quinta-feira, novembro 05, 2009

Lobos devoradores de dinheiro

No último domingo pela manhã (1º/11), fiquei em casa com minha família. Antes do almoço, resolvi ligar um pouco a TV para ver o que estava sendo exibido. Fiquei espremendo o controle remoto para ver se conseguia alguma coisa boa. Incrível como não tem nada de produtivo! Enquanto espremia, vi o pastor de uma igreja evangélica fazendo um discurso bem eloquente que, resumidamente, dizia: “Estou precisando de 305 pessoas corajosas, que tenham fé e propósito. 305 pessoas que desejam receber de Deus uma bênção especial. Se você é uma dessas pessoas, quero lhe convidar para entrar em contato conosco através do telefone que está em seu vídeo. O número é limitado, portanto, ligue com urgência, pois só aceitaremos 305 pessoas. As mesmas deverão fazer o seu pedido especial e nos informar seu nome para orarmos por elas. Deus irá responder nossa oração atendendo ao seu pedido. Mas para você participar deverá realizar uma doação de R$ 180,00. Você pode dividir esse valor em até três vezes em seu cartão de crédito. Não fique de fora dessa; venha receber a bênção de Deus.”

O que falar também de pedido de oração via mensagem de celular? Aquele que envia paga um pequeno valor para alguém orar por eles. Incrível! Incrível! Incrível como as pessoas estão ficando cegas. O desejo pelo lucro está cegando as pessoas e levando-as a enganar inocentes sofredores que enfrentam dificuldades de todas as formas para doar até o que não têm para poder participar dessas campanhas lastimáveis.

Gostaria de saber qual a base bíblica que os inúmeros “pastores” utilizam para realizar esse tipo de campanha.

A viúva pobre? (Marcos 12:41-44, Lucas 21:1-4)

Os membros da igreja primitiva que doavam tudo aos pés dos apóstolos? (Atos 4:32-37)

O povo de Israel que foi chamado por Deus para doar tudo para a construção do Templo? (Êxodo 35)

Em nenhum desses casos existem argumentos para sustentar esse tipo de pregação enganosa. A viúva pobre não doou o que tinha para receber alguma coisa e nem para convencer Jesus de que merecia uma bênção, muito menos Jesus cobrou para orar por ela. Os membros da igreja primitiva doavam não para enriquecer os apóstolos, mas para dar àqueles que tinham necessidades. Estavam eles doando seus bens para ajudar os pobres, não os apóstolos. O povo de Israel trouxe as ofertas de acordo com seu coração, cada um doava o que possuía para a construção do Templo; não existe nessa história nada que comprove que eu preciso fazer doação para um pastor orar mim. Moisés intercedeu por eles e nada cobrou (Êxodo 32:30-35).

Por que não orar por pessoas sem nada pedir em troca? Por que não orar por todos que estão sofrendo pelo desemprego, pela enfermidade, pela separação, pela dor íntima do coração por causa de um filho, do(a) esposo(a), de um ente querido hospitalizado, por alguém que enfrenta dificuldades financeiras, por alguém que sofre neste mundo, sem nada cobrar deles? Será que somente quem tem R$ 180,00 tem fé e propósito? E aqueles que sofrem e não têm essa quantia? Como eles ficarão? Quem orará por eles? Por que não orar por todos esses e deixar Deus mover o coração daqueles que têm condições a doarem por gratidão? Isso é o correto, mas cobrar “doação” por uma oração é uma heresia que jamais encontrará apoio bíblico.

Muitos outros pretextos podem ser usados, mas, afirmo, não existe nada bíblico que comprove esse ato lastimável.

Paulo declarou: “Mas, não digo isto para que os outros tenham alívio, e vós opressão. Mas para igualdade: que, neste tempo presente, a vossa abundância supra a falta dos outros, para que, também, a sua abundância supra a vossa falta, e haja igualdade. Como está escrito: O que muito colheu não teve demais; e, o que pouco, não teve de menos” (2 Coríntios 8:13-15)

Esta é a orientação bíblica, dar para suprir a necessidade do próximo. Isso é amor. Não podemos tirar daqueles que quase não têm para ajudar outros que estão tendo de sobra a consumirem mais ainda. Isso é uma lástima! Deus apela à Igreja de Éfeso para retornar ao amor fraternal (Apocalipse 2:4). O amor que dá e não pede nada em troca. O amor que ora e intercede e confia em Deus para suprir sua necessidade. O amor que Cristo disse que esfriaria de quase todos (Mateus 24:12).

Paulo adverte quanto ao uso do evangelho para obtenção de lucro: “Contendas de homens corruptos de entendimento e privados da verdade, que cuidam que a piedade seja causa de ganho: aparta-te dos tais... Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se trespassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Timóteo 6:5-10).

A oração é algo que não pode ser pago, é de graça. Se você deseja dar uma oferta de gratidão, faça reconhecendo que não está pagando, mas apenas sendo grato(a) ao Senhor por Suas bênçãos.

Na Idade Média a Igreja Católica vendia indulgências (um título concedido pelo papa afirmando que Deus havia perdoado os pecados de quem a adquirisse). Hoje as igrejas evangélicas incorrem no mesmo erro, vendendo suas orações e bênçãos. Retornamos à Idade Média.

De forma sutil, Satanás está guiando diversos pastores evangélicos ao mesmo erro cometido na Idade Média, confirmando o que está escrito em Eclesiastes 1:9 (“O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se tornará a fazer: de modo que nada há novo debaixo do sol.”) Os enganos são sempre os mesmos; eles somente são vestidos com nova roupagem.

A Igreja Adventista do Sétimo Dia faz suas programações e não solicita ofertas (exemplo: “Futuro com Esperança”, realizado na última semana, transmitido em cadeia nacional pela TV Novo Tempo). Os programas de televisão não pedem doações, pelo contrário, distribuem gratuitamente estudos bíblicos aos telespectadores. Os pedidos de oração são realizados por telefone e pela internet e nada é cobrado. Literaturas são distribuídas gratuitamente. Bíblias são doadas àqueles que se decidem pelo batismo. Todo material para as programações é distribuído gratuitamente. Quando cobrado, é um valor simbólico, como aconteceu com o livro Sinais de Esperança que custou apenas R$ 1,90, e foi adquirido pelos membros e repassado gratuitamente aos amigos não adventistas.

Por que nossa igreja não está cheia? Por que as pessoas tendem a procurar igrejas que exigem delas altas quantias em dinheiro? A resposta é simples: as pessoas tendem a desmerecer o que é dado gratuitamente. Elas querem Cristo, mas querem pagar por Ele. “É de graça? Então não presta.” É o que percebemos com a atitude de muitos.

Quero afirmar, querido amigo, que pela salvação, que pela intercessão de Cristo por você, foi pago um preço que você jamais poderia pagar. Custou a morte e o sangue do Filho do Deus. Não O despreze. Você não precisa pagar ninguém para orar por você. Deus está ao seu lado querendo ouvir sua oração. Ele está ansioso para ouvir sua voz lhe chamando de Pai.

“Cheguemo-nos, pois, com confiança, ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno” (Hebreus 4:16).

Deus está em Seu trono esperando por você. Vá com confiança, é de graça, o preço já foi pago; o mais alto preço que somente o sangue do Filho de Deus poderia pagar. Para chegar ao trono de Deus você só precisa dobrar os joelhos, fechar os olhos e abrir o coração – você não precisa subir, pois Deus desce até você.

“Ó vós, todos os que tendes sede, vinde às águas, e os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” (Isaías 55:1).

Venha sem dinheiro. Cristo não quer seu dinheiro, Ele quer seu coração. Se você desejar dar uma oferta de gratidão, faça, Ele aceita, pois a obra dEle precisa, mas saiba que Ele não é convencido a amar você e abençoá-lo(a) pela sua oferta. Ele o(a) ama há muito tempo, mesmo antes de você nascer (1 João 4 8 e 19).

“E o Espírito e a esposa dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da água da vida” (Apocalipse 22:17).

(Hilton Robson Oliveira Bastos, ex-pastor da Igreja Universal do Reino de Deus)