segunda-feira, dezembro 07, 2009

Projeto Atlanta: Colômbia (parte 6)

Durante minha passagem pela Venezuela, andando por estradas desertas, algumas repletas de florestas, jamais senti medo ou estive preocupado com ação terrorista de qualquer tipo. Por outro lado, quando estive falando com o primeiro colombiano, ele me advertiu dos perigos e da impossibilidade de atravessar seu país sem sofrer graves atentados contra minha vida.

Assim sendo, se hoje me encontro na última fronteira para deixar a Colômbia e durante os 1.580 km que rodei por ela com a “gorducha” (bike), sem sofrer nada, posso dizer que o “impossível” aconteceu. Essa situação me faz lembrar uma passagem bíblica, escrita no livro de Lucas, que diz: “Porque para Deus nada é impossível.” Ou seja, vivo para realizar o impossível em nome de Deus. O impossível neste momento significa chegar aos Estados Unidos atravessando dez países sobre uma bicicleta. O inusitado é pensar do fundo da alma que Deus fará esse milagre. Isso é “fé inocente”. Outros a chamam de “loucura” e há os que chamam de “presunção”, acrescentando que o Senhor não tem obrigação nenhuma de fazer esse milagre. Não sei bem o que é. Sinto uma atmosfera celeste junto a mim. Estou vivendo cada dia por uma concessão de Deus. A morte tem estado a minha espreita em toda parte.

Se fosse detalhar cada instante em que sou liberto das garras do maligno, teria que escrever páginas e páginas só sobre isso. Por exemplo: estava viajando por uma estrada sem acostamento. Era uma rodovia com tráfego intenso de carros, ônibus e caminhões. Um ônibus de turismo se aproximava em alta velocidade. Buzinou para que eu deixasse a pista. Como não havia para onde ir, pois a minha direita estava repleta de buracos, permaneci sobre a rodovia. Em segundos o ônibus passou por mim a mais de 80 km/h. Após sua passagem eu gritei: “Glória a Deus!” Esse grito de gratidão foi motivado por ver que o ônibus estava com uma das portas do bagageiro aberta, a qual, como uma gangorra, abria e fechava conforme a ação do vento. Ou seja, no instante em que o ônibus passou por mim, os anjos de Deus mantiveram a porta fechada, pois se ela estive aberta, eu teria sido atingido.

Por isso continuo avançando, mesmo sem ter a certeza de que verei o pôr do sol do dia seguinte. O bom é que estou agarrado a Cristo como um filho faminto ao seio de sua mãe. Não quero em momento algum afirmar que Deus tem obrigação de dar-me essa vitória. Se Ele quiser, fará. Mas se conseguir alcançar Atlanta da maneira como estou viajando, não fui serei eu que terei chegado – o Príncipe da Paz me leva em Seus braços. Desse modo, toda honra e glória será dEle. Serei apenas instrumento para anunciar ao mundo que há um Deus vivo administrando, cuidando, salvando e protegendo a vida de Seus filhos.

Após quase duas horas de viagem passando por muitos meandros, manguezais e rios estreitos, a pequena lancha, chamada aqui de “palanca”, chegou a Unguia. Ao desembarcar, verifiquei tratar-se de um vilarejo, tendo atrás de si as montanhas do Golfo de Darién, e à frente as águas do Mar do Caribe.

Depois do desembarque, tive que montar as rodas da “gorducha”. Feito isso, segui em busca de um homem chamado Jairo. O irmão Cesar, de Turbo, disse para perguntar no vilarejo que certamente alguém me informaria o endereço de casa de Jairo.

Esta é a vantagem de se morar em um lugar pequeno: todo mundo se conhece e também reconhece quando chega um estrangeiro. Foi assim comigo e a “gorducha”. Logo um jovem em outra bicicleta se aproximou e me perguntou de onde eu vinha. Disse que estava chegando de Turbo e que buscava um certo Jairo.

