixão para os filhos desnorteados e quer que saibam que logo tudo isso terá fim.

Outra notícia foi sobre o Círio de Nazaré, evento que reúne milhões de católicos, todos os anos, na cidade de Belém, PA. Vi a multidão comprimida, suarenta, tentando segurar a corda de mais de 300 metros. Alguns seguiam de joelhos, com expressão de dor, mas gratos por bênçãos atribuídas a Nossa Senhora. À frente, numa padiola, ia a pequena imagem da santa, envolta em flores. Quando eu era católico, perguntei a alguns padres por que adorávamos imagens, a despeito do segundo mandamento da lei de Deus. Recebi como resposta a seguinte explicação: “Não adoramos, apenas reverenciamos os santos.” Ok, mas diga isso à multidão que seguia em estado de transe buscando chegar o mais próximo que podia da estátua... A despeito da idolatria, Deus olha com carinho e misericórdia para Seus filhos que não sabem que podem chegar a Ele unicamente por meio de Jesus, o único Mediador entre o Céu e a Terra (cf. 1Tm 2:5). Ele também quer que as pessoas conheçam essa verdade.

Mas a reportagem que mais me deixou contrariado mostrou o novo samba enredo composto por Martinho da Vila, em homenagem a Noel Rosa. A letra diz o seguinte: “Se um dia na orgia me chamassem, e com saudade perguntassem: Por onde anda Noel? Com toda minha fé responderia: vaga na noite e no dia, vive na terra e no céu... Com o sedutor não bebi, nem fui com ele ao bordel, mas sei que está presente com a gente nesse laurel.” É a típica ideia do brasileiro que acha que pode viver dissolutamente o ano inteiro e, depois, pagar uma promessa aqui, fazer uma penitência ali, e pronto, está tudo resolvido com o “Pai (ou a mãe) lá de cima”. Deus ama também esses filhos, mas como suportar tamanha indiferença, tamanha hipocrisia?

Depois dessa matéria, resolvi desligar a TV. Não queria estragar o restante do passeio, nem apagar as boas recordações da visita do dia anterior ao Parque Thermas dos Laranjais. Minha esposa, filhas e eu nos divertimos bastante nas piscinas de águas mornas e nos brinquedos, mas o que mais nos impressionou foi o contato com as lhamas, as ovelhas e cabras, os papagaios e as araras, num minizoo dentro do parque. Cheguei a realizar um sonho de infância: segurar uma arara (duas delas subiram em meu boné). Que animais lindos! Até mesmo minha filha de cinco anos pôde se divertir segurando uma dócil arara azul. Ao contemplar a cena – os olhinhos da minha menina e as penas azuladas brilhando ao sol –, não pude deixar de pensar nas palavras de Paulo em Romanos 1:20, segundo as quais os atributos invisíveis de Deus são claramente reconhecidos nas obras criadas por Ele.

O mundo vai de mal a pior, mas os "flashes" de "beleza supérflua" e os momentos especiais que nos dão satisfação não nos deixam esquecer de que Deus ainda olha para nós com profundo interesse e logo afastará as nuvens negras que cobrem a luz de um novo dia que já vai raiando.[MB]