“Eu o conheço. Sei onde mora. Basta me acompanhar.” Assim, localizei em poucos minutos a casa de Jairo. Homem simpático. Animado. Prestativo e atencioso. Após algumas perguntas, já estava todo interessado em meu trabalho de missionário. Enquanto almoçávamos, ele me fez o convite para pregar na igreja local. Fiquei feliz e aceitei de imediato.

Como realizo apelos após contar o motivo pelo qual faço estas viagens esportivas, o resultado foi o que esperava: várias conversões e decisões pelo batismo.

Por isso este outro apelido que tenho: “caçador celeste”, pois estou em busca de pessoas – onde quer que se encontrem – para habitarem nas mansões celestiais. Quando vi aquelas pessoas se levantarem para aceitar a Jesus, entendi por que Deus me havia trazido de tão longe a Unguia: porque Ele sabia haver neste rincão da terra pessoas sinceras a espera de um chamado para seguirem a Jesus Cristo.

Depois do animadíssimo culto na igreja de Unguia, os irmãos se mostraram muito preocupados quando eu disse que iria seguir por terra até a cidade de Acandi. Um deles disse que provavelmente eu iria me perder e que muitos já tiveram a vida ceifada viajando pelas florestas do Golfo de Darién. Recebi inclusive a informação de que do último grupo que tentou alcançar o Panamá, viajando por essas trilhas, oito estavam desaparecidos, provavelmente raptados pelas Farc ou mortos por seus “guias” colombianos, para roubar-lhes os pertences. Disse-lhes que só iria enfrentar essa viagem por trilhas tão somente por não ter recursos para ir em barco.

Logo, outro me disse: “Se você não tem recursos nem para seguir em barco, onde estão os 600 dólares para apresentar ao serviço de imigração? Caso não possa provar que tem esse dinheiro em mãos, não lhe permitirão entrar no Panamá.”

“Irmãos”, eu disse, “o Senhor proverá. Ele sabe que não tenho esse dinheiro. Mas Alguém está cuidando disso para mim. Amanhã cedo, vou iniciar a viagem até Acandi. Não posso desistir agora. Não tenho como recuar. Só vejo uma direção a seguir: a que me leva ao Panamá.”

No dia seguinte, às 7 horas, estava deixando a residência do irmão Jairo, onde dormi uma noite tranquila. Na saída, a esposa dele me deu uma marmita com o almoço, dizendo que o caminho é quase sempre deserto e não tem onde comprar comida. Fizemos uma foto de despedida e no último adeus o irmão disse que certamente eu iria ficar perdido nas trilhas das florestas entre Unguia e Acandi. E, preocupado, acrescentou: “Querido irmão George, você precisa de um guia. Pode iniciar a viagem sozinho. Mas vou fazer o possível para lhe enviar alguém para ajudá-lo nessa difícil travessia. Que Deus o acompanhe até que chegue apoio.”

Assim, deixei Unguia para enfrentar aquele que provavelmente seria meu último dia por estradas dentro do território colombiano. Este percurso pelas matas do Golfo de Darién consiste em mais um passo não somente em busca de terras panamenhas – estou fixando meu olhar bem mais longe: Atlanta.

Tenho no momento mais uma montanha para afastar do caminho da conquista do meu sonho: uma floresta tomada por guerrilheiros.

Pela fé, prossigo na certeza de que Deus está aqui. Venha comigo! Meu destino é Atlanta, na Geórgia, Estados Unidos. Até breve...

(George Silva de Souza, atleta e autor livro Conquistando o Brasil)

Nota: O Atleta da Fé, George Silva, está enfrentando grandes dificuldades financeiras para prosseguir nessa missão esportivo-evangelística e precisa urgentemente fazer uma revisão na bicicleta. Ele não me pediu isso, mas eu convido: se você puder colaborar de alguma maneira, escreva para ele: georgepalestras@yahoo.com.